Eleita “Europeia do ano de 2010”, pela Reader’s Digest, por ter salvo 420 mulheres da prostituição forçada, Iana Matei dirige um centro onde as vítimas do tráfico de seres humanos podem refugiar-se e recomeçar a vida.
Há 12 anos, Iana Matei criou o primeiro abrigo da Roménia para vítimas das redes internacionais de prostituição. Desde então, e graças a Iana, 420 mulheres saíram do inferno da prostituição forçada e voltaram a ter uma vida normal.
Na vasta sala comum, as portadas das janelas estão fechadas. O silêncio é interrompido, apenas, pelos diálogos do filme americano que está a passar na televisão. Sentadas, várias raparigas olham para o televisor em silêncio, perdidas nos seus pensamentos. A porta abre-se e entra uma senhora loira: um largo sorriso ilumina-lhe o rosto. Ilana Matei não parece ter 50 anos. É ela que, com dois assistentes sociais, anima este refúgio para ex-prostituitas, desde 1998, ano em que regressou à Roménia. Em 1989 deixou o seu país porque era procurada pela polícia. Nessa altura, foi viver para a Jugoslávia, onde trabalhou como intérprete para a Agência de Assistência aos Refugiados das Nações Unidas, depois emigrou para a Austrália onde ganhou a vida como contabilista numa empresa de autocarros.
Pouco depois de ter voltado a Bucareste, esta psicóloga de formação, nascida na Transilvânia, empenhou-se em vários projectos de defesa das crianças de rua. Um dia, recebeu um pedido de ajuda de um polícia: “Não sabemos o que fazer com três miúdas que apanhámos na rua”. “Eram três raparigas de 13, 14 anos, geladas, mal vestidas e esfomeadas. Contaram-me que tinham sido vendidas por um cigano e, depois, revendidas e postas na rua para ‘produzirem’!”, recorda Iana. “Não sabia o que fazer, nem para onde as levar. Não tinha lugar para elas em minha casa. Passaram a noite no hospital. Entretanto, eu pensaria numa solução”.
Nessa noite nasceu a Reaching Out, a primeira associação que oferece refúgio às mulheres vítimas do tráfico de seres humanos na Roménia. No dia seguinte, Iana arrendou um apartamento em Pitesti e instalou-se com as três adolescentes. Começou a preparar projectos, porque precisava de dinheiro. Depois, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) ligou-lhe a dizer que havia mais raparigas que precisavam de um tecto, pelo menos até conseguirem reconstruir as suas vidas: vinham da Bósnia, da Macedónia e da Albânia, onde tinham sido maltratadas e sexualmente exploradas. Então, Iana arrendou outro apartamento.
Convencer as mulheres a fazerem queixa
Normalmente, as raparigas que ela acolhe regressam de Itália e de Espanha, os dois principais países de destino das jovens romenas vítimas das redes de prostituição, segundo um relatório de 2009 do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre o tráfico de seres humanos. Logo a seguir aparecem a Grécia, a República Checa e a Alemanha, onde à exploração sexual se juntam a mendicidade forçada e a escravidão na agricultura.
Na maior parte das vezes, as raparigas precisam de tratamento médico, porque chegam com cortes provocados por lâminas de barbear, queimaduras de cigarros, estão grávidas ou sofrem de stress pós-traumático. Seguem-se as sessões de apoio psicológico. Depois, os dias desenrolam-se quase rotineiros, com tarefas quotidianas que as responsabilizam. Para elas, Iana representa muito mais do que uma família, porque foi a sua própria que, na maior parte das vezes, as rejeitou: “Os pais condenam-nas por terem sido prostitutas, por se terem deixado enganar, por os envergonharem perante os vizinhos.
Somos uma sociedade doente, onde as crianças ainda são educadas sob a divisa: ‘fui eu que te fiz, sou eu que te mato!’ Escravos de preconceitos sociais, os pais sofrem em silêncio comprometido, sobretudo se as filhas regressam grávidas. E para garantirem que as raparigas não os processam, alguns traficantes não hesitam em casar com elas!” E as que decidem levar os traficantes à barra do tribunal “têm de enfrentar os muito bem pagos advogados destes últimos e suportar pressões e ameaças para renunciarem ao processo”. E, às vezes, cedem. Também nestas ocasiões têm o apoio de Iana. Incentiva-as a que se batam para que os culpados sejam punidos. Depois de conversar e almoçar com as raparigas, Iana deixa o centro. A caminho do carro, recebe uma chamada. O sorriso apaga-se, o rosto fica tenso: “Sim. Com certeza que podes vir morar para o centro. Onde estás? Coragem! Estamos à tua espera!”
Iana Matei colecciona distinções
Desde 1996 que os chefes de redacção das 21 edições europeias da Reader’s Digest elegem o “Europeu do ano", de entre as personalidades que melhor encarnam as tradições e os valores da Europa. Iana Matei é a décima quinta pessoa a receber esta distinção. O título honorífico, atribuído pela primeira vez a uma personalidade romena, tem um prémio de cinco mil dólares e foi entregue, oficialmente, a Iana Matei a 20 de Janeiro, em Bucareste, explica o Reader’s Digest Schweiz, acrescentando que o trabalho desta pioneira “é hoje reconhecido para além das fronteiras do seu país. Iana Matei colabora com organismos internacionais como a Agência das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime, informa o Governo norte-americano sobre a situação na Roménia e é conselheira da NATO em matéria de luta contra a prostituição forçada. Reconhecendo o seu envolvimento nesta causa, a Secretaria de Estado do Governo dos Estados Unidos nomeou Iana Matei, em 2006, “Heroína do Ano”. No ano seguinte a Câmara dos Lordes do Reino Unidos distinguiu-a com o “Abolitionist Award”.
Fonte:/www.presseurop.eu
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