Mulher é condenada a usar um
cinto de castidade nessa miniatura do Decreto de Graciano, um texto do século
12 sobre a doutrina religiosa. Em nome de todas as mulheres, GRAÇAS A DEUS que
passamos dessa fase.
Por Carol Kuruvilla
A ideia que se ensina em algumas
igrejas ainda hoje é que a ética sexual cristão chegou à Terra completamente formada,
diretamente do céu, há cerca de 2 000 anos.
Durante todo esse tempo, houve
exatamente uma única maneira para os cristãos expressarem sua sexualidade –
mantendo a abstinência até se casarem com uma pessoa do sexo oposto.
Mas o que me não ensinaram é que
os ensinamentos da Bíblia sobre sexo foram interpretados de várias maneiras
diferentes. Não sabia que os primeiros cristãos começaram a praticar o celibato
porque estavam convencidos de que o fim do mundo estava próximo.
Ninguém me falou que o casamento
sem sempre foi definido e controlado pela igreja. Nem que, mesmo no casamento,
o sexo não era considerado algo prazeroso, algo a celebrar.
A verdade é que mudaram os
padrões do que significa ser uma pessoa sexual e cristã. Mudaram muito. Eis
seis fatos para provar.
1. Jesus tinha muito pouco a dizer sobre sexo.
Além de algumas admoestações
pesadas contra a lascívia e o divórcio, o Jesus da Bíblia não tinha muito a
dizer sobre questões envolvendo a sexualidade. (Aposto que ele estava ocupado
cuidando dos pobres e doentes. Mas é só um chute.)
Ele também não tinha nada a dizer
sobre homossexualidade ou identidade sexual como as entendemos hoje.
A maioria das instruções sobre
sexo vêm de líderes cristãos que começaram a disseminar a religião depois da
morte de Jesus.
2. Para ser um cristão verdadeiramente devoto nos primeiros anos da
igreja, você tinha de parar de transar.
A crença dos primeiros cristãos
de que Jesus voltaria à Terra criou um ambiente que exaltava o celibato em
detrimento do casamento.
Era uma diferença radical em
relação aos ensinamentos judaicos que os discípulos conheciam.
Mas faz sentido – por que se
prender a responsabilidades terrenas, tais como cuidar de esposo e filhos,
quando o fim do mundo estava chegando?
São Paulo, um líder cristão
celibatário que escreveu boa parte do Novo Testamento, acreditava que o
celibato era o melhor caminho em direção a Deus, pois permitia que os cristãos
se concentrassem somente nas coisas do espírito.
A volta de Jesus não aconteceu,
mas a ênfase no celibato se manteve forte.
Esperava-se que casais do século
2 parassem de transar totalmente depois de gerar vários filhos.
Vitral mostra um casal dormindo
junto. Note como eles NÃO estão transando.
3. Nos primeiros mil anos do cristianismo (é metade da sua existência,
pessoal), muitos cristãos nem sequer consideravam a ideia de se casar na
igreja.
Originalmente, os casamentos
ocidentais eram meras alianças econômicas entre duas famílias. Estado e igreja
não se metiam. Em outras palavras, o casamento não exigia a presença de um
padre.
A igreja se envolveu na
regulamentação dos casamentos só muito mais tarde, quando sua influência
começou a crescer na Europa Ocidental. Foi somente em 1215 que a igreja
finalmente reivindicou o casamento e estabeleceu as regras sobre o que era uma
criança legítima.
4. Durante boa parte da história da igreja, o sexo no casamento só era
tolerado porque gerava crianças.
Líderes cristãos não só
reprovavam o sexo antes do casamento como condenavam o desejo sexual.
Depois de São Paulo, um dos
primeiros líderes da igreja que tiveram maios influência na visão dos cristãos
sobre o sexo foi Santo Agostinho.
Influenciado pela filosofia de
Platão, ele promovia a ideia de que o desejo sexual desenfreado era sinal de
rebelião contra Deus. O desejo só se tornava honrado no contexto do casamento e
da geração de filhos.
Agostinho faz parte de uma longa
lista de teólogos que defenderam a ideia do desejo sexual como pecado.
Outros líderes cristãos
argumentaram que estar muito apaixonado pelo parceiro, ou transar apenas por
prazer, também era pecado. Essa ideia ganharia ímpeto nos séculos seguintes. E
não demorou muito para que as coisas ficassem muito esquisitas.
Afresco italiano do século 15.
Não se empolguem muito, meninos.
5. A igreja criou certas regras sobre sexo que pareceriam estranhas até
mesmo para o mais conservador dos religiosos.
Nos tempos medievais, a igreja se
envolveu profundamente no controle da vida sexual dos fieis. Virgindade e
monogamia ainda era importantes, e a homossexualidade poderia ser punida com a
morte.
A igreja também tinha exigências
muito específicas sobre o tipo de sexo que casais casados podiam praticar. Como
todo sexo deveria ter a finalidade da procriação, certas posições foram
proibidas (em pé, a mulher por cima, de quatro, oral, anal e masturbação).
E também havia regras sobre os
dias da semana em que as pessoas podiam transar (dias de jejum, de festa, dias
santos e domingos eram proibidos).
Também não se deveria transar se
a mulher estivesse menstruada, grávida ou amamentando (o que, considerando que
não havia contracepção, era boa parte do tempo).
Todas essas proibições
significavam que o sexo entre pessoas casadas era legal um dia por semana,
quando muito.
6. Apesar de tantos padrões e mudanças, os cristãos acabaram se
virando.
Tanto na Idade Média como hoje,
muitos cristão admiravam e tentavam seguir esses padrões, mas só da boca para
fora.
Demorou séculos para que a igreja
proibisse os padres de se casar. A Idade Média também foi uma “era de ouro”
para a poesia gay, especialmente entre membros do clero.
Nos tempos modernos, quase todos
os americanos perdem a virgindade antes do casamento. E, apesar de acharmos que
as pessoas são mais castas hoje do que na época da revolução sexual dos anos
1960, simplesmente não é o caso.
Dados do Public Religion Research
Institute mostram que os millennials religiosos acreditam que os métodos
contraceptivos são moralmente aceitáveis.
Eles também acham que ensinar
somente o caminho da abstinência não funciona. Mais revelador ainda: só cerca
de 11% dos millennials de hoje dependem de líderes religiosos para obter
informações sobre sexo.
É hora de cair na real: não
existe essa coisa de ética sexual cristã tradicional.
Quem dera eu soubesse disso
antes. O problema de ensinar às crianças que a Bíblia é infalível e que os
ensinamentos cristãos nunca mudaram é que, no instante em que elas abrem um
livro de história, ou transam, ou se apaixonam por alguém do mesmo sexo, esse
castelo construído sobre a fé começa a desmoronar. E abre-se o caminho para a
dúvida.
Mas isso pode ser bom. Acho que
isso está faltando na conversa dos cristãos. Se sua fé pede abstinência ante do
casamento, sem problema. A questão é que muita gente prega que suas
interpretações são as únicas corretas e sagradas. Do que já vi, esse tipo de
abordagem só gera culpa, raiva e dor.
Por outro lado, reconhecer a
complexidade do cristianismo pode mudar vidas. Pode transformar uma fé montada
como um castelo de cartas em uma fé que você deu duro para construir desde a
fundação.
Fonte: Brasil Post
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