terça-feira, 16 de outubro de 2012

O tapa na cara de Carminha e as mulheres “vadias” da vida real


Carminha, a vilã falso-moralista interpretada por Adriana Esteves foi finalmente desmascarada. Carminha é a nova Geni. “Ela é feita para apanhar, ela é boa de cuspir”. A obra é de ficção e Carminha é uma personagem psicopata. Mas é curioso ver como a violência verbal sempre ecoa contra as mulheres na televisão (e na vida real, difícil saber quem imita quem nesse caso).



“Vagabunda!”  A palavra ecoou aos gritos em pleno horário nobre, acompanhada de vários outros palavrões daqueles típicos contra mulher: piranha, prostituta etc, toda a lista clichê com a qual já estamos acostumadas. Enquanto uns tapas acompanhavam os xingamentos, o coro formado pelos milhões de telespectadores de “Avenida Brasil” gritava: “vadia! Bem feito!!!!” E morria de gargalhar.
Motivo de tanto ódio: Carminha, a vilã falso-moralista interpretada por Adriana Esteves foi finalmente desmascarada. Carminha é a nova Geni. “Ela é feita para apanharr, ela é boa de cuspir”.
 
A obra é de ficção e Carminha é uma personagem psicopata. Mas é curioso ver como a violência verbal sempre ecoa contra as mulheres na televisão (e na vida real, difícil saber quem imita quem nesse caso). A cena acontece em um momento em que se discute o racismo na obra de Monteiro Lobato e em muitas outras esferas. O rapper Emicida publicou há semanas um texto protestando contra a forma como as mulheres negras são tratadas no programa “Zorra Total.”
Alguns chamam quem reclama de palavras como macaco (usada para se referir a negros), piranha (para falar de mulheres) e por aí de politicamente corretos chatos. Outros falam em censura e pronto. O  circo está armado e todo mundo já está cansado de conhecê-lo.
O mais curioso. As mulheres, na vida real, quando querem ofender outras, não pensam duas vezes:  as chamam de vadias, vagabundas. “Aquela vagabunda deu em cima do meu namorado”. Quem nunca disse isso? Fazemos isso na vida real, logo depois de nos unirmos de orgulho e apoiarmos a “Marcha das Vadias”, que aconece há dois anos em várias capitais e prega, entre outras coisas, que as moças se vistam como quiserem, tenham o comportamento sexual que escolherem, sem serem xingadas ou julgadas. “Eu faço o que quero e ai de quem me reprimir, mas aquela menina que eu não gosto é uma baita de uma vagabunda.”
Dois pesos, duas medidas. A gente vê por aqui. E não é só na televisão.

Fonte Nina Lemos (o Estadão)

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