Eram apenas seis ministras
mulheres, agora não há mais nenhuma. Confirmados os nomes do gabinete
ministerial do Governo Temer, o fato, inédito desde o mandato do ditador
Ernesto Geisel (1974-1979), chamou atenção. Com seus 22 ministros, Temer
quebrou uma tendência que vinha crescendo desde que o último militar a ocupar o
Planalto, João Figueiredo (1979-1985), nomeou Esther de Figueiredo Ferraz para
a pasta de Educação, tornando-a a primeira ministra da história do Brasil.
Tímida nos mandatos de Fernando
Henrique Cardoso, quando apenas quatro ministras foram nomeadas, presença
feminina na Esplanada aumentou nos Governos petistas. Durante os anos Lula, foram
11 ministras, com Dilma, 15. A própria presidenta afastada, aliás, ganhou
relevância no Executivo ao comandar as pastas de Minas e Energia e Casa Civil.
A ausência de mulheres na
composição do Governo Temer chega também em um momento simbólico da luta
feminista em todo o Brasil. No ano passado, na esteira da reação a um projeto
no Congresso que complica o acesso aborto legal no país, a mobilização de
mulheres nas ruas foi a maior em anos e as hashtags #MeuPrimeiroAssédio e
#MeuAmigoSecreto, que denunciaram abusos escamoteados por medo, ganharam as
redes. Outra campanha, a #AgoraÉQueSãoElas, cobrava especificamente maior
participação de mulheres na sociedade.
As reações ao gabinete de Temer
não demoraram nesta quinta-feira e explicitaram o descompasso entre o anúncio e
uma agenda em ascensão. Em seu Facebook, a deputada estadual Manuela D’Ávila
(PCdoB-RS), ironizou o fato de o novo ministério não ter presenças femininas:
“Até agora nenhuma mulher ministra. Mulheres apenas quando belas, recatadas e
do lar”, fazendo referência a uma reportagem em que Marcela Temer, mulher do
presidente interino, era descrita como “bela, recatada e do lar”. Em um momento
em que campanhas exigem maior participação e respeito à mulher na sociedade
brasileira, a ausência de ministras anda em descompasso com a voz das ruas.
Uma das mais influentes ONGs
pró-ativismo feminino, o Think Olga, também se manifestou. O grupo usou uma
imagem do ministério de Dilma onde as mulheres são apagadas da foto para
prometer uma resposta nas ruas. "Lamentamos, mas não seremos combatidas
pelo retrocesso. As mulheres vão mostrar seu poder nas ruas/nas urnas/na
luta".
Fonte: El Pais
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