quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A cada hora, uma mulher de BH recorre à Justiça pedindo proteção contra agressões


A cada hora que passa, uma mulher agredida, ameaçada ou torturada, recorre à Justiça para se proteger dos ataques de um homem. Em Belo Horizonte, até o início deste mês, foram feitos 7.400 pedidos de medidas protetivas, segundo dados da Delegacia de Mulheres da capital. Entre janeiro e agosto, o Disque Direitos Humanos recebeu 108 ligações para denunciar crimes deste tipo. O número já supera e muito o registrado em todo o ano passado, quando foram computadas 59 chamadas.


 As estatísticas são consideradas "lamentáveis" pela superintendente da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar de Belo Horizonte, Heloísa Combat. Ela avalia que, mesmo com os avanços conquistados com a aprovação da Lei Maria da Penha, que tem como objetivo garantir a punição rigorosa dos agressores, ainda há muito trabalho pela frente. Segundo Heloísa, "o judiciário sozinho não resolve nada".
   É necessário o envolvimento da sociedade como um todo, um trabalho conjunto principalmente com as escolas. Precisamos impedir e mudar a cultura machista que ainda faz parte da formação de muitos homens.
 
Falta de infraestrutura
Em alguns casos, nem mesmo a lei é suficiente para impedir a ação do agressor. No ano passado, um crime chocou Belo Horizonte: a cabeleireira  Maria Islaine de Morais foi morta a tiros pelo ex-companheiro dentro do salão em que trabalhava. Cerca de oito boletins de ocorrência registrados e a liminar que impedia a aproximação do antigo parceiro não bastaram para impedir o crime. A recorrência de casos como este fez com que a sociedade questionasse a eficácia da Justiça brasileira. Heloísa afirma que "confia na lei", mas que ainda é necessária a adoção de estrutura e mecanismos suficientes para garantir seu funcionamento,
 — Faltam delegados, investigadores, servidores. O nosso sonho é que as varas da Lei Maria da Penha funcionem como juizados, em horário integral. Atualmente, precisamos do dobro de juízes e servidores para melhorar o atendimento.
Mulheres como Maria, que prefere não revelar seu nome verdadeiro, seguem revoltadas com a atuação da polícia e da Justiça em casos de violência doméstica. Depois de 18 anos de um casamento conturbado, em que as brigas e desconfianças eram frequentes, ela decidiu colocar um ponto final. Inconformado, o marido dela colocou a casa onde os dois moravam abaixo: quebrou tudo que viu pela frente, e por fim, agrediu a própria mulher. A confusão foi levada para a delegacia, onde ela registrou queixa. Ao ir embora tranquila para casa, ela não imaginava o que aconteceria: o agressor havia sido liberado pela polícia, e, de carro, conseguiu chegar antes dela. Violento, ele se recusava a deixá-la entrar em casa.
— Ele era doente. Tinha ciúmes da minha mãe, eu não podia ter amigas. Para mim, a delegacia funcionou apenas como fachada, não deu proteção. Depois que ele entrou em casa, foi preciso um cerco policial para tirar ele de lá.
A não aceitação com o rompimento do relacionamento é um dos principais motivos que levam os homens a agirem de forma violenta contra as ex-companheiras, segundo a titular da Delegacia de Atendimento à Mulher, Elizabeth Rocha. Ela ressalta que há projetos em andamento que pretendem impedir a reicindência da agressão, determinando por exemplo, a prisão preventiva daquele que violar a medida protetiva. No entanto, Elizabeth reconhece que o Estado ainda não está preparado para garantir o cumprimento destas medidas.
— É impossível que um PM fique na porta da mulher durante 24 horas. O Estado não está aparelhado para isso. É preciso planejamento, estudo e o tratamento dos próprios agressor, que muitas vezes não enxerga o ciclo de violência em que está.

  

Fonte:  novidadesdapoliciacivil .com.br

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