Garotas de programa esperam por clientes em um bordel na
Indonésia. Lá, como em outros 115 países, a prostituição é ilegal. É preciso
que isso mude (Foto: Ulet Ifansasti/Getty Images)
Para deter o avanço da aids, é urgente descriminalizar a prostituição em todo o mundo. É esse o apelo feito por um grupo de pesquisadores
presentes à 20ª Conferência Mundial de aids em Melbourne, na Austrália.
Em uma série de sete artigos publicados na revista Lancet,
os pesquisadores defendem que descriminalizar a prostituição e distribuir
preservativos aos profissionais do sexo trariam benefícios para toda a
população: ajudar a reduzir a transmissão do HIV em 46% em meio a esse grupo em
países como Índia e Kenya, além de ajudar a controlar a pandemia de aids de
maneira geral.
Os pesquisadores presentes ao encontro acreditam que, dados
os avanços observados hoje, a disseminação da aids possa ser detida até 2030.
O perigo é que o vírus continue a se espalhar em meio a populações
marginalizadas. Segundo os editores da Lancet, a única alternativa nesse caso é
combater os estigmas que pesam sobre as pessoas que se prostituem, e evitar que
elas sejam tratadas como criminosas.
Atualmente, a prostituição é ilegal em 116 países. No
Brasil, não é crime. A atividade é reconhecida pelo Ministério do Trabalho e
Emprego. Mesmo assim, não é profissão regulamentada, o que priva os
profissionais de benefícios acessíveis a outros trabalhadores .
Os profissionais do sexo – sejam mulheres, homens ou
transgêneros - compõem um grupo
especialmente vulnerável ao HIV. Em alguns países da África Subsaariana, cerca
de 50% deles está contaminada pelo vírus. Por exercer uma atividade
descriminada e muitas vezes criminalizada, encontram dificuldades para ter
acesso a formas de prevenção. Em muitos lugares, essas pessoas evitam carregar
preservativos, considerados evidências de trabalho sexual ilegal ou
promiscuidade. “Por que devemos condenar a troca de dinheiro por sexo,
especialmente se as condições adversas que criamos ao fazê-lo prejudica homens
e mulheres muitas vezes de maneira fatal?”, disse o editor-chefe da Lancet,
Richard Horton.
Os artigos publicados na revista também se encarregam de
combater mitos difundidos em algumas sociedades, como o de que esses
profissionais resistem ao uso de preservativos. Pelo contrário: esse é o grupo
no qual as campanhas pela promoção do uso de camisinhas tem melhores
resultados. Na África do Sul, a promoção do uso de preservativos por meio de
campanhas diminuiu a incidência de aids em 70% entre esses profissionais.
O grupo presente ao Congresso é o mesmo que, na semana
passada, perdeu seis colegas quando o voo da Malaysia Airlines foi abatido ao
sobrevoar a Ucrânia. Os seis cientistas e as demais 292 pessoas a bordo do
avião morreram. Entre eles estava Joep Lange, ex-presidente da Sociedade Internacional
de aids (de 2002 a 2004), reconhecido por seus esforços para levar os remédios
contra aids aos países e localidades mais pobres.
Fonte: Revista Época
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