A polícia do Paraná desmontou uma
rede de exploração sexual de menores em Londrina. Três homens foram presos: um
delegado-chefe da Receita Estadual, um investigador e um ex-assessor do
governo. Eles foram presos após uma denúncia de pelo menos 20 jovens vítimas do
esquema.
A Polícia Civil de Londrina, no
norte do Paraná, e o Ministério Público (MP) investigam uma suposta rede de
prostituição na cidade. Entre as mais de 20 vítimas de exploração sexual estão
adolescentes e crianças. No passado sábado (14), foram presos pelo Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) três suspeitos: o fotógrafo e
ex-assessor do governo estadual Marcelo Caramori, preso no dia 29 de janeiro e
solto no dia 10 de fevereiro, o delegado da Receita Estadual, José Luiz
Favoretto Pereira, e o investigador da Polícia Civil Jeferson Pereira dos
Santos.
Na foto, Marcelo Caramori deixa a prisão no último dia 10;
ele seria preso novamente dois dias depois
De acordo com o delegado do Gaeco, Hernandes Cezar Alves,
todas as vítimas identificadas eram menores de idade na época do aliciamento.
Conforme ele, dezoito delas tinham entre 14 e 17 anos e outras duas tinham
apenas 13 anos. "Uma delas teria saído com o auditor e a outra com o fotógrafo".
Uma das vítimas, atualmente com
19 anos e que tinha 14 anos na época, contou em entrevista à RPC detalhes sobre
como eram os encontros. Ela disse ter conhecido Favoretto depois de sair com o
auditor da Receita Estadual Luiz Antonio de Souza, preso desde janeiro, quando
foi flagrado com outra menor em um motel. “Uma vez foi com o Luiz e uma vez com
o José Luiz”, lembra. “Ele me buscou na minha casa e me levou para o motel.
Pagou R$ 200”, detalha ao apontar que os homens pediam o contato de outras
adolescentes, “de amigas bonitas”.
Esta é a terceira etapa de
investigações sobre a prática de crimes de favorecimento e exploração sexual de
menores em Londrina. De acordo com o delegado do Gaeco, Ernandes César Alves,
adolescentes que foram vítimas de exploração sexual identificaram o auditor
fiscal e o policial como clientes.
“Descobrimos que eles eram
usuários do sistema, ou seja, também exploravam sexualmente meninas menores de
18 anos. Mesmo sendo clientes, responderão pelos mesmos crimes dos agenciadores”,
aponta. Os dois foram presos por favorecimento à prostituição. A polícia alega
que os suspeitos têm vítimas em comum.
Alves contou que Souza responde,
atualmente, a três denúncias por exploração sexual e Caramori a um processo. O
delegado pretende finalizar mais um inquérito contra o auditor nesta
quinta-feira (19) e outros três inquéritos, contra Caramori, Santos e Pereira,
até o início da próxima semana. "Um processo para cada suspeito",
observou.
O ex-delegado da Receita Estadual foi preso no último sábado
(14)
Caso Colli
Hernandes Cezar Alves ficou
responsável por finalizar as investigações contra o advogado Marcos Colli em
2013. O ex-presidente do PV em Londrina é acusado de estuprar diversas crianças
e adolescentes e filmar e fotografar os abusos. Colli, condenado a quase 300
anos de prisão em quatro processos, segue detido em um presídio de Piraquara
(região metropolitana de Curitiba). O delegado do Gaeco vê semelhança entre o
caso Colli e o esquema de exploração sexual investigado atualmente.
"Repercute e causa certa indignação pois, em ambos os casos, as vítimas
são vulneráveis", argumentou.
O delegado ressaltou, ainda, que
tanto as vítimas de Colli quanto as meninas do atual esquema são carentes,
"de um poder aquisitivo bem baixo". "As vítimas fazem parte de
famílias pobres e, por isso, acabaram se submetendo ao aliciamento para ganhar
dinheiro", destacou.
Também integram o atual esquema
de exploração sexual pelo menos cinco garotas maiores de idade que
intermediavam o encontro entre os suspeitos e as adolescentes.
Defesa
O advogado de José Luiz Favoretto
Pereira, Rafael Garcia, nega que o cliente tenha tido qualquer envolvimento ou
relacionamento com adolescentes. “Ainda não tivemos acesso ao processo, e por
isso, não sabemos qual foi os motivos da prisão. Por ora, o meu cliente vai
permanecer em silêncio, pois ele alega que não teve envolvimento com nenhuma
adolescente”, argumenta o advogado.
Caramori retornou para a prisão
neste sábado porque, segundo o delegado do Gaeco, o fotógrafo omitiu
informações no depoimento que prestou ao MP-PR. “Descobrimos que Caramori
manteve relações sexuais com uma adolescente que tem menos de 14 anos. O fotógrafo
não relatou esse relacionamento ao prestar depoimento e, por isso, foi preso
por estupro de menor”, pontua o delegado Ernandes César Alves. O advogado do
ex-assessor, Leonardo Vianna, foi procurado pelo G1, mas não foi localizado
pela para comentar sobre a prisão.
O policial civil preso por
suspeita de favorecimento à prostituição será levado para Delegacia de Furtos e
Roubos de Veículos em Curitiba. Em nota, a Polícia Civil informou que afastou o
investigador do cargo e ele responderá a processo administrativo disciplinar
junto à Corregedoria Geral da Polícia Civil. Se, no fim do processo, a Justiça
comprovar que o policial tem envolvimento no caso e o Conselho da Polícia
entender que o investigador é culpado, ele poderá ser demitido.
Fonte: Globo
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