“Vagabunda!” A
palavra ecoou aos gritos em pleno horário nobre, acompanhada de vários outros
palavrões daqueles típicos contra mulher: piranha, prostituta etc, toda a lista
clichê com a qual já estamos acostumadas. Enquanto uns tapas acompanhavam os
xingamentos, o coro formado pelos milhões de telespectadores de “Avenida
Brasil” gritava: “vadia! Bem feito!!!!” E morria de gargalhar.
Motivo de tanto ódio: Carminha, a vilã falso-moralista
interpretada por Adriana Esteves foi finalmente desmascarada. Carminha é a nova
Geni. “Ela é feita para apanharr, ela é boa de cuspir”.
A obra é de ficção e Carminha é uma personagem psicopata.
Mas é curioso ver como a violência verbal sempre ecoa contra as mulheres na
televisão (e na vida real, difícil saber quem imita quem nesse caso). A cena
acontece em um momento em que se discute o racismo na obra de Monteiro Lobato e
em muitas outras esferas. O rapper Emicida publicou há semanas um texto
protestando contra a forma como as mulheres negras são tratadas no programa
“Zorra Total.”
Alguns chamam quem reclama de palavras como macaco (usada
para se referir a negros), piranha (para falar de mulheres) e por aí de
politicamente corretos chatos. Outros falam em censura e pronto. O circo está armado e todo mundo já está
cansado de conhecê-lo.
O mais curioso. As mulheres, na vida real, quando querem
ofender outras, não pensam duas vezes:
as chamam de vadias, vagabundas. “Aquela vagabunda deu em cima do meu
namorado”. Quem nunca disse isso? Fazemos isso na vida real, logo depois de nos
unirmos de orgulho e apoiarmos a “Marcha das Vadias”, que aconece há dois anos
em várias capitais e prega, entre outras coisas, que as moças se vistam como
quiserem, tenham o comportamento sexual que escolherem, sem serem xingadas ou
julgadas. “Eu faço o que quero e ai de quem me reprimir, mas aquela menina que
eu não gosto é uma baita de uma vagabunda.”
Dois pesos, duas medidas. A gente vê por aqui. E não é só na
televisão.
Fonte Nina Lemos (o Estadão)
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