quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Vagão exclusivo é a solução?

Cartazes sobre abuso sexual nos trens de São Paulo Foto (Divulgação/ Metrô São Paulo)
O vagão rosa gera polêmica, uma vez que não há consenso sobre o seu uso.

Segregar vagões do metrô faz parte da realidade de várias capitais brasileiras. No Rio de Janeiro, por exemplo, a prática dos vagões exclusivos para mulheres funciona há nove anos. No Distrito Federal, existe há dois anos. O vagão rosa, como também é conhecido, gera muita polêmica, pois não há um consenso sobre a sua eficácia para se evitar o assédio.

O Metrô de São Paulo criou a campanha “Você não está sozinha” que visa estimular a denúncia dos abusos sexuais ocorridos nas plataformas e nos trens (veja as imagens acima).

Além do Brasil, outros países como Japão, Egito, Índia, Irã, Indonésia, Filipinas, México, Malásia e Dubai tem o vagão rosa nos metrôs.

Para Marília Moschkovich, socióloga, militante feminista e escritora, propor a separação de homens e mulheres como solução para este tipo de crime é um erro. “Os vagões exclusivos culpabilizam as mulheres pelo próprio assédio. Separar as mulheres – que são em geral as vítimas da agressão – significa dar liberdade aos algozes. Quer dizer, os homens que assediam podem continuar assediando em outros espaços, sem que isso tenha nenhum tipo de punição”, disse.

A socióloga afirma também que geralmente em sociedades de cultura machista, as mulheres são sempre culpadas pela própria sexualidade e também pela sexualidade dos homens. “Assim, quando sofrem agressões, a solução é limitar, fiscalizar e controlar o corpo e as atitudes delas. Jamais o comportamento dos homens. Para sermos livres precisamos ser menos livres – é isso, mesmo?”, indaga.

Pesquisa do Ipea de 2014, sobre a violência contra mulher, confirma a triste realidade descrita por Marília. De acordo com os dados, 26% dos brasileiros concordam com a ideia de que mulheres que usam roupas mostrando o corpo merecem ser atacadas. Originalmente, o Instituto afirmara que 65% dos entrevistados concordavam total ou parcialmente com essa afirmação. O erro foi corrigido em nota divulgada pelo Instituto no dia 4 de abril de 2014.

Homossexualidade

Marília Moschkovich levanta mais um argumento sobre a segregação de vagões: homens não têm necessariamente desejo sexual por mulheres, e vice-versa.
“Chamamos essa pressuposição de “heteronormatividade”, e ela aparece também em vários outros contextos em nossa sociedade. Separar as mulheres dos homens no transporte público reforça essa ideia retrógrada e surreal de que a heterossexualidade e heteroafetividade são o “normal”, o “natural”, e de que relacionamentos gays e lésbicos são exceção, aberração”, finaliza.

Fonte: Dom Total

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