quinta-feira, 21 de abril de 2016

Nós precisamos do feminismo

O machismo é assustador. Causa medo, pânico, oprime, violenta, causa dor, causa morte, é um dos retratos mais cruéis do patriarcado na formação dos espaços sociais. Não é a toa que sempre vemos estampados nas capas dos periódicos casos brutais de feminicídios que cerceiam a vida das mulheres.

Por Walmyr Junior  Do Jornal do Brasil

Infelizmente, não tem lugar para o machismo acontecer. Porém essa semana vimos uma resposta à essa estrutura sistêmica da cultura machista em um ambiente que geralmente produz o saber e se julga ser o espaço pensante da sociedade. Estamos falando dos atos nas redes sociais e no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RIO).
Na UFRRJ, as estudantes se manifestaram exigindo uma política de segurança no campus. Centenas de mulheres já sofreram estupros, abusos e diversas violências sexuais, por não terem nenhum aparato de segurança na área.  As alunas da Rural acusam a própria instituição pelo problema e pela omissão, atualmente tem pouco mais de 40 vigilantes para fazer a segurança de 10.683 estudantes, que estudam nos três turnos dentro do compus que fica em Seropédica.

Em protesto, as estudantes criaram um movimento virtual pela rede de relacionamento Facebook e criaram as paginas e hastags #abusoscotidianos e #meavisaquandochegarque já têm mais de 10 mil curtidas cada.

Na PUC-Rio, estudantes, funcionárias e professoras estão provocando uma profunda ressignificação da militância universidade. Com a hastag #?NósprecisamosdofeminismonaPUC? as mulheres da PUC-Rio reagem a uma politica machista da atual gestão do Diretório Central Estudantil (DCE), que se perdura a mais de um ano, segundo o coletivo de mulheres da PUC.
As alunas afirmam que sofrem desde perseguições individuais a problemas institucionais. Com a hashtag, casos de machismo foram denunciados, casos estes dentro e fora das salas de aula. Comopor exemplo um caso relatado por uma aluna de Relações Internacionais  que postou o seguinte no Facebook:
“#NósPrecisamosDoFeminismoNaPuc porque não quero mais ser encurralada contra a parede em uma abordagem invasiva de assédio durante as festas da vila, nem quero que algo parecido aconteça com nenhuma mulher na PUC”
As denúncias ocorreram em resposta a palestra organizada pelo DCE chamada “O feminismo e a desconstrução dos valores morais da mulher” com a presença da ex-femen Sara Winter.
Para as estudantes “é assustador que o Diretório Central Estudantil que carrega o nome de Raul Amaro (ex-aluno da PUC morto e torturado nos porões da ditadura militar) se sinta confortável em chamar uma pessoa que se declara abertamente da ditadura como Sara, para dentro de um espaço de ensino. Ainda por cima para palestrar sobre feminismo, assunto que ainda nos é muito caro na Universidade” afirmou a estudante.
Segundo uma integrante do Coletivo de Mulheres da PUC “a campanha através da hashtag serviu para elucidar àqueles que alegam que o feminismo é desnecessário, que estamos muito longe de uma equidade social, ou quais desafios estão colocados às mulheres e a nossa participação no que chamamos democracia”.
Sara Winter vem carregando um fama nacional de desqualificar as lutas feministas. Em suas falas se refere às feministas enquanto doentes, realiza palestras junto com a psicóloga da cura gay, além de ser grande apoiadora do deputado federal Jair Bolsonaro, considerado um inimigo político das mulheres, gays e negros no Brasil.
Como o Facebook e o WhatsApp, vemos uma articulação macro que proporciona uma unificação entre as mulheres em vários tipos de lutas contra as opressões. Iniciativas como essas devem ser reproduzidas em todos os ambientes, para que assim, possamos um dia falar que vivemos em um mundo sem machismo.

*Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ

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