Neste próximo domingo ( terceiro domingo de outubro), as
Irmãs Oblatas celebram a “Festa do Santíssimo Redentor”. Celebrar a festa do
Santíssimo Redentor é fazer memória da ação do Goel, o Deus resgatador em nossa
realidade. Reconhecer os gritos das mulheres e suas esperanças é fazer a experiência da descida, do deslocamento, a experiência de saída de nós mesmas, a experiência do Goel.
É recordar que este Deus escuta o clamor do povo e os gritos que
brotam da humanidade. É Ele quem ouve, conhece e desce ao encontro do povo que
clama.
“Muito tempo depois, o rei do Egito morreu. Os filhos de
Israel gemiam sob o peso da escravidão, e clamaram; e do fundo da escravidão, o
seu clamor chegou até Deus.” (Ex 2, 23)
Reconhecer, pois, os
gritos das mulheres e suas esperanças é fazer a experiência da descida, do
deslocamento, a experiência de saída de nós mesmas, a experiência do Goel.
Nesse sentido, queremos recordar algumas mulheres bíblicas que não estiveram
indiferentes ao clamor de seu povo. Por escutar os gritos estas mulheres,
geradoras de vida, ultrapassaram limites e romperam as leis pré estabelecidas.
Estamos falando das parteiras, as mulheres parteiras, que
aparecem em Ex 1, 8-2,10. Neste aparece uma ordem de opressão, fruto dos
problemas vivenciados pelo povo de Israel em terra egípcia. A ordem é: “...
jogai no rio todo menino que nascer. Mas deixai viver as meninas.”
A narrativa começa falando que “levantou-se sobre o Egito um
novo rei...” (Ex 1, 8). Este rei percebe que o povo aumenta e teme isto. Assim,
com medo de que o povo explorado tome consciência de sua própria situação o rei
aumenta cada vez mais os trabalhos forçados para que o povo não tenha condições
de se organizar e lutar.
Desse modo, o tema dominante na narrativa é o crescimento da
população hebréia. O faraó fala ao povo, tomando algumas medidas com relação ao
crescimento da população e estes obedecem. Mas o faraó também fala às parteiras
pedindo que deixe viver as meninas e mate os meninos, mas elas desobedecem,
elas transgridem a lei estabelecida em favor da vida.
Em Ex 1, 15 a atenção se concentra em duas mulheres que dão
vida, pois dois sentidos: por profissão, elas são parteiras, e por meio de sua
ação elas desafiam o edito de morte do Faraó.
Elas são Sefra e Fuá. É interessante perceber que em toda a narrativa em
momento algum se mostra a preocupação em falar os nomes dos homens, mas os
nomes destas mulheres são citados.
O Faraó pede que elas joguem no rio todo menino e deixe
viver as meninas. Este verbo jogar era antigamente um método comum de se dispor
de crianças não desejadas. Mas, estas mulheres “temem a Deus”, e isto não
significa ter medo de Deus, pelo contrário, e muito mais amplo, isto quer dizer
se voltar para o mysterium tremendum, ou seja, se ater aos princípios básicos
da ética em harmonia com a vontade de Deus. Assim, a ação destas mulheres
parteiras é nada mais que a ação do Goel expressa através delas. Deus resgata o
povo através das mãos de mulheres parteiras. Além destas parteiras aparecem
ainda outras mulheres como a filha de Levi, a irmã de Moises, que fica a
distancia observando os acontecimentos, a filha do Faraó... Enfim, estamos
encontrando mulheres que se articulam e fazem a vida ser resgatada e garantida.
É com estas mulheres que queremos estar nestes dias em preparação para a festa
do Santíssimo Redentor.
Celebrar nossa festa recordando a ação do Redentor entre nós
através destas mulheres coloca-nos em movimento. Somos convidadas a nos
encontrar com estas mulheres parteiras e geradoras de vida e assim nos
encontrarmos conosco mesmas. Este é o convite que fazemos. Aprofunde em
comunidade ou em equipe este texto de Ex 1, 8-2, 10. Adentre o texto, silencie,
escute os gritos e as esperanças que brotam de nossa realidade. Perguntemo-nos:
temos sido mulheres (e homens) parteiras? Temos gestado vidas e garantido que
elas prevaleçam apesar de todo edito de morte? Como temos sido mulheres
parteiras entre nós? Como temos nos articulado para fazer a vida prevalecer?
Fica o convite... Em clima orante... Adentrando e
questionando-nos. Celebrando esta festa em sintonia com nossas companheiras de
caminho: as mulheres em situação de prostituição. Algumas falas nos acompanhem
nestes dias:
“Somos a beleza de Deus”.
“Eles falam que não posso mais, mas eu vou, isso é
determinante para mudar... foi o toque do amor”.
“Eu cheguei ao projeto sem saber ler e escrever e hoje sei
fazer tudo, ando de ônibus para todos os lugares.”
“Tudo que eu ganhei eu compartilho com vocês, tudo que eu to
sentindo de alegria eu quero que Deus dê a vocês agora...”
Fica ainda este Salmo de louvor:
Salmo de louvor
Bendito é tu, Olorum,
Que criaste céus e terra,
Que criaste a mulher, companheira de luta.
Bendito és tu, Olorum,
Que criaste as mulheres geradoras
E defensoras da vida,
Como as parteiras hebréias, protagonistas,
Na história da formação do seu povo,
Como Sara, Débora, Judite, Agar e muitas outras.
Bendito és tu. Olorum, Pai e Mãe,
Pela mulher capaz de a cada manhã gerar a vida,
Alimentando a esperança,
Enquanto lutam e resistem
Ao poder estabelecido,
Denunciando todo tipo de escravidão.
Bendito és tu, Olorum,
Pela mulher negra e indígena,
Como forte sinal de resistência,
Lutam com alegria.
Axé, Imaíra!
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