quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O abuso de mulheres no transporte público

64% das mulheres já sofreram algum tipo de constrangimento no transporte coletivo. As ações de protesto em defesa das mulheres e contra o abuso sexual ocorrem cada vez com mais frequência.

“Estava voltando do trabalho e peguei um ônibus por volta de uma da tarde, com poucas pessoas dentro. Sentei-me próxima da janela e cochilei. Pouco tempo depois percebi que alguém sentou ao meu lado, olhei e era um homem, alto e bem vestido, segurando uma pasta de documentos. Voltei a cochilar, então ouvi uma espécie de gemido. Quando abri os olhos o homem estava se masturbando. Ele viu que acordei e se assustou. Pensei em agredi-lo, mas tive receio de ser agredida por ele. A única coisa que consegui fazer foi gritar, gritar muito! Ele se levantou me chamando de louca. As pessoas ao redor olhavam sem entender nada. Continuei gritando, falando o que tinha acontecido e ninguém fez nada. O sujeito desceu do ônibus e ainda me chamou de vagabunda, disse coisas obscenas e o motorista seguiu viagem”.

O relato de Camila Poquini foi publicado pela página Catraca Livre, no Facebook, que tem como objetivo e slogan “Comunicar para empoderar”. A mesma página e diversas outras divulgam todos os dias, com o mesmo intuito, inúmeros casos semelhantes ao de Camila. De acordo com a Secretaria Estadual da Segurança Pública, em 2014, só no estado de São Paulo, foram registrados 285 casos de importunação ofensiva ao pudor - quando a vítima é assediada sexualmente em local público. Dentre esses casos, 17 ocorreram em coletivos e 13 nos pontos de ônibus.

Também com o objetivo de empoderar mulheres por meio da informação e retratar suas ações, a jornalista Juliana de Faria criou, em abril de 2013, o projeto feminista Olga e lançou, em julho do mesmo ano, a campanha “Chega de Fiu Fiu”, que combate o abuso sexual em espaços públicos por meio de ilustrações com mensagens de repúdio a esse tipo de violência.

A campanha desenvolveu uma pesquisa para entender como acontecem este tipo de crime, e revelou que 85% das mulheres brasileiras entrevistadas já tiveram o corpo tocado sem permissão em espaços públicos. E 64% delas já sofreram algum tipo de constrangimento no transporte coletivo.

Violência

O que não faltam são relatos que comprovam os dados acima. Em abril deste ano a mídia noticiou o caso de uma jovem, funcionária da empresa de recarga do Bilhete Único, em São Paulo, que foi estuprada dentro da própria cabine de trabalho na Estação República. Ela foi surpreendida por assaltantes ao encerrar o expediente, por volta das 23h30.

No dia 20 de agosto, em um vagão do Metrô de São Paulo, uma garota, aparentando entre 16 e 17 anos, tornou-se vítima de abuso. De acordo com relatos divulgados nas redes sociais por usuários do metrô, ao repreender o suposto homem que a importunava no vagão lotado, a jovem acabou sofrendo com o abuso de outros passageiros, o que gerou uma espécie de abuso coletivo. O crime só foi interrompido com o auxílio de outras passageiras que ajudaram a garota a sair do vagão com a integridade física preservada.

Protestos

Para tentar mudar este triste quadro, muitas pessoas têm se organizado também para protestar in loco, ou seja, nos locais onde acontecem os abusos. No fim do mês passado, coletivos feministas foram à estação República do Metrô de São Paulo para protestar.
A Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, o Grupo de Mulheres Pão e Rosas, o Movimento Mulheres em Luta, entre outros, estiveram presentes no ato. As manifestantes reivindicavam que as estações tenham mais seguranças mulheres, além de delegacias especializadas.

As ações de protesto em defesa das mulheres ocorrem cada vez com mais frequência. Segundo o manifesto divulgado nas redes sociais pelas organizadoras do ato na estação República, a ideia é que se faça sempre uma ação de protesto quando for registrado algum caso de abuso sexual no transporte público.

Em maio, professores, estudantes, militantes da causa feminista, entre outras personalidades participaram de ato na estação da Sé, motivado pelo caso ocorrido com a repórter Caroline Apple. O episódio, envolvendo um homem que se masturbou e ejaculou na calça da jornalista, ganhou grande repercussão nas redes sociais.

Desde abril, o movimento Mulheres em Luta vem distribuindo, em cada uma de suas ações, cerca de 400 alfinetes nas estações do metrô de São Paulo, durante o horário de pico, para promover a campanha “Não me encoxa, que eu não te furo”. O movimento pretende levar esclarecimento às passageiras e entregando kits com o alfinete, para que as vítimas possam espetar os molestadores.


Fonte:  DomTotal

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