“O nosso compromisso sincero com
a justiça é parte irrevogável na maneira de vivermos a nossa fé e o nosso
discipulado ”, disse a Irmã Mary Sujita a 900 religiosas representantes das
aproximadamente 500 mil irmãs espalhadas pelo mundo. “O tempo está se
esgotando”, declarou a religiosa. “Ou vivemos uma vida profética (…) ou
desapareceremos como uma realidade irrelevante”.
Uma assistente social indiana, a
primeira asiática liderar a Congregação das Irmãs de Notre Dame, convidou as
superioras das comunidades religiosas femininas do mundo todo a pararem de
“teologizar” sobre as necessidades dos pobres e, em vez disso, ir trabalhar nos
lugares mais necessitados.
Em 10 de maio, num encontro da
União Internacional das Superioras Gerais, a Irmã Mary Sujita disse a 900
religiosas representantes das aproximadamente 500 mil irmãs espalhadas pelo
mundo que elas não podem mais “reduzir a missão delas a alguns ministérios
tradicionais e a boas ações caridosas”, mas sim devem trabalhar por
transformações profundas e estruturais ao redor do mundo.
A reportagem é de Joshua J.
McElwee, publicada por Global Sisters Report, 10-05-2016. A tradução é de
Isaque Gomes Correa.
“Qual a minha verdadeira
identidade? Será que estou sendo aquela que afirmo ser na qualidade de
religiosa?”, perguntou. “Quem está se beneficiando dos meus votos? A minha vida
vai fazer alguma diferença nas vidas dos mais necessitados?”
Sujita, que presidiu a sua ordem
religiosa na sede em Roma entre os anos de 1998 a 2011, disse também que as
congregações não deveriam focar suas energias em problemas como a diminuição de
candidatas que se apresentam para a vida religiosa, mas sim em servir aqueles
que se encontram às margens da sociedade.
“O futuro da vida religiosa será
decidido nas periferias onde Cristo está em agonia”, disse a religiosa na
assembleia trienal da UISG, sigla para União Internacional das Superioras
Gerais. “Ele não vai ser decidido baseado nos números de irmãs que temos. Vamos
ser claras aqui”.
“Irmãs, nós, que temos tudo e, em
geral, estamos entre as mulheres mais privilegiadas do mundo, do que temos
medo?”, Sujuta indagou logo em seguida. “Qual a origem da nossa covardia e do
nosso medo?”
“A forma como escolhemos responder
a este momento vai decidir o futuro da vida religiosa ministerial”, disse. “Não
temos muito tempo. Como Jesus, somos desafiadas a agir com ousadia, inspiradas
pelo divino. Nós estamos sendo cuidadosas demais. Jesus era ousado em seu amor.
Será que estamos prontas para isso?”
“O tempo está se esgotando”,
declarou a religiosa. “Ou vivemos uma vida profética (…) ou desapareceremos
como uma realidade irrelevante”.
A assembleia da UISG começou na
segunda e vai até sexta-feira (9 a 13 de maio) em Roma, com o tema “Tecendo a
Solidariedade Global para a Vida”.
Durante cinco dias de sessões
plenárias e encontros, incluindo uma audiência privada com o Papa Francisco na
quinta-feira, as líderes religiosas discutirão questões perenes relativas ao
papel da vida religiosa no mundo à luz de problemas globais atuais, em
particular as contínuas crises econômicas e ambientais.
Na terça-feira, Sujita focou a
sua alocução na extrema pobreza em que muitas pessoas no mundo vivem, citando
estudos segundo os quais 800 milhões de indivíduos passam fome e que 01 criança
morre de doença relacionada com a água a cada 20 segundos.
“O nosso compromisso sincero com
a justiça é parte irrevogável na maneira de vivermos a nossa fé e o nosso
discipulado ”, disse.
“Hoje, há muita teologização e
escritas sobre a opção radical pelos pobres e necessitados”, continuou a
religiosa. “Ainda que eu possa me sentir bem quanto a isso no nível conceitual,
pergunto: Onde estou em minha prática, em minha solidariedade pé no chão, junto
aos pobres?”
“Imaginemos se cada religiosa
estendesse a mão a algumas poucas pessoas marginalizadas. As margens em que
elas se encontram iriam se tornar em ilhas de esperança!”.
Segundo ela, “nós não somos um
grupo sem esperanças. Somos uma força motriz de transformação”.
Nesta semana, religiosas dos
cinco continentes estão participando na assembleia da UISG; as discussões estão
sendo traduzidas para 11 idiomas, incluindo japonês, coreano, vietnamita e
chinês.
O evento conta com uma ou duas
apresentações por cada dia apenas, o que permite ter momentos para refletir em
grupos menores a partir dos tópicos apresentados.
Sujita é uma das palestrantes da
assembleia. Na abertura dos trabalhos segunda-feira, a irmã americana Carol
Zinn (da Congregação de São José) advertiu as demais contra a aceitação da
ideia de que não há relação entre pobreza e a destruição ambiental.
Zinn, que foi presidente da
Conferência de Liderança das Religiosas (Leadership Conference of Women
Religious), disse que a vida consagrada vem tendo um “estilo de vida de
primeiro mundo”, o que “pode criar consciências apáticas e uma cegueira do
coração através das quais podemos facilmente ver não a dor, mas aquilo que
queremos ver”.
Entre as demais palestrantes na
assembleia plenária estão a irmã brasileira Márian Ambrosio (da Congregação da
Divina Providência) e a irmã italiana Grazia Loparco (da Congregação Filha de
Maria).
Fonte: Ihu
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