Você provavelmente já sabe, mas
não custa repetir: o mundo vive hoje uma das piores crises de refugiados de sua
história. Mais afetadas pela situação de vulnerabilidade em que se encontram,
as mulheres mais sujeitas à violência do que os homens. Elas correm o risco
serem violentadas e estupradas tanto nos conflitos em seus locais de origem
quanto no trajeto até os países que irão - ou não - acolhê-las.
Além disso, muitas vezes essas
mulheres viajam junto com os filhos e sem seus companheiros, o que torna a
jornada mais difícil e perigosa.
Em homenagem ao Dia das Mães,
escolhemos algumas histórias emocionantes de mulheres refugiadas e de seus
filhos (biológicos ou do coração).
Odile
"Eu sou do Congo, de
Brazzaville. Tenho seis filhos e costumava trabalhar vendendo frutas e verduras
no mercado", conta Odile à ACNUR, Agência para Refugiados da ONU.
Ela, que estava sozinha quando
deu à luz o primeiro filho, resolveu que não queria que outras mulheres
passassem pela mesma situação. "Isso me deu coragem para ajudar outras
mulheres a terem seus filhos em situações que não são as ideais."
Em 1999, Odile deixou o Congo e
foi para o Gabão. Antes de chegarem ao país, ela e seus seis filhos vagaram
durante um ano pelas selvas da África Central. "Cheguei a me ajoelhar na
frente dos soldados e pedir para que eles me levassem e poupassem meus
filhos", contou ela ao Huffington Post.
No caminho, ela fez partos de
mulheres que também fugiam do conflito. "Essas situações me ensinaram a
ser corajosa, e nada me amedronta agora", contou ela à ONU.
Dez anos depois ela se mudou para
Austin, no Texas. Nos EUA, ela conta que lutou muito para sobreviver como mãe
solteira e com poucas oportunidades de emprego. Atualmente, ela trabalha na
Open Arms (Braços Abertos, em tradução livre), uma empresa social do ramo
têxtil.
"Eu sou a mãe de seis
filhos, mas também a mãe do Braços Abertos. Eu cuido de todos e espero que a
organização cresça para apoiar muito mais mulheres."
Matialy
Matialy tem 22 anos e é mãe
solteira de duas meninas. Para sustentar as duas, ela mantém um pequeno salão,
feito de "paus e plástico", em um campo de refugiados na Libéria.
"Eu quero seguir com a minha
carreira. É o que eu gosto de fazer e o que me mantém ocupada todos os dias.
Além disso, posso ensinar outras meninas", conta ela, que ensina seu
ofício de graça a outras garotas que vivem no campo de refugiados.
"Eu me sinto feliz em ajudar
essas meninas a aprender e a terem novas oportunidades."
Em setembro de 2010, ela fugiu da
Costa do Marfim. Após a eleição presidencial do país, uma onda de violência e
de violação dos direitos humanos assolou o local.
Assim como Matialy e suas irmãs,
53 mil pessoas fugiram para a Libéria. Durante a onda de violência, os pais da
jovem e seus dois irmãos mais velhos desapareceram.
Mulher com dois bebês: um filho seu e um que salvou
A mulher que aparece na foto
abaixo não foi identificada. Ela contou sua história para a ONU:
"Enquanto eu fugia, eu
peguei esse menino chorando ao lado de sua mãe, que estava morta".
Em 2015, o grupo extremista Boko
Haram promoveu um de seus ataques mais mortíferos em Baga, no nordeste da
Nigéria. Centenas de pessoas foram mortas e milhares de casas foram queimadas.
"Às 6 horas nós ouvimos o
som de armas. Quando eles chegaram até nós, uma hora mais tarde, nós começamos
a correr. Eles mataram muita gente. Eu vi o menino e o levei junto comigo e com
os meus filhos para a pequena canoa do meu marido, no Lago Chade. Nós ficamos
em uma pequena ilha por três dias, sem nada para comer. A fome nos forçou a
sair. Eu conheço a família desta criança. Eu sei quem é seu pai, mas não sei
onde ele está, nem o que aconteceu".
mãe
Ghila vive em Smara, um campo de
refugiados na Argélia há 40 anos. Em 1975, aos 28 anos, ela fugiu do conflito
que assolava o Saara Ocidental junto com sua família. Foram três meses caminhando
ao lado de um grupo de pessoas e se alimentando de gofia, uma mistura de soja,
milho, cevada, açúcar e água, para sobreviver. Quatro dos seus filhos morreram
no caminho.
Embora nunca tenha frequentado a
escola, ela incentivou seus filhos sobreviventes a completarem os estudos.
"Três deles estudaram na Líbia, um em Cuba e o mais novo na Argélia.
Quando eles saíram de casa para estudar, eu senti muita saudade, mas tenho
muito orgulho deles", conta ela, que dedica seu tempo aos netos: "Ficar
com eles é a maior alegria da minha vida".
Mesmo sem uma educação formal,
Ghila trabalha como curandeira no campo de refugiados e ensina seu ofício a uma
das netas. "Meu pai me ensinou um pouco de medicina tradicional, inclusive
o uso de ervas medicinais."
"Eu sinto falta da Síria
todos os dias", conta Eman à ONU, quando descreveu sua casa no país natal
como "cheia de amor".
Agora, em sua nova casa, que
ainda tem poucos móveis, ela deseja que seus filhos cheguem à universidade e
encontrem um bom emprego na Suécia.
Seu sonho é voltar a estudar e
trabalhar ajudando pessoas com problemas psicológicos. "Eu sou uma mulher
forte, e eu acredito que essa força e o amor que estão dentro de mim me tornam
perfeita para esse ofício", conclui.
Fonte: Brasil Post
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