sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Jesus, amigo dos excluídos

José Antonio Pagola
Jesus era muito sensível ao sofrimento de quem encontrava no Seu caminho, marginalizados pela sociedade, desprezados pela religião ou rejeitados pelos sectores que se consideravam superiores moral ou religiosamente.

É algo que Lhe sai de dentro. Sabe que Deus não discrimina ninguém. Não rejeita nem excomunga. Não é só dos bons. A todos acolhe e bendiz. Jesus tinha o hábito de levantar-se de madrugada para orar. Em certa ocasião revela como contempla o amanhecer: "Deus faz sair o Seu sol sobre bons e maus". Assim é Ele.
Por isso, por vezes, reclama com força que cessem todas as condenações: "Não jugueis e não sereis jugados". Outras, narra pequenas parábolas para pedir que ninguém se dedique a "separar o trigo e o joio" como se fosse o juiz supremo de todos.
Mas o mais admirável é a Sua atuação. O rasgo mais original e provocativo de Jesus foi o Seu hábito de comer com pecadores, prostitutas e gente indesejável. O facto é insólito. Nunca se tinha visto em Israel a alguém com fama de "homem de Deus" comendo e bebendo animadamente com pecadores.
Os dirigentes religiosos mais respeitáveis não o puderam suportar. A sua reação foi agressiva: "Aí tendes a um comilão e bêbado, amigo de pecadores". Jesus não se defendeu. Era certo. No mais íntimo do Seu ser sentia um respeito grande e uma amizade comovedora para com os rejeitados da sociedade ou da religião.
Marcos recolhe no seu relato a cura de um leproso para destacar essa predileção de Jesus pelos excluídos. Jesus atravessa uma região solitária. De repente aproxima-se um leproso. Não vem acompanhado por ninguém. Vive na solidão. Leva na sua pele a marca da sua exclusão. As leis condenam-no a viver afastado de todos. É um ser impuro.
De joelhos, o leproso faz a Jesus uma súplica humilde. Sente-se sujo. Não lhe fala de doenças. Só quer ver-se limpo de todo estigma: «Se queres, podes limpar-me». Jesus comove-se ao ver a Seus pés aquele ser humano desfigurado pela doença e o abandono de todos. Aquele homem representa a solidão e o desespero de tantos estigmatizados. Jesus «estende a Sua mão»procurando o contacto com a sua pele, «toca-lhe» e diz-lhe: «Quero. Fica limpo».
Sempre que discriminamos a partir da nossa suposta superioridade moral a diferentes grupos humanos (vagabundos, prostitutas, toxicómanos, sidoticos, imigrantes, homossexuais...), ou os excluímos da convivência negando-lhes o nosso acolhimento, estamos a afastar-nos gravemente de Jesus.

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 Aquele que cura
Por José Antonio Pagola
 Segundo Marcos, a primeira aparição pública de Jesus foi a cura de um homem possuído por um espírito maligno na sinagoga de Cafarnaum. É uma cena impressionante, narrada para que, desde o início, os leitores descubram a força que cura e que liberta de Jesus.
 É sábado e o povo encontra-se reunido na sinagoga para escutar o comentário da Lei explicada pelos escribas. Pela primeira vez Jesus vai proclamar a Boa Nova de Deus precisamente no lugar onde se ensina oficialmente o povo as tradições religiosas de Israel.
As pessoas ficam surpreendidas ao escutá-lo. Têm a impressão de que até agora estiveram a escutar notícias velhas, ditas sem autoridade. Jesus é diferente. Não repete o que ouviu a outros. Fala com autoridade. Anuncia com liberdade e sem medos de um Deus Bom.
De repente um homem «põe-se a gritar: Vieste a acabar com nós?».Ao escutar a mensagem de Jesus, sentiu-se ameaçado. O seu mundo religioso derruba-se. Diz-nos que está possesso por um «espírito imundo», hostil a Deus. Que forças estranhas o impedem de continuar a escutar Jesus? Que experiências más e perversas lhe bloqueiam o caminho até ao Deus Bom que lhe anunciam?
Jesus não se acobarda. Vê o pobre homem oprimido pelo mal, e grita: «Cala-te e sai dele». Ordena que se calem essas vozes malignas que não o deixam encontrar-se com Deus nem consigo mesmo. Que recupere o silêncio que cura o mais profundo do ser humano.
O narrador descreve a cura de forma dramática. Num último esforço para destruir-Lo, o espírito «retorceu-o e, dando um grito muito forte, saiu». Jesus conseguiu libertar o homem da sua violência interior. Pôs fim às trevas e ao medo a Deus. Daí em diante poderá escutar a Boa Nova de Jesus.
Não poucas pessoas vivem no seu interior de imagens falsas de Deus que lhes faz viver sem dignidade e sem verdade. Sentem-No, não como uma presença amistosa que convida a viver de forma criativa, mas como uma sombra ameaçadora que controla a sua existência. Jesus sempre começa a curar libertando de um Deus opressor.
As Suas palavras despertam a confiança e fazem desaparecer os medos. As Suas parábolas atraem para o amor a Deus, e não para a sustentação cega da lei. A Sua presença faz crescer a liberdade, não os servilismos; suscita o amor à vida, não o ressentimento. Jesus cura porque ensina a viver apenas da bondade, do perdão e o amor que não exclui ninguém. Cura porque liberta do poder das coisas, do autoengano e da egolatria.

Fonte: adital

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