sábado, 24 de outubro de 2015

HIV: Cresce contaminação em MG

Profissionais alertam que diagnóstico precoce da Aids é fundamental para evitar mortes.
Para especialista, imprudência e excesso de confiança explicam elevação do número de infectados.


 A preocupação dos estudantes após o boato sobre a aluna com HIV na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) revela que a carapuça serviu para muitos dos jovens, que se expuseram a situações de risco ao transarem sem camisinha. Essa é uma realidade que não está restrita a Ouro Preto e que pode explicar o fato de que as contaminações por HIV no grupo de pessoas entre 20 e 34 anos não param de crescer em Minas e representam 42% do total de casos registrados no Estado. Para especialistas, esse comportamento é preocupante uma vez que os universitários estão na fase da vida em que contam com maior frequência sexual. Eles alertam também para o consumo excessivo de bebida alcoólica, que aumenta as chances de uma relação sem prevenção.

Os dados da Secretaria de Estado de Saúde mostram que as contaminações por HIV estão em alta desde 2010 em Minas. Naquele ano, foram 2.256 casos notificados. Em 2014, esse número passou para 3.241, uma elevação de 43%. Se os números gerais já preocupam, a situação fica pior quando é feito o recorte por faixa etária. Em 2010, foram 912 contaminações por HIV em pessoas entre 20 e 34 anos, contra 1.449 no ano passado, uma elevação de 58%. Já quando analisados os adolescentes de 14 a 19 anos, o crescimento é de 170%, passando de 44 casos para 119.

Para o médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG Dirceu Greco, o aumento da disseminação do HIV entre os jovens ocorre por uma combinação de motivos que vão de uma maior confiança de que as pessoas com que se relacionam não estão contaminadas até a maior frequência da atividade sexual na atual geração. “Todos os jovens sabem quais são os métodos de prevenção, mas eles se sentem seguros porque não acreditam que, dentro daquele pessoal da turma em que se relacionam, pode ter alguém com o HIV. Por outro lado, é nessa idade que as pessoas transam mais, e o sexo tem ficado cada vez mais fácil. Quanto maior o número de relações, maiores as chances de contaminação. Mas o que esses jovens precisam entender é que não existe grupo de risco ou comportamento de risco. Se você transou sem camisinha, você pode estar com HIV”.

Greco também destaca o papel que o abuso da bebida alcoólica pode ter como fator que contribua para a contaminação. “Uma vez que as pessoas estão bêbadas, é muito mais fácil se esquecer da prevenção”, diz.

O infectologista ainda analisa que, se por um lado o pânico gerado pelo boato não pode ser considerado positivo, por outro o alerta que foi dado aos estudantes pela preocupação de estar contaminado pode servir para mudar os hábitos dos jovens, que passam a se prevenir e fazer exames com maior frequência.

“Há um pensamento de purificação do parceiro. Você começa a namorar e, três meses depois, para de usar camisinha, sem fazer nenhum exame. Esse alerta também é importante para que as pessoas façam exames com uma frequência maior. Se der positivo, já é possível iniciar o tratamento e levar uma vida normal. A mortalidade por Aids ainda ocorre porque muitas pessoas descobrem tardiamente a doença”, conclui Dirceu Greco.

Números
Casos. Até setembro deste ano, o número de jovens entre 20 e 34 anos contaminados com HIV em Minas era de 885. Já entre adolescentes de 14 a 19 anos, foram registrados 49 casos.

Universidade precisa discutir DSTs
Para o médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Greco, há uma negligência das instituições de ensino na prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).

“Você pode perguntar para qualquer estudante universitário de qualquer instituição, e todos vão te dizer que nunca tiveram aula sobre educação sexual durante o seu curso. É preciso avançar muito nesse caráter educacional para conscientizar os jovens da prevenção”.

Segundo Greco, o único método eficaz de prevenção às DSTs é a camisinha. Ele alerta que, apenas uma vez em que não se usa o preservativo, a pessoa já corre o risco de contaminação pelo vírus causador da Aids. “Diferentemente da tuberculose, da gripe e de outras doenças transmissíveis, ninguém pega o vírus HIV sem consentimento. Retirando obviamente os casos de estupro e acidentes, só pega Aids quem fez a escolha por transar sem camisinha. Se a pessoa sempre fizer a escolha pela prevenção, ela nunca será contaminada”, ressaltou o infectologista.

Fonte: O Tempo

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