sábado, 12 de setembro de 2015

Dez bons filmes de mulheres empoderadas

Suzana Amaral, uma das mais talentosas e longevas diretoras do cinema brasileiro, que realizou mais de 50 documentários para a TV e três longas (A Hora da Estrela, de 1985, Uma Vida em Segredo, de 2001, e Hotel Atlântico, de 2009) costuma dizer que não existe cinema feminino, mas sim cinema bom.

  
Para ela, que começou a estudar cinema quando já tinha nove filhos e se preparava para ser avó, crucial é que se tenha verba e respeito suficiente para realizar um filme de qualidade. Produtoras, diretoras, assistentes de direção, diretoras de arte, figurinistas, continuístas, fotógrafas e tantas outras profissionais concordam com Suzana.

Cada vez mais as profissionais do cinema nacional e internacional querem que o tão apregoado empoderamento das mulheres seja sinônimo de igualdade de condições e de respeito, tanto no ambiente de trabalho e nas oportunidades quanto na avaliação de cada obra.

Em vista da recente repercussão que o filme Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, tem tido tanto em relação a seu conteúdo, que traz mulheres protagonistas, quanto na forma como os profissionais homens têm lidado com o protagonismo feminino na tela e fora dela, um debate se formou.

Nem sempre é dada a atenção devida para a importância de termos narrativas contadas por mulheres influenciando e colaborando para a formação maior do cinema nacional. Não há, e nem deve, haver um rótulo definitivo de ‘cinema feminino’, mas as vivências que as mulheres passam dão a cada uma delas, como indivíduos, um olhar único. Este olhar precisa ser valorizado.

Diante da urgência de debater este empoderamento da mulher brasileira também no universo audiovisual, o TelaTela elencou dez filmes de diretoras brasileiras que merecem ser vistos, revistos, pensados e apreciados de tempos em tempos.

Hoje, de Tata Amaral

Inspirada no livro Prova Contrária, de Fernando Bonassi, Tata Amaral dirigiu a história sobre uma ex-militante, vivida por Denise Fraga, que passa a ser assombrada pelas memórias das torturas sofridas nos tempos da ditadura no novo apartamento para o qual acaba de se mudar. Vencedor de diversos prêmios no Festival de Brasília, o sensível longa acumula ainda uma passagem pelo Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano de Havana.

Quase Dois Irmãos, de Lucia Murat

Conhecido no submundo dos camelôs de DVDs pirata como o Tropa de Elite 4, o que nunca afirmou ser, o filme é na verdade a história da amizade entre um senador e um traficante de drogas que se conheceram nos anos 1950. Os dois se reencontram vinte anos depois de se conheceram na prisão de Ilha Grande, onde presos políticos eram tratados como os comuns. O filme venceu a categoria de Melhor Filme Ibero-Americano no Festival de Mar del Plata, levou os prêmios de direção e melhor ator no Festival do Rio e foi eleito o melhor filme pelo júri popular do Festival de Cinema Brasileiro de Paris.

Chega de Saudade, de Laís Bodanzky

Laís Bodanzky venceu os prêmios de melhor direção e roteiro no Festival de Brasília além de ter sido ovacionado e arrebatar o Troféu Candango de Melhor Filme por escolha do júri popular. Com Betty Faria, Cássia Kiss, Elza Soares e Tônia Carrero no elenco, a produção se passa num baile de um tradicional clube de dança em São Paulo desde as horas em que o salão abre as portas até a saída dos últimos personagens, já na madrugada.

A Hora da Estrela, de Suzana Amaral

A adaptação de Suzana Amaral para o romance homônimo de Clarice Lispector marcou, para muitas gerações, o rosto e os trejeitos da Macabea protagonista. A jovem nordestina, órfã em todos os sentidos, vem a São Paulo trabalhar como datilógrafa e desenha-se, em suas fragilidades, num forte retrato social. Suzana levou os prêmios de direção no Festival de Berlim (que também contemplou a atriz Marcélia Cartaxo), no Festival de Brasília (onde recebeu outros cinco troféus) e no Festival de Havana.

Juízo, de Maria Augusta Ramos

Para retratar o que testemunhou numa sala da Vara da Justiça do Rio de Janeiro, a diretora Maria Augusta Ramos, escalou adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social para interpretar as histórias de seus pares, menores de idade (que não podiam ser retratados pelo filme), que aguardavam julgamento por roubo, tráfico e homicídio. Maria Augusta mostra em breve, no Festival do Rio, em outubro, seu novo longa, Futuro Junho, em competição na Première Brasil.

Memória para Uso Diário, de Beth Formaggini

A diretora Beth Formaggini, que acaba de ser premiada no Festival de Curtas de São Paulo pelo forte Uma Família Ilustre, parte neste longa de relatos de pessoas comuns para reconstruir as memórias duras e traumáticas dos torturados e desaparecidos durante a ditadura. Assim, parentes e militantes reconstroem histórias por entre cemitérios clandestinos e documentos oficiais, num longa que retrata a luta do grupo Tortura Nunca Mais.

A Via Láctea, de Lina Chamie

Lina Chamie conduz um casal formado por Marco Ricca e Alice Braga por um labirinto de solidões e encontros. Ele, após uma discussão por telefone, resolve enfrentar o trânsito e a cidade para olhar nos olhos de sua namorada. Evoca o que de mais belo e de mais frio povoa o imaginário paulistano.

Narradores de Javé, de Eliane Café

A relação entre narrativa oral e memória são elementos fundadores desse drama de Eliane Café. No enredo, a ameaça de perder a cidade em que vivem por obra de uma represa faz com os moradores se unam para coletar e registrar relatos de sua história e provar que se trata de um patrimônio nacional. Foi premiado do Cine PE, Festival do Rio, Festival de Friburgo, Festival Internacional do Filme Independente de Bruxelas, Festival Internacional de Cinema de Punta del Este e Festival de Cinema des 3 Aques.

Mutum, de Sandra Kogut

Campo Geral, de Guimarães Rosa, é a inspiração para Sandra Kogut desenvolver o drama sobre a vida familiar do menino Thiago no interior do Brasil. Ali, é obrigado a confrontar uma infância dura diante de uma família que briga intensamente, apenas para ir perdendo, pouco a pouco, a inocência. Um dos mais belos filmes nacionais da última década, tem a direção segura e suave de Kogut, que retrata como poucos a poesia e a aspereza da vida do Brasil profundo.

De Menor, de Caru Alves de Souza

Vencedora da edição 2013 do Festival do Rio, Caru Alves desenvolveu em seu primeiro longa uma poderosa ficção sobre uma defensora pública de crianças e adolescentes que mantém uma relação próxima com Caio, seu irmão. Tudo se desorganiza, contudo, quando o garoto comete um delito. Os limites entre certo e errado, entre a vunerabilidade da infância e da juventude brasileira e a realidade social e emocial dos dois irmãos, são retratados de forma sutil e contundente.

Menção Honrosa | Vêm por aí

Mate-me, Por Favor, de Anita Rocha Silveira

O longa de estreia da diretora carioca representa o Brasil na mostra competitiva Horizontes do Festival de Veneza este mês. Com produção de Vania Catani, o projeto vem sendo trabalhado há anos por Anita, que foi selecionada em 2012 para apresentá-lo no programa Fabrique des Cinemas du Monde (A Fábrica dos Cinemas do Mundo, em tradução) durante o Festival de Cannes. Rodado em 2014, conta a história de Bia (Valentina Herszag), uma garota de quinze anos, e de João (Bernardo Marinho), seu irmão de 25. A vida deles muda depois que assassinatos em série começam a ocorrer na Barra da Tijuca, no Rio.

São Paulo é uma Festa, de Vera Egito

O nome remete ao romance de Ernest Hemingway, Paris é uma Festa, e retrata a história de três jovens amigos que moram no mesmo prédio em São Paulo. Com olhar agudo sobre sua geração, a que vive e se relaciona em uma grande metrópole brasileira, Vera leva para o longa-metragem as angústias, alegrias e expectivas de Diego, Júlia e Micaela, personagens respectivamente vividos por Thiago Pethit, fazendo sua estreia no cinema, e as atrizes Maria Laura Nogueira e Renata Gaspar.

Fonte: CartaCapital

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