quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Bispos do mundo pedem perdão por abusos e omissões

Os bispos, de mais de cem países dos cinco continentes, pediram perdão pela ‘tragédia’ e o ‘crime’ dos abusos sexuais cometidos por padres e não contrapostos por seus superiores, em uma vigília de oração penitencial na igreja de Santo Inácio em Roma.  Uma vítima irlandesa de abuso sexual disse claramente em uma cúpula realizada no Vaticano, na manhã da terça-feira, 8 de fevereiro, que a sua experiência de ser ignorada e do seu sofrimento ser minimizado pelos líderes da Igreja causou "a morte final de qualquer respeito" que ela tivera uma vez pela autoridade eclesial.

Marie Collins (foto) disse que deve haver "reconhecimento e responsabilização pelos danos e pela destruição que foram feitos à vida das vítimas e às suas famílias" antes que ela e outras vítimas possam recuperar a confiança nas lideranças da Igreja Católica.
Collins fez as declarações em uma cúpula de quatro dias sobre a crise dos abusos sexuais intitulada Rumo à cura e à renovação, que está sendo realizada na universidade jesuíta Gregoriana.Em declarações à imprensa depois de sua fala, Collins manifestou a esperança de que o simpósio sugira que a Igreja está se movendo na direção certa.
Collins contou aos participantes que foi abusada aos 13 anos, logo após sua Confirmação, por um capelão de um hospital onde ela estava se recuperando de uma doença. Como uma católica profundamente fiel à época, disse ela, a experiência foi profundamente traumática.
"Aqueles dedos que abusavam do meu corpo na noite anterior estavam, na manhã seguinte, segurando e me oferecendo a hóstia sagrada", disse ela, explicando que a sua resposta inicial foi a de culpar a si mesma. Aos 47 anos, disse, ela fez uma denúncia inicial da sua experiência a um pároco da Irlanda."Esse padre se recusou a guardar o nome do meu abusador e disse que não via necessidade em denunciar o capelão", afirmou. "Ele me disse que o que acontecera provavelmente era minha culpa. Essa resposta me despedaçou".
Collins disse que, depois, ela se dirigiu ao arcebispo de Dublin, naquele momento o cardeal Desmond Connell, sem melhores resultados.
"O padre que tinha me agredido sexualmente foi protegido da perseguição pelos seus superiores", afirmou. "Ele foi deixado durante meses em seu ministério paroquial que incluía a tutoria de crianças que se preparavam para a Confirmação. A segurança dessas crianças foi ignorada pelos seus superiores". Mais tarde, o padre foi condenado, disse Collins, por atacar outra jovem. Connell, que renunciou em 2004, tem agora 85 anos.
"O arcebispo considerou o meu abuso 'histórico' e, por isso, achou que seria injusto manchar o 'bom nome' do sacerdote agora", disse Collins. "Já ouvi esse argumento de outras pessoas da liderança da Igreja Católica, e sempre há a cegueira perante o risco atual às crianças por causa desses homens".Tomadas em conjunto, contou Collins, essas experiências produziram uma perda da fé – não em Deus, mas nas lideranças da Igreja.
"A morte final de qualquer respeito que possa ter sobrevivido em mim com relação aos meus líderes religiosos veio depois da condenação do meu agressor", disse. "Eu fiquei sabendo que a diocese tinha descoberto, poucos meses depois do meu abuso, que esse padre estava abusando de crianças no hospital, mas ela não fez nada a respeito, exceto movê-lo para uma nova paróquia".
Com relação ao futuro, ela disse que a responsabilização – não apenas o pedido de desculpas – é a chave para restaurar a confiança.
"Como faço para recuperar o meu respeito pelas lideranças da minha Igreja? Pedir desculpas pelas ações dos padres abusadores não é suficiente. Deve haver um reconhecimento e uma responsabilização pelos danos e pela destruição que foram feitos à vida das vítimas e às suas famílias pelos encobrimentos então deliberados e pelo maltrato diante dos casos por parte dos seus superiores antes que eu ou outras vítimas possamos encontrar a verdadeira paz e cura".
Sheila Hollins, psiquiatra e conselheira dos bispos ingleses, disse aos participantes que o ponto de vista de Collins é amplamente compartilhada entre as vítimas. "Não ser acreditado ou, o que é pior, ser culpado pelo abuso aumenta enormemente o sofrimento emocional e mental causado pelo abuso sexual", disse Hollins.
"O fracasso de um abusador em admitir a sua culpa, ou o de seus superiores em tomar as medidas apropriadas, acresce ainda mais o dano".
No caso de um padre, "há uma estratificação a mais da confiança e da deferência, o que torna ainda mais difícil a revelação do abuso". "Na minha experiência – destacou a psiquiatra –, a falta de uma admissão de culpa e de desculpas é comumente o principal obstáculo para a recuperação e para a cura. Como pessoa de fé, acredito muito no poder do perdão como agente de cura. Mas o perdão raramente é alcançado sem a confissão e a reparação".
A justiça é, portanto, "uma necessidade para as vítimas dos abusos sexuais do clero". Na verdade, "o fato de ser acreditado tem por si só um poder de cura, especialmente se associado a uma admissão de culpa ou responsabilização e ainda mais se houver uma tentativa de reparação". Mas esse tipo de justiça é apenas o começo.
"A cura – defendeu a psiquiatra – é um processo lento, e alguns jamais vão se curar totalmente de um abuso tão profundo de poder e de confiança sofrido quando era mais vulneráveis, especialmente se quem cometeu o abuso era um padre. Uma assistência contínua, a amizade e a disponibilidade de ouvir repetidamente a raiva e a fragilidade que restaram exigirão uma considerável paciência".
Fonte: ihu/ Rádio vaticano

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