sábado, 19 de janeiro de 2013

Um gesto pouco religioso


Os evangelhos apresentam Jesus concentrado, não na religião, mas na vida. Não é só para pessoas religiosas e piedosas. É também para quem ficou decepcionado pela religião, mas sentem necessidade de viver de forma mais digna e ditosa.


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 2, 1-11 que corresponde ao II Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

“Havia um casamento na Galileia”. Assim começa este relato em que nos é dito algo inesperado e surpreendente. A primeira intervenção pública de Jesus, o Enviado de Deus, não tem nada de religioso. Não acontece num lugar sagrado. Jesus inaugura sua atividade profética “salvando” uma festa de casamento que podia ter terminado muito mal.

Naquelas aldeias pobres da Galileia, a festa de casamento era a mais apreciada por todos. Durante vários dias, familiares e amigos acompanhavam os noivos comendo e bebendo com eles, bailando danças festivas e cantando canções de amor.

O evangelho de João diz-nos que foi no meio de um destes casamentos onde Jesus deu o “primeiro sinal”, o sinal que nos oferece a chave para entender toda a Sua atuação e o sentido profundo da Sua missão salvadora.

O evangelista João fala-nos de “milagres”. Aos gestos surpreendentes que realiza Jesus, chama-lhes sempre “sinais”. Não quer que os seus leitores fiquem no que possa haver de prodigioso na sua atuação. Convida-nos a que descubramos o seu significado mais profundo. Para isso oferece-nos algumas pistas de carácter simbólico. Vejamos apenas uma.

A mãe de Jesus, atenta aos detalhes da festa, dá-se conta de que “não lhes resta vinho” e diz ao seu Filho. Tais vezes, os noivos, de condição humilde, viram-se inundados pelos convidados. Maria está preocupada. A festa está em perigo. Como pode terminar um copo de água sem vinho? Ela confia em Jesus.

Entre os camponeses da Galileia o vinho era um símbolo muito conhecido da alegria e do amor. Sabiam-no todos. Se na vida falta a alegria e a falta de amor, em que pode terminar a convivência? Maria não se engana. Jesus intervém para salvar a festa proporcionando vinho abundante e de excelente qualidade.

Este gesto de Jesus ajuda-nos a captar a orientação de toda a sua vida e o conteúdo fundamental do seu projeto do reino de Deus. Enquanto os dirigentes religiosos e os mestres da lei se preocupam com a religião, Jesus dedica-se a fazer mais humana e leve a vida das pessoas.

Os evangelhos apresentam Jesus concentrado, não na religião, mas na vida. Não é só para pessoas religiosas e piedosas. É também para quem ficou decepcionado pela religião, mas sentem necessidade de viver de forma mais digna e ditosa. Por quê? Porque Jesus contagia fé num Deus em quem se pode confiar é com Ele que se pode viver com alegria, e porque atrai para uma vida mais generosa, movida por um amor solidário.
Fonte: Ihu


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