Na Venezuela, onde a prostituição é legalizada, mas a troca
de divisas é proibida, as prostitutas estão atuando como operadoras de câmbio
na Zona Portuária e, assim, mais que dobrando sua renda.
Em Puerto Cabello,
além de cobrar dos marinheiros estrangeiros uma taxa fixa de US$ 60 por hora,
as prostitutas ainda conseguem dólares arranjando hospedagem, chips de celular
e transporte para visitantes.
Com a escassez de dólares na praça, a moeda americana vale
11 vezes mais no mercado paralelo que na cotação oficial (6,3 bolívares) do
país, que importa 70% dos bens que consome. O bolívar caiu 71% contra o dólar
desde abril do ano passado, quando Nicolas Maduro sucedeu seu mentor, Hugo
Chávez, na presidência do país. Houve aperto do controle cambial para evitar
sangramento das reservas estrangeiras, que estão no menor patamar em uma
década.
— O dólar manda nos dias atuais, mas tem um preço. Com ele,
conseguimos coisas que as nossas famílias precisam, mas temos de vender nossos
corpos para obtê-lo — diz Elena, que não revela seu nome verdadeiro.
Os benefícios do acesso à moeda americana podem ser vistos
no quarto da moça no bordel Blue House: sacos de arroz, farinha, açúcar e óleo
de cozinha. Para obter esses produtos, outros venezuelanos têm de esperar por
horas nas filas das lojas, onde os preços são regulados, e nem sempre conseguem
encontrá-los.
'SOCIEDADE BIPARTIDA'
A falta de moeda estrangeira está transformando a Venezuela
numa sociedade bipartida, como a União Soviética e Cuba, disse Steve Hanke,
professor de economia aplicada da Johns Hopkins University, em Baltimore.
Aqueles que têm acesso a dólares — como prostitutas, agentes de turismo,
taxistas que trabalham nos aeroportos e expatriados — conseguem se proteger
contra a inflação vendendo a divisa a taxas cada vezmais altas.
Os que não conseguem obter dólares veem seu padrão de vida
cair — sem abastecimento, os consumidores enfrentam aumentos de preço na casa
de 59% neste ano até março. Enquanto isso, autoridades tentam reprimir o
mercado negro de dólares, fechando corretoras e fixando quatro sistemas
paralelos de câmbio para conter a depreciação do bolívar.
O problema está inibindo os negócios — exceto a prostituição
— no Puerto Cabello, que é o maior do país. O bordel Blue House é limpo e bem
cuidado, com um pátio e uma cozinha onde as mulheres têm três refeições por
dia.
— Antes, eu trabalhava para sustentar meu filho e minha mãe.
Agora, sustento a família inteira — conta Paola, que também trabalha como
prostituta. — Dólares são o único jeito. Os salários em bolívares de meus tios
e primos não significam praticamente nada agora.
Fonte: O Globo
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