Mulheres que "pretendem ter uma vida autônoma,
trabalhando" e que "se lamentam se são violentadas, talvez quando
pediram uma carona de minissaia". São elas o objeto dos ataques de um
bando selvagem de internautas ultracatólicos, às vezes com simpatias
neonazistas, que disseminam na rede pílulas de uma cultura retrógrada que chega
até a justificar o feminicídio. E que, como demonstra o caso do pároco de San
Terenzo, na Itália, consegue fazer prosélitos. Virtuais, mas não só.
A reportagem é de Marco Pasqua, publicada no jornal La
Repubblica, 28-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A principal forja do ódio sexista contra as mulheres se
chama Pontifex e, desde que foi criado, em setembro de 2008, propagandeou teses
homofóbicas, racistas, muitas vezes antissemitas e até mesmo negacionistas. E
onde a chamada "mulher moderna" é atacada por bispos (quase sempre
eméritos e, muitas vezes, repudiados pela própria hierarquia eclesiástica), ou
pelos próprios gestores da plataforma, que também se servem das redes sociais
para difundir as suas ideias malucas (não por acaso, no dia 27 de dezembro,
despontaram perfis no Facebook que elogiavam o padre Piero Corsi).
A alma dessas páginas é Bruno Volpe, 50 anos, obcecado pelos
homossexuais (aos quais ele muitas vezes define como "doentes") e
simpatizante do fórum neonazista Stormfront, recentemente fechado pela polícia.
Natural de Bari, nunca desmentiu ter sido preso por perseguição, no verão de
2011, depois de ter atormentado uma garota.
Para veicular as suas teses, ele se serve muitas vezes de
rostos conhecidos, mesmo do mundo da televisão e da política, que, aceitando
ser entrevistados, se prestam – muitas vezes inconscientemente – a dar brilho
ao site: de Assunta Almirante a Albano Carrisi, de Roberto Gervaso a Aldo
Biscardi.
Mas são os prelados aqueles que, mais frequentemente, ele
utiliza para ofender as mulheres. "Algumas vezes, há uma falta de
prudência por parte das vítimas", argumentou, por exemplo, Dom Arduino
Bertoldo, bispo emérito de Foligno. "Se uma mulher caminha de modo
particularmente sensual ou provocante, ela tem alguma responsabilidade no
evento, e quero dizer que, do ponto de vista teológico, tentar também é pecado.
Mesmo aqueles que, caminhando ou vestindo-se de modo provocante, desperta
reações excessivas ou violentas peca em tentação".
Por isso, defende o próprio Volpe em um dos seus editoriais,
as "reações agressivas" são "favorecidas por espetáculos
objetiva e moralmente desordenados", como quando "uma moça bonita
pede uma carona à noite e de minissaia, e depois é estuprada".
Mesmo diante dos assassinatos, o Pontifex vai muito além do
paradoxo, defendendo que "a culpa nunca está de um lado só. Cuidado para
não beatificar ou santificar todas as mulheres mortas". Segundo o site,
"a onda de violências estourou desde quando a mulher pretendeu ter um
excesso de vida autônoma, muitas vezes não se importando com a família, com os
deveres conjugais e chegando até a libertinagem sexual".
Por isso – é o que defende outro monsenhor – "a mulher
deve se inspirar em Maria e na Imaculada Conceição, abandonando a tendência à
libertinagem". O bispo emérito de Senigallia, Oddo Fusi, está convencido
de que "o trabalho é secundário. Na crise de valores atual, depende muito
do fato de que a mulher saia muitas vezes de casa e reivindique uma
independência desenfreada do marido e vá trabalhar".
A mesma tese se encontra na Salpan, revista eletrônica de
aprofundamento dos "assuntos que mais interessam ao mundo católico
atual". Aqui se afirma que "antepor o emprego, o trabalho, aos filhos
ou ao marido é quase contra a natureza e certamente contra a ordem estabelecida
por Deus". Mas o ataque às mulheres dos ultracatólicos também ocorre
utilizando a questão do aborto, causa daquilo que é impropriamente definido
como o "Holocausto silencioso". A pílula abortiva RU-486 é renomeada
como "pesticida humano".
Nas páginas do site Bastacristianofobia, são relançadas
entrevistas com moças "que sobreviveram ao aborto" (o que
determinaria, em nível mundial, "o maior genocídio da história") e,
naturalmente, ataca-se a Lei 194. No post "As mulheres e a moda",
publicado no site PreghiereGesùeMaria (um site que tem como objetivo a "salvação
de todas as almas através da difusão da Palavra de Deus"), dirige-se um
apelo a todas as mulheres, para que voltem a ser um tesouro de modéstia e de
pudor, um anjo de conforto", deixando de ser "provocantes" e de
"pôr em movimento os sentidos e os instintos".
Alguns, como os animadores do site PontiLex, tentam se opor
a estes regurgitos medievais. Nos últimos anos, foram apresentadas denúncias e
foram enviadas dezenas de indicações ao Escritório Nacional Antidiscriminação
(UNAR), da Itália, exigindo o fechamento do Pontifex: "Mas ninguém jamais
fez nada", diz Sandro Storri, à frente de uma pequena rede virtual nascida
para combater os odiadores ultracatólicos.
Fonte: Ihu
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