domingo, 6 de setembro de 2015

CURAR A NOSSA SURDEZ


A cura de um surdo-mudo na região pagã de Sídon é narrada por Marcos com uma intenção claramente pedagógica. É um doente muito especial. Não ouve nem fala. Vive encerrado em si mesmo, sem se comunicar com ninguém. Não percebe que Jesus está passando próximo dele. São outros os que o levam até ao Profeta.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 7, 31-37 que corresponde ao 23º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto


Os profetas de Israel usavam com frequência a «surdez» como uma metáfora provocativa para falar do encerramento e da resistência do povo ao seu Deus. Israel «tem ouvidos mas não ouve» é o que Deus diz. Por isso, um profeta chama a todos para a conversão com estas palavras: «Surdos, escutai e ouvi».

Neste enquadramento, as curas de surdos, narradas pelos evangelistas, podem ser lidas como «relatos de conversão» que nos convidam a deixar-nos curar por Jesus da surdez e das resistências que nos impedem de escutar a Sua chamada para o seguir. Em concreto, Marcos oferece no seu relato matizes muito sugestivos para trabalhar esta conversão nas comunidades cristãs.

O surdo vive afastado de todos. Não parece estar a ser consciente do seu estado. Não faz nada para aproximar-se de quem o pode curar. Por sorte para ele, uns amigos interessam-se por ele e levam-no até Jesus. Assim tem de ser a comunidade cristã: um grupo de irmãos e irmãs que se ajudam mutuamente para viver em torno de Jesus deixando-se curar por Ele.
A cura da surdez não é fácil. Jesus toma consigo o doente, retira-se para um lado e concentra-se nele. É necessário o recolhimento e a relação pessoal. Necessitamos nos nossos grupos cristãos um clima que permita um contato mais íntimo e vital dos crentes com Jesus. A fé em Jesus Cristo nasce e cresce nessa relação com Ele.
Jesus trabalha intensamente os ouvidos e a língua do doente, mas não basta. É necessário que o surdo colabore. Por isso, Jesus, depois de levantar os olhos ao céu, procurando que o Pai se associe ao Seu trabalho curador, grita ao enfermo a primeira palavra que tem de escutar quem vive surdo a Jesus e ao Seu Evangelho: «Abre-te».

É urgente que os cristãos escutem também hoje esta chamada de Jesus. Não são momentos fáceis para a Sua Igreja. Pede-se que atuemos com lucidez e responsabilidade. Seria funesto viver hoje surdos à Sua chamada, não ouvir as Suas palavras de vida, não escutar a Sua Boa Nova, não captar os sinais dos tempos, viver encerrados na nossa surdez. A força salvadora de Jesus pode-nos curar.

José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
Fonte: http://www.gruposdejesus.com/












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