Ao delinear o papel da mulher na
Igreja reportei-me às duas irmãs no Evangelho de Lucas que foram visitadas por
Jesus logo que entrou num povoado. Marta o recebeu em casa e logo a narrativa
descreve o comportamento das irmãs diante do Mestre. Marta se ocupava com o
serviço e as tarefas da casa e Maria ficou aos pés de Jesus escutando-lhe as
palavras.
Jesus é incisivo com Marta quando
ela questiona sua irmã: "Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por
muitas coisas..." (Lc 10,41). As duas atitudes são concretas e o autor
chama a atenção para a escuta e acolhida da palavra de Jesus. Não significa que
para o Mestre o trabalho de Marta não seja importante, diz apenas que a parte
de Maria é a fundamental e alicerça o seu gesto de serviço. E podemos a partir
da parábola de Jesus delinear não só a mulher na comunidade eclesial, mas às
duas dimensões humanas: a escuta e o serviço, que estão vinculados ao homem e à
mulher e bem simbolizados na figura das duas personagens.
Marta e Maria são a representação
efetiva das pessoas em muitas comunidades concretas em nossa realidade. As
personagens salientam em seu bojo bíblico atitudes que enfatizam a pessoa
humana, que acima de quaisquer discriminações, em muitas tradições religiosas
ocupam os mesmos espaços. Constatamos a presença de homens e mulheres à frente
de comunidades com a missão de guias, onde exercem uma forte liderança.
Porém, sentimos também em muitas
tradições religiosas o sabor doloroso do patriarcalismo e das discriminações
insensatas entre homens e mulheres. As figuras de Marta e Maria fazem sucumbir
todas as desigualdades que colocam homens e mulheres em patamares diferentes. A
comunidade eclesial é composta por seres humanos que elucidam a importância da
oração e das atitudes concretas que visam o verdadeiro seguimento a Jesus
Cristo.
O papel da mulher no meio
eclesial encara resistências e preconceitos por causa da ideologia patriarcal
que não se fundamentam e não encontram raízes na tradição cristã das primeiras
comunidades. Porém, o mais bonito é que
ao longo da história a presença de pessoas que foram capazes de superarem as
questões patriarcais mostra a presença feminina que encharca e fecunda o chão
de nossa Igreja com firmeza e
responsabilidade para com a Palavra de Vida. Marta e Maria são as figuras que
acolhem, que vivificam, que reestruturam e dão sabor as relações! São todas as
pessoas que escutam, que agem e transformam os espaços onde vivem!
A mulher encontra seu valor no
meio eclesial quando todos na comunidade eclesial, homens e mulheres, deixam de
lado as discriminações e nos propomos ao serviço ao próximo em vista daquilo
que Jesus nos deixou como exemplo. Os papéis definidos no masculino e no
feminino não mudam a história, não alteram posturas negativas, e no entanto,
homens e mulheres em parceria trazem consigo experiências diversas que
enriquecem e frutificam a Igreja.
Na figura de Marta e Maria
podemos conjugar as atitudes concretas estabelecidas em cada personagem: a
escuta atenta e a ação concreta! O papel da mulher na Igreja diante da parábola
de Jesus não pode se confinar em limitações impostas ao longo de tantos
séculos. Todos nós, sem discriminações somos parte integral na comunidade
eclesial!
Fonte: Dom Total
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