sábado, 14 de maio de 2016

Diaconato feminino não é mais tabu. Leigos católicos questionam a hierarquia

O presidente dos bispos alemães, arcebispo de Freiburg, Mons. Robert Zollitsch, disse que o diaconato feminino "não é mais tabu". O tema está também inflamando o mundo católico estadunidense, onde as mulheres que desempenham um ministério leigo na Igreja, segundo estudo de 2015 do Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado, da Universidade de Georgetown, representam quase 80% de todos os ministros leigos, mas permanecem, em grande parte, invisíveis.

Entre avanços e retrocessos (principalmente pela hierarquia da Igreja), o tema do diaconato feminino caminhou, lentamente, especialmente no mundo católico, como questão urgente. Comprova-o claramente o sucesso do "Dia da Diaconisa", realizado em Münster, Alemanha, em 29 de abril, com a participação de mais de 250 pessoas. Organizado pela Katholische Frauengemeinschaft Deutschlands (Comunidade Católica Feminina da Alemanha, KFD), pela Katholische Deutsche Frauenbund (Federação Católicas Feminina alemãs, KDFB), pela Netzwerk Diakonat der Frau (Rede Feminina pelo Diaconato) e pela Zentralkomitee der Deutschen Katholiken (Comitê Central dos Católicos Alemães, ZdK, a mais importante organização leiga do País), teve como tema do ano "Observar e Agir".

A reportagem é de Ludovica Eugenio, pubçlicado por Adista Notizie, n¬º. 18, 14-05-2016. A tradução é de Ramiro Mincato.

"Nunca fomos tão numerosos! E seríamos ainda mais se fosse possível acomodar mais pessoas", disse satisfeito o presidente da ZdK, Thomas Sternberg. "O título visava estimular a sensibilidade com relação à responsabilidade diaconal dos católicos das comunidades, para a admissão de mulheres ao ministério diaconal sacramental na Igreja Católica". Um passo necessário, ele disse, porque "sem o empenho das mulheres o trabalho diaconal na Igreja e nas comunidades entraria em colapso". "Sobretudo as mulheres devem assumir a responsabilidade diaconal, em nível local", acrescentou Maria Theresia Opladen, presidente nacional da KFD. "Muitas centralizam suas atividades no interesse pelos outros e pela justiça social". E muitas sentem a vocação ao diaconato: "Estas mulheres vivem sua vocação, sem qualquer reconhecimento da Igreja. É um fato doloroso, e é uma perda para a Igreja", observou Irmentraud Kobusch, presidente da Rede Feminina pelo Diaconato, que anunciou ter, no próprio programa, um curso de formação para "mulheres no serviço diaconal". O "Dia da Diaconisa", que teve a participação de docentes universitários e expoentes da Igreja, incluindo Gaby Hagman, diretor da Caritas em Frankfurt, nasceu em 1997, e desde então, acontece sempre no dia 29 de abril, dia de comemoração de Santa Catarina de Siena.

Um tema cada vez mais na ordem do dia

O tema do diaconato feminino aparece cada vez mais na ordem do dia, também para a hierarquia da Igreja. Foi, contudo, ainda o Card.


Carlo Maria Martini, em 1994, que pronunciou as palavras de abertura neste sentido, depois que João Paulo II, em sua carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, tinha descartado a possibilidade de mulheres receberem o sacerdócio. A questão crucial era a distinção entre o diaconato feminino entendido como serviço e o diaconato como primeiro degrau das ordens Sagradas, como aquele dos homens, das quais as mulheres são excluídas. No último Sínodo dos Bispos, em outubro passado, teve muito destaque a proposta feita pelo bispo canadense de Gatineau (Quebec), ex-presidente da Conferência Episcopal, Mons. Paul-André Durocher, que em seu discurso, durante a primeira Congregação Geral, sugeriu o acesso ao diaconato e à homilia para as mulheres. "No que diz respeito ao diaconato permanente", disse ele, "que o Sínodo recomende o início de um processo que possa possivelmente abrir o acesso à ordem para as mulheres, que, segundo a tradição, não está orientada ao sacerdócio, mas ao ministério "(cf. Adista Notizie nº 35/15). Também no ano passado, o Sínodo diocesano de Bolzano, fortemente apoiado pelo bispo, Dom Ivo Muser, que deixou ampla autonomia à assembleia (cf. Adista Notizie nº 27/15), expressou-se com convicção a favor do diaconato feminino, com 79% de apoio.

O consenso, portanto, parece expandir-se também nas hierarquias, como evidencia também o percurso realizado, por exemplo, na Alemanha, pelos bispos, agora mais abertos à questão do que há alguns anos atrás. Ainda em 2011, a Conferência Episcopal tinha devolvido ao remetente uma resolução aprovada pelo ZdK (cf. Adista n. 91/11), que durante sua Assembleia Geral aprovara uma moção nesse sentido. Os delegados convocaram os católicos a aderirem a Rede Feminina para o Diaconato afirmando que, na Igreja, o diaconato é exercido por mulheres de diferentes maneiras, e é por isso que se deve abrir para elas o caminho ministerial. Alguns bispos, no entanto, sempre foram abertos à possibilidade do diaconato feminino: Mons. Franz-Josef Bode, bispo de Osnabrück e presidente da Comissão Pastoral do episcopado alemão, em 2010 abriu a hipótese do diaconato para mulheres a partir de um documento doutrinal de Bento XVI, o motu próprio Omnium in mentem, em que enfatizava a diferença entre o diaconato, presbiterato e episcopado. Para Bode, havia material para reabrir a questão das "diaconisas", das quais já falava o Novo Testamento. Em 2013, foi então o Card. Walter Kasper a propô-la para a Conferência Episcopal, num dia de estudos sobre o papel das mulheres na Igreja. Kasper falou, naquela ocasião, de uma "diaconisa" paroquial, com funções pastorais, caritativas, catequéticas e litúrgicas, não consagradas pelo sacramento da ordem, mas com uma bênção. Muitas mulheres, ressaltou, já desempenham funções diaconais, para que não se tenha que enfrentar o problema, que, aliás, é reconduzível a uma antiga tradição, remontante à Igreja no século III-IV. Ainda em 2013, o presidente dos bispos alemães, arcebispo de Freiburg, Mons. Robert Zollitsch, disse que o diaconato feminino "não é mais tabu". O tema está também inflamando o mundo católico estadunidense, onde as mulheres que desempenham um ministério leigo na Igreja, segundo estudo de 2015 do Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado, da Universidade de Georgetown, representam quase 80% de todos os ministros leigos, mas permanecem, em grande parte, invisíveis: "Essas mulheres – escreve no semanário USA National Catholic Reporter (28/4) a Irmã Christine Schenk, obstétrica e cofundadora do organismo FutureChurch - raramente desempenham funções litúrgicas e não têm o direito de pronunciar a homilia durante a missa. Nossas comunidades católicas estão privadas da força e da riqueza do Evangelho pregado através da lente feminina". FutureChurch está na vanguarda do apoio ao diaconato feminino. Criou um site dedicado, www.catholicwomendeacons.org, para encorajar as mulheres que sentem este chamado a compartilharem, com outras, seus pensamentos, e fornecerem instrumentos para a formação e o discernimento, pedindo à hierarquia da Igreja para abrirem essa discussão. Organizou um retiro, para setembro próximo, para todas que se sentem chamadas a este serviço permanente. "Para mim, tornou-se mais doloroso ouvir os padres dizerem, em voz baixa, que as mulheres devem ter funções ministeriais na Igreja, em vez de ser dito abertamente o contrário” afirma uma "candidata" para o diaconato, Natalie Terry (Ncr, 28/4). "Hoje, peço aos bispos e sacerdotes que, no seu ministério, conheceram mulheres com esta vocação, para falarem. Nós estamos falando, agora é o momento que sejam nossos bispos a fazer isso por nós".


Fonte: Ihu

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