sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Pesquisa aborda percepção dos trabalhadores de Belo Monte sobre exploração sexual

Prevenir novos casos de exploração sexual contra crianças e adolescentes é uma das principais metas da campanha “O Rio é Nossa Rua, Não o Caminho para a Exploração Sexual”, lançada na última terça-feira, 16, no Campus de Altamira da Universidade Federal do Pará (UFPA). 

Durante o evento, foram apresentados pelo professor Assis da Costa Oliveira os resultados do relatório “Trabalhadores e Trabalhadoras de Belo Monte: percepções sobre exploração sexual e prostituição”. A programação contou com a presença de autoridades locais de órgãos públicos e representantes de entidades sociais.

Segundo dados do Disque 100, só no primeiro semestre de 2015, foram registrados 4.580 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil. A campanha, promovida pelo Movimento de Emaús, por meio do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), tem por objetivo fazer a sociedade e, em especial, as crianças e os adolescentes perceberem que a exploração sexual e o tráfico de crianças são violações de direitos, por isso é necessário denunciar esta prática.

Por outro lado, o relatório apresentado no evento foi desenvolvido como parte do Pacto do Compromisso firmado entre o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Altamira, com operacionalização da Comissão Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes de Altamira, e coordenação da UFPA para a sistematização e análise dos dados.

Monitoramento - A pesquisa, coordenada pelo professor Assis Oliveira, foi desenvolvida no contexto da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, nos meses de abril e maio de 2015. O professor explica que o estudo tem o compromisso com a formulação de medidas para “empreender ao monitoramento dos locais de potencial vulnerabilidade sexual de crianças e adolescentes na área de influência direta da obra de Belo Monte”, assim como “obter subsídios para a proposição de medidas, que aumentem o grau de responsabilização do consórcio empresarial para com o enfrentamento da exploração sexual, tornando-se, também, uma referência para outros locais de implantação de grandes obras na Amazônia”.

Resultados - De acordo com dados do relatório, 1.483 trabalhadores e trabalhadoras participaram da pesquisa, por meio de questionário contendo 10 perguntas objetivas. Os principais resultados apontam que 65% dos participantes (971) teriam conhecimento de locais de exploração sexual e prostituição na região, de influência da obra da hidrelétrica. Quando se solicitou aos participantes a localização geográfica desses lugares, 70% das respostas indicavam a cidade de Altamira como principal região de concentração dos locais de exploração sexual e prostituição. Quanto ao conhecimento da presença de crianças e adolescentes nesses ambientes, um total de 260 pessoas (17,5%) indicaram positivamente para tal situação.

Discutir e prevenir - O professor Assis Oliveira comenta que uma das conclusões que podem ser obtidas é que continua alto o número de pessoas que indica ter conhecimento de locais para exploração sexual e prostituição, “o que sinaliza, de certo, uma alta projeção de envolvimento direto com tais locais, fruto, como podemos notar pelos dados, de um prejuízo da manutenção dos vínculos conjugais e familiares dos trabalhadores e do envolvimento com drogas” e ,ainda, pela “carência de opções de lazer, que acabam impulsionando a inserção em dinâmicas de exploração sexual e de prostituição.”

Assis Oliveira ressaltou, também, a importância de discutir, com base nos dados obtidos, a responsabilidade do poder público em oferecer políticas públicas, especialmente no campo do lazer e da segurança, que possam assegurar a prevenção e a repressão qualificada aos cenários de exploração sexual.

O relatório pode ser acessado  aqui.


Fonte: UFPA (Texto: Rafael Rocha – Assessoria de Comunicação da UFPA)

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