Nestes tempos conturbados, em que
golpe é a palavra do momento, muitos comparam os golpistas, os traidores da
democracia, os usurpadores com prostitutas. Alto lá! Mais respeito com aquelas
que vivem dignamente exercendo seu trabalho e que também são conhecidas como
"mulheres de vida fácil", embora saibamos que nada há de fácil na
vida dessas mulheres. Ao contrário de políticos como Eduardo Cunha, Michel
Temer, Renan Calheiros e seus seguidores, as prostitutas são, na maioria,
pessoas honestas.
Por WASHINGTON LUIZ DE ARAÚJO
Não se ouve falar de meretriz que
mande dinheiro público para a Suíça, por exemplo. Não se sabe de prostituta que
viva de vazar, com a própria voz ou com a própria grafia, os segredos que ouve
na cama. Não é rotina as "mulheres de vida fácil" saírem por aí chantageando
maridos, ameaçando-os de entregá-los às esposas, mesmo depois de terem recebido
pelo exercício de seu ofício.
Além disso, "puta" é
adjetivo usado para definir coisas boas: "Caramba, você fez um puta
trabalho!"; "Que puta bolo gostoso você fez!"; "Meu amigo, você
é um puta cara!". Que coisa boa podemos falar dos políticos corruptos que
se acumpliciaram com outros do mesmo tipo para derrubarem uma presidenta
honesta? Que um dia estavam do lado da presidenta e no outro a estavam
apunhalando pelas costas. Sinceramente, não dá para comparar isso com o
trabalho de uma prostituta, que cumpre com o tratado.
Na esteira dessa injustiça,
fala-se que o Congresso virou um puteiro. Alto lá, novamente! Um prostíbulo é
uma casa organizada, onde a prática do sexo é devidamente regrada. Há respeito
entre as prostitutas, a dona ou o dono da casa e os clientes. Já no
Congresso...
Jorge Amado, useiro e vezeiro em
utilizar prostitutas em seus belos romances, dizia que passou a frequentar o
bordel ainda criancinha, quando um tio o levava. Enquanto o tio se divertia,
ele ficava sentado no colo de uma das moças e recebia agrados como doces e
bolos. Amado sabia das coisas e nunca retratou mal uma prostituta em seus
romances. Já os políticos...
Gabriela Leite, que do estudo de
Sociologia na USP partiu para a profissão de prostituta e se transformou numa
grande ativista, líder, lutadora pelos direitos da prostituição, autora do
livro "Filha, mãe, avó e puta", afirmou em sua obra: "O maior
preconceito é porque trabalhamos com sexo. Sexo é o grande problema, é o grande
interdito das pessoas. E nós trabalhamos, fundamentalmente, com fantasia
sexual, esse é o verdadeiro motivo da existência da prostituição. É um campo
imenso. É uma babaquice dizer que só puta vende o corpo! E vender sua cabeça,
quanto custa? O operário vender seu braço, quanto custa? Todo mundo vende sua
força de trabalho, que está com seu corpo".
Gabriela, falecida em 2013,
lembrou em entrevista para a revista "TPM": "Certa vez, um
deputado chamou o outro de filho da puta, e nos defenderam, falando que a
prostituta deve ser tratada com mais respeito." Na mesma entrevista,
Gabriela afirmou que existe "filho da puta do bem e do mal", depende
da forma com que a expressão é utilizada. Sobre o filho da puta do mal, a
ativista não titubeou em exemplificar: "Renan Calheiros". E olha que
a entrevista se deu em 2007...
Fico aqui matutando: o que
pensaria Gabriela Leite sobre o momento atual de golpe à democracia, de
traições, de grave ameaça aos direitos civis? Certamente estaria bradando:
"Mais respeito com as putas. Não nos comparem com estes políticos
golpistas".
Fonte: www.brasil247.com
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