quinta-feira, 12 de julho de 2012

Por uma maior participação das mulheres na Igreja


Lucetta Scaraffia tem verdadeira veneração por Bento XVI e se define como "feminista". Sua batalha? Que os homens na Igreja cedam parte do seu poder para as mulheres, que trouxeram "tantas riquezas" ao longo desses 2.000 anos de cristianismo. Esta mulher vivaz de 64 anos, olhos cinzentos profundos, eminente historiadora, é uma lutadora que se gaba de ter o apoio de Joseph Ratzinger.

A reportagem é de Jean-Louis de la Vaissiere e é da AFP, 08-07-2012. A tradução é do Cepat.
Colunista do L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano, e colaboradora em vários jornais italianos, ela expressa o que a choca na Igreja – a ambição, a corrupção do sexo e do dinheiro. Dedicada de corpo e alma à instituição, ela sabe que fez inimigos ali.
Com o apoio do Papa – “foi ele, disse ela, que decidiu que deveria haver mulheres no L’Osservatore Romano” –, ela lançou no mês passado o Inserto, um suplemento feminino mensal do jornal da Santa Sé. É a primeira vez na história da Igreja que isso acontece, o que seria inimaginável há apenas uma década.
Em seu apartamento repleto de livros, no bairro Parioli, esta esposa de um jornalista italiano conta com humor como alguns homens no Vaticano reagem ao seu suplemento: "Alguns dizem: ‘eu não o li’. Eles não vão me dizer: ‘Não está bem’. Eles preferem jogar um: ‘isso não me interessa’. A indiferença é terrível".
 "Há misoginia na Igreja, é um mundo fechado, que se debate com o problema do poder. Muitas pessoas no clero temem que se as mulheres tiverem maior espaço, haverá menos lugares para eles", diz ela.

Celibato
Este sistema tem de evoluir. "Todas as mulheres da Igreja estão insatisfeitas!", diz ela com uma risada. Apenas duas mulheres ocupam postos de responsabilidade (números três) nos ministérios do Vaticano e nenhuma se encontra em cargos mais elevados.
Segundo ela, a busca de uma carreira "também pode explicar o Vatileaks, o escândalo que ocorreu com o vazamento de documentos confidenciais. “Se houvesse mulheres no poder na Igreja, nada sairia da Secretaria de Estado. As mulheres são mais livres porque elas não têm a perspectiva do poder”, lança em tom de brincadeira.
De acordo com Lucetta Scaraffia, “a pedofilia foi um escândalo quase exclusivamente masculino. Em geral, as mulheres mantêm o controle. Se houvesse mulheres em posições de poder, elas não teriam permitido essas coisas!”
A historiadora frequentemente tomou posição para que as mulheres ensinem nos seminários masculinos, de modo que os seminaristas aprendam a realidade nas leituras profanas e que os formadores lhes proporcionem “verdadeiros antídotos”, "respostas culturais", que lhes permitam viver bem celibato.
"As mulheres eram consideradas um perigoso sexual! Mas, vemos que esse ‘perigo’ são também os homens e as crianças...”, suspira.

"A vergonha é necessária"

Seu "feminismo" é diferente do de outras feministas laicas: ela é contra o aborto, defende o celibato dos sacerdotes e se opõe à ordenação de mulheres dizendo que elas têm outra vocação que não o sacerdócio.
A jornalista afirma que Bento XVI é "muito solitário e que tem um pontificado muito difícil, porque todos os problemas que estavam ocultos, de repente explodiram... Problemas muito enraizados na Igreja nos últimos 30 a 50 anos”.
"Ele tem a coragem de ver as coisas como são. Ele dá vazão aos escândalos. Eles sempre estavam escondidos. No caso do Vatileaks também, ele é firme, ele deixa as coisas saírem". "Muitas pessoas pensam que é melhor esconder tudo. Ele disse que a Igreja não está protegida pelo silêncio. Ele pensa que a vergonha é necessária para a purificação."
Para a historiadora, "as mulheres tiveram um lugar muito importante no cristianismo, desde as suas origens." "É a primeira religião em que houve paridade espiritual. Houve, na sequência, mulheres santas e isso é revolucionário. As mulheres puderam não viver o seu destino biológico, mas viver para Deus."
"Esta é a primeira religião que disse que a mulher têm os mesmos direitos que os homens. A mulher foi capaz de pedir fidelidade ao seu marido. Nos primeiros séculos, as mulheres representavam a maioria dos novos cristãos convertidos", destaca Lucetta Scaraffia.
Fonte: Ihu

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