segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Contra o poder do homem


Por José Antonio Pagola
Jesus destrói na raiz o fundamento do sistema patriarcal sob todas as suas formas de controlo, submissão e imposição do homem sobre a mulher. Não só no matrimonio; mas em qualquer instituição civil ou religiosa. Não é possível abrir caminhos para o reino de Deus e da Sua justiça sem lutar ativamente contra o sistema patriarcal.

Os fariseus colocam a Jesus uma pergunta para por à prova. Desta vez não é uma questão sem importância, mas um fato que faz sofrer muito as mulheres da Galileia e é motivo de vivas discussões entre os seguidores de diversas escolas rabínicas: "É lícito ao homem divorciar-se da sua mulher?".
Não se trata do divórcio moderno que conhecemos hoje, mas da situação em que vivia a mulher judia dentro do matrimonio, controlado pelo homem. Segundo a lei de Moisés, o marido podia quebrar o contrato matrimonial e expulsar de casa a sua esposa. A mulher, pelo contrário, submetida em tudo ao homem, não podia fazer o mesmo.
 
A resposta de Jesus surpreende a todos. Não entra nas discussões dos rabinos. Convida a descobrir o projeto original de Deus, que está por cima das leis e normas. Esta lei "machista", em concreto, foi imposta ao povo judeu pela "dureza de coração" dos homens que controlam as mulheres e as submetem à sua vontade.
Jesus aprofunda o mistério original do ser humano. Deus "criou homem e mulher". Os dois foram criados em igualdade. Deus não criou o homem com poder sobre a mulher. Não criou a mulher submetida ao homem. Entre homens e mulheres não deve haver dominação por parte de ninguém.
Desde esta estrutura original do ser humano, Jesus oferece uma visão do matrimonio que via além de tudo que estava estabelecido pela "dureza de coração" dos homens. Mulheres e homens uniram-se para "ser uma só carne" e iniciar uma vida partilhada na mútua entrega sem imposição nem submissão.
Este projeto matrimonial é para Jesus a suprema expressão do amor humano. O homem não tem direito algum de controlar a mulher como se fosse dono. A mulher não aceitou viver submissa ao homem. É o próprio Deus quem os atrai a viver unidos por um amor livre e gratuito. Jesus conclui de forma rotunda: "O que Deus uniu que não o separe o homem".
Com esta posição, Jesus destrói na raiz o fundamento do sistema patriarcal sob todas as suas formas de controlo, submissão e imposição do homem sobre a mulher. Não só no matrimonio; mas em qualquer instituição civil ou religiosa.
 
Temos de escutar a mensagem de Jesus. Não é possível abrir caminhos para o reino de Deus e da Sua justiça sem lutar ativamente contra o sistema patriarcal. Quando iremos reagir na Igreja com energia evangélica contra tanto abuso, violência e agressão do homem sobre a mulher? Quando iremos defender a mulher da "dureza de coração" dos homens?

Fonte: José Antonio Pagola (em Adital)

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