quinta-feira, 12 de julho de 2012

As agências de modelos e o tráfico de pessoas



A dona de uma agência de modelos de São José do Rio Preto (SP) está sendo investigada por tráfico de pessoas. A modelo rio-pretense Ludmila Verri, 21 anos, depôs ontem à CPI do Tráfico de Pessoas, na Câmara dos Deputados, em Brasília, e disse ter sido explorada nos 40 dias em que permaneceu na Índia, em 2010. A jovem e a irmã L., na época com 15 anos, foram enviadas a Mumbai pela agência de modelos Raquel Management, de Rio Preto, investigada pela Polícia Federal por tráfico internacional de pessoas. “Ao que tudo indica, são agências de fachada, que traficam seres humanos do Brasil para todo tipo de finalidade”, disse ontem o deputado federal Arnaldo Jody (PPS-PA), presidente da CPI.

 Ludmila e o pai, Damião Verri, foram convocados a depor a partir da divulgação pela imprensa, inclusive o Diário, de ação cível do Ministério Público Federal (MPF) contra a empresa.
 A proposta de Raquel Felipe, segundo o pai, era que ambas fizessem trabalhos publicitários na Índia durante seis meses. As duas desembarcaram na cidade em 12 de novembro, e foram levadas pelo agente de modelos Vivek Singh até um prédio que, segundo a polícia local, é conhecido ponto de prostituição na cidade. No apartamento, já havia uma brasileira, contratada pela Dom Agency Model’s, de Passos (MG).
As condições de trabalho e moradia, segundo o depoimento de Ludmila, que durou uma hora e meia, eram análogas à de escravidão. O apartamento era mobiliado, mas sem água e sujo. A modelo disse ainda que trabalhou muito e mal teve tempo para comer. Metade do dinheiro recebido por ela e pela irmã - cerca de US$ 6 mil - foi usado para pagar dívidas de viagem. O indiano, segundo ela, era alcoólatra e, muitas vezes, descontrolado. “Ele já ergueu a mão para me bater.”
Acionado pelo pai no Brasil, o Consulado brasileiro na Índia resgatou a jovem em 22 de dezembro de 2010. “Eu não tinha noção de que poderia ser uma farsa, uma fantasia. A gente vai com a consciência de que podem acontecer coisas, mas não pensa que pode de fato”, disse Ludmila à comissão, conforma informou ontem a Agência Câmara. “Se elas não fossem resgatadas, não tenho dúvidas de que seriam encaminhadas para prostituição”, disse ontem o deputado Jordy.
Damião confirmou a versão da filha, e criticou a agenciadora de Rio Preto, ainda de acordo com a transcrição da Agência: “A Raquel havia dito que daria assistência pessoalmente às meninas se acontecesse alguma coisa. No fim, ela não fez nada, só empurrou com a barriga e propôs tirar as meninas de lá fugidas. Eu, como pai, fui ao fundo do poço. Minha mulher tem pressão alta e diabetes. Imagina a situação”?, disse. Procurado ontem, ele não foi localizado.
Raquel Felipe deverá ser ouvida pela CPI em agosto, segundo o presidente da comissão. Ela chegou a ser intimada em junho, mas apresentou atestado médico de gravidez. “Logo após ouvi-la, vamos nos reunir e decidir se iremos indiciá-la”, disse Jordy, sem informar o possível crime contra a agenciadora. Os trabalhos da CPI, que investiga o tráfico de brasileiros dentro e fora do País, seguem até outubro deste ano. O relatório final será encaminhado ao Ministério Público.

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