"Num mundo que não se cansa de usar o corpo feminino
como atrativo para o consumo, as mulheres do Femen e as mães de Valência tentam
inverter o jogo: o objeto de fantasias se torna assim um instrumento de
mobilização', afirma o editorial "Ativismo sexy", publicado pelo
jornal Folha de S. Paulo, 07-01-2013. Segundo o editorial,
"as imagens da miséria e da infelicidade hoje parecem incapazes de
despertar consciências para os problemas da sociedade global. A exibição do
corpo, tão banalizada em outros contextos, aparece como recurso para o
ativismo".
Às voltas com grave crise econômica, a Espanha trouxe ao
noticiário do final de ano um exemplo de manifestação bem-humorada, mas nem por
isso menos expressiva.
Uma associação de mães de uma comunidade com cerca de 3.000
habitantes na região de Valência decidiu publicar um calendário para 2013
trazendo imagens delas mesmas em atitudes provocantes.
Tratava-se de chamar a atenção para o corte nos serviços de
transporte escolar na localidade.
Sem recursos para providenciar ônibus particulares que
evitassem a longa caminhada dos filhos pela tortuosa paisagem rural, as mães
valencianas acrescentaram mensagens de protesto ao comedido apelo erótico das
suas fotografias. Esperam, assim, arrecadar fundos para o custeio de algo que o
governo antes oferecia gratuitamente.
A iniciativa poderia passar como um ato isolado, não
estivesse, entre os fatos marcantes de 2012, a grande visibilidade obtida pelas
mulheres do movimento Femen. Iniciado na Ucrânia em 2008, o método de
acompanhar protestos variados com cenas de nudez ganhou o mundo e foi adotado
no Brasil em diferentes ocasiões.
Ativistas já se manifestaram no Rio de Janeiro contra o
turismo sexual e surgiram num desfile de Sete de Setembro em Brasília com
dizeres genéricos contra o machismo.
Mais importante, sem dúvida, foi a atitude de uma jovem
egípcia que se despiu em Estocolmo, ao lado de outras militantes do Femen, num
protesto contra a inspiração fundamentalista presente na nova Constituição de
seu país.
Midiáticas? Com certeza. Não fosse a audácia de seus
métodos, contudo, dificilmente colocariam em pauta com a mesma ênfase os abusos
cometidos, não só contra mulheres, pelo governo ditatorial de Alexander
Lukashenko, de Belarus -para ficar num exemplo.
Num mundo que não se cansa de usar o corpo feminino como
atrativo para o consumo, as mulheres do Femen e as mães de Valência tentam
inverter o jogo: o objeto de fantasias se torna assim um instrumento de
mobilização.
É que as imagens da miséria e da infelicidade hoje parecem
incapazes de despertar consciências para os problemas da sociedade global. A
exibição do corpo, tão banalizada em outros contextos, aparece como recurso
para o ativismo.
Em vez da violência, comum nos movimentos de revolta, surge
o sexo. Resta saber quais suas chances na trivialização dos tempos.
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