terça-feira, 5 de abril de 2016

6 coisas que você provavelmente não sabia sobre cristianismo e sexo


Mulher é condenada a usar um cinto de castidade nessa miniatura do Decreto de Graciano, um texto do século 12 sobre a doutrina religiosa. Em nome de todas as mulheres, GRAÇAS A DEUS que passamos dessa fase.
 Tendo crescido numa igreja cristã conservadora, aprendi que o evangelho era um todo único, completo e indestrutível – particularmente no que diz respeito à sexualidade humana. Mas as coisas não são tão simples.

Por         Carol Kuruvilla

A ideia que se ensina em algumas igrejas ainda hoje é que a ética sexual cristão chegou à Terra completamente formada, diretamente do céu, há cerca de 2 000 anos.

Durante todo esse tempo, houve exatamente uma única maneira para os cristãos expressarem sua sexualidade – mantendo a abstinência até se casarem com uma pessoa do sexo oposto.

Mas o que me não ensinaram é que os ensinamentos da Bíblia sobre sexo foram interpretados de várias maneiras diferentes. Não sabia que os primeiros cristãos começaram a praticar o celibato porque estavam convencidos de que o fim do mundo estava próximo.

Ninguém me falou que o casamento sem sempre foi definido e controlado pela igreja. Nem que, mesmo no casamento, o sexo não era considerado algo prazeroso, algo a celebrar.

A verdade é que mudaram os padrões do que significa ser uma pessoa sexual e cristã. Mudaram muito. Eis seis fatos para provar.


1. Jesus tinha muito pouco a dizer sobre sexo.

Além de algumas admoestações pesadas contra a lascívia e o divórcio, o Jesus da Bíblia não tinha muito a dizer sobre questões envolvendo a sexualidade. (Aposto que ele estava ocupado cuidando dos pobres e doentes. Mas é só um chute.)

Ele também não tinha nada a dizer sobre homossexualidade ou identidade sexual como as entendemos hoje.

A maioria das instruções sobre sexo vêm de líderes cristãos que começaram a disseminar a religião depois da morte de Jesus.

2. Para ser um cristão verdadeiramente devoto nos primeiros anos da igreja, você tinha de parar de transar.

A crença dos primeiros cristãos de que Jesus voltaria à Terra criou um ambiente que exaltava o celibato em detrimento do casamento.

Era uma diferença radical em relação aos ensinamentos judaicos que os discípulos conheciam.

Mas faz sentido – por que se prender a responsabilidades terrenas, tais como cuidar de esposo e filhos, quando o fim do mundo estava chegando?

São Paulo, um líder cristão celibatário que escreveu boa parte do Novo Testamento, acreditava que o celibato era o melhor caminho em direção a Deus, pois permitia que os cristãos se concentrassem somente nas coisas do espírito.

A volta de Jesus não aconteceu, mas a ênfase no celibato se manteve forte.

Esperava-se que casais do século 2 parassem de transar totalmente depois de gerar vários filhos.


Vitral mostra um casal dormindo junto. Note como eles NÃO estão transando.

3. Nos primeiros mil anos do cristianismo (é metade da sua existência, pessoal), muitos cristãos nem sequer consideravam a ideia de se casar na igreja.

Originalmente, os casamentos ocidentais eram meras alianças econômicas entre duas famílias. Estado e igreja não se metiam. Em outras palavras, o casamento não exigia a presença de um padre.

A igreja se envolveu na regulamentação dos casamentos só muito mais tarde, quando sua influência começou a crescer na Europa Ocidental. Foi somente em 1215 que a igreja finalmente reivindicou o casamento e estabeleceu as regras sobre o que era uma criança legítima.

4. Durante boa parte da história da igreja, o sexo no casamento só era tolerado porque gerava crianças.

Líderes cristãos não só reprovavam o sexo antes do casamento como condenavam o desejo sexual.

Depois de São Paulo, um dos primeiros líderes da igreja que tiveram maios influência na visão dos cristãos sobre o sexo foi Santo Agostinho.

Influenciado pela filosofia de Platão, ele promovia a ideia de que o desejo sexual desenfreado era sinal de rebelião contra Deus. O desejo só se tornava honrado no contexto do casamento e da geração de filhos.

Agostinho faz parte de uma longa lista de teólogos que defenderam a ideia do desejo sexual como pecado.

Outros líderes cristãos argumentaram que estar muito apaixonado pelo parceiro, ou transar apenas por prazer, também era pecado. Essa ideia ganharia ímpeto nos séculos seguintes. E não demorou muito para que as coisas ficassem muito esquisitas.

Afresco italiano do século 15. Não se empolguem muito, meninos.

5. A igreja criou certas regras sobre sexo que pareceriam estranhas até mesmo para o mais conservador dos religiosos.

Nos tempos medievais, a igreja se envolveu profundamente no controle da vida sexual dos fieis. Virgindade e monogamia ainda era importantes, e a homossexualidade poderia ser punida com a morte.

A igreja também tinha exigências muito específicas sobre o tipo de sexo que casais casados podiam praticar. Como todo sexo deveria ter a finalidade da procriação, certas posições foram proibidas (em pé, a mulher por cima, de quatro, oral, anal e masturbação).

E também havia regras sobre os dias da semana em que as pessoas podiam transar (dias de jejum, de festa, dias santos e domingos eram proibidos).

Também não se deveria transar se a mulher estivesse menstruada, grávida ou amamentando (o que, considerando que não havia contracepção, era boa parte do tempo).

Todas essas proibições significavam que o sexo entre pessoas casadas era legal um dia por semana, quando muito.

6. Apesar de tantos padrões e mudanças, os cristãos acabaram se virando.

Tanto na Idade Média como hoje, muitos cristão admiravam e tentavam seguir esses padrões, mas só da boca para fora.

Demorou séculos para que a igreja proibisse os padres de se casar. A Idade Média também foi uma “era de ouro” para a poesia gay, especialmente entre membros do clero.

Nos tempos modernos, quase todos os americanos perdem a virgindade antes do casamento. E, apesar de acharmos que as pessoas são mais castas hoje do que na época da revolução sexual dos anos 1960, simplesmente não é o caso.

Dados do Public Religion Research Institute mostram que os millennials religiosos acreditam que os métodos contraceptivos são moralmente aceitáveis.

Eles também acham que ensinar somente o caminho da abstinência não funciona. Mais revelador ainda: só cerca de 11% dos millennials de hoje dependem de líderes religiosos para obter informações sobre sexo.

É hora de cair na real: não existe essa coisa de ética sexual cristã tradicional.

Quem dera eu soubesse disso antes. O problema de ensinar às crianças que a Bíblia é infalível e que os ensinamentos cristãos nunca mudaram é que, no instante em que elas abrem um livro de história, ou transam, ou se apaixonam por alguém do mesmo sexo, esse castelo construído sobre a fé começa a desmoronar. E abre-se o caminho para a dúvida.

Mas isso pode ser bom. Acho que isso está faltando na conversa dos cristãos. Se sua fé pede abstinência ante do casamento, sem problema. A questão é que muita gente prega que suas interpretações são as únicas corretas e sagradas. Do que já vi, esse tipo de abordagem só gera culpa, raiva e dor.

Por outro lado, reconhecer a complexidade do cristianismo pode mudar vidas. Pode transformar uma fé montada como um castelo de cartas em uma fé que você deu duro para construir desde a fundação.

Fonte: Brasil Post

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