"Como renovar o feminismo
sem perder o sentido profundo e rico das relações femininas tradicionais? Sem
nos condenarmos a uma sociedade fria e dominada pelo útil, pela utopia do
prazer? Como fazer para que as mulheres, também do ponto de vista do comportamento
sexual, não se tornem "um homem como qualquer outro", mas possam
permanecer como são?"
Artigo de Lucetta Scaraffia
Este artigo se insere no debate –
suscitado pela investigação jornalística "Sexo e amor", desenvolvida
pelo Corriere – que estará no centro da manifestação "Il Tempo delle
Donne", programada para a Trienal de Milão, a partir do dia 9 até o dia 11
de setembro.
Aconteceu comigo recentemente:
uma jovem bonita, inteligente, muito comprometida com a sua profissão, ao me
contar a situação que estava vivendo, me disse: "Há três meses eu não bato
cartão", isto é, aludindo à ausência de relações sexuais recentes. Uma
linguagem que, antigamente – mas também nem tantos anos atrás –, teria sido
usada apenas por um soldado com um companheiro.
E, como eu a conheço bem, eu sei
que é uma jovem que sonharia apenas com um amor verdadeiro e com uma família
com filhos, mas ela sabe bem que a cultura pós-revolução sexual não lhe permite
expressar publicamente – mas talvez nem a si mesma – essa aspiração, senão às
custas de se ver definida como uma retrógrada antiquada.
Justamente ela é o exemplo mais
claro da situação das jovens mulheres com a revolução sexual realizada: podem
fazer de tudo, ninguém se permite um julgamento sobre elas partindo do seu
comportamento sexual – e isso, sem dúvida, é bom –, mas essa liberdade
verdadeiramente as torna livres? Ou – se ainda é possível falar nestes termos –
mais felizes?
Por exemplo, mais felizes do que
as suas avós, que viviam no meio das proibições, mas que podiam dizer a si
mesmas e aos outros que aspiravam ao amor e à família?
Com a pílula, as mulheres puderam
viver uma liberdade sexual até então experimentada apenas pelos homens, mas se
viram vivendo um tipo de relações modeladas sobre a sexualidade masculina.
Promiscuidade, leveza,
superficialidade de relações. Relações que talvez não eram, afinal, tão
congênitas à sexualidade feminina. Além disso, tiveram que assumir, com a
pílula, todo o peso de contracepção, mesmo que às custas de pagar um preço não
irrisório para a sua saúde.
Não é por acaso que, hoje, na
França e na região anglo-saxônica, muitas jovens mulheres se recusam a usar a
pílula para salvaguardar a sua saúde e preferem recorrer a métodos naturais.
Sim, precisamente aqueles métodos naturais que Paulo VI propunha na Humanae
vitae, despertando, na época, gargalhadas e deboches.
Além disso, também é preciso
considerar que os profetas da "libertação sexual" eram todos homens –
de Reich a Kinsey –, enquanto às mulheres só tinha sido deixada a tarefa de
confirmar as suas teorias com livros autobiográficos. As mulheres,
provavelmente, nunca teriam desenvolvido um programa utópico de tal porte sobre
a sexualidade, conhecendo muito de perto também os seus aspectos negativos –
que, obviamente, não consistem apenas no temor de uma gravidez – que certamente
não foram apagados nessas décadas de libertação.
Mas, certamente, o feminismo dos
anos 1970, em grande medida, assumiu essa utopia, travestindo-a de utopia de
libertação da mulher. Libertação de quê?
Em primeiro lugar, libertação da
maternidade, através de duas estradas que foram pagas pelas mulheres no seu
corpo, isto é, a pílula e o aborto. Hoje, as mulheres jovens, que têm toda a
liberdade sexual que querem, não têm a de ter filhos, especialmente a de ter
filhos quando jovens. E não só porque o mercado de trabalho não permite isso,
mas também porque elas não encontram facilmente homens jovens que tenham o
desejo de assumir a responsabilidade de serem pais.
No passado, os homens se tornavam
pais no casamento, que coincidia mais ou menos com o início da sua vida sexual:
hoje, certamente eles não precisam se casar para ter relações sexuais, e a
maioria não tem problemas de tempo. Para eles, de fato, não existe o relógio
biológico que, em vez disso, continua condicionando a possibilidade de as
mulheres se tornarem mães, que não é superado nem mesmo graças aos progressos
da reprodução assistida.
Os tempos da fecundidade feminina
permaneceram invariados, de fato, mas a sociedade parece não se dar conta
disso, não quer ver essa nova ocasião de diferença entre os sexos que penaliza
as mulheres.
Essencialmente, as mulheres, nos
países ocidentais, estão pagando pelo inexistente reconhecimento cultural e
social atribuído à procriação. Propor o dilema entre criação de qualquer tipo
(a criação de uma linha de roupas, de um novo prato ou de uma marca
publicitária...) e procriação – e desvalorizando a segunda em favor da primeira
– significa, de fato, negar valor ao papel biológico da mulher e levá-la a
assumir um papel masculino. Enquanto a procriação deveria ser considerada como
uma riqueza essencial para toda a comunidade humana.
A antítese à liberdade sexual,
entendida sempre, no fundo, como liberdade da procriação, não é só o Fertility
Day proposto pela ministra italiana da Saúde, Lorenzin. Na França, há filósofas
feministas que estão elaborando uma visão nova e crítica do feminismo, tentando
abordar a questão fundamental: como se renovar sem perder o sentido profundo e
rico das relações femininas tradicionais? Sem nos condenarmos a uma sociedade
fria e dominada pelo útil, pela utopia do prazer? Como fazer para que as
mulheres, também do ponto de vista do comportamento sexual, não se tornem
"um homem como qualquer outro", mas possam permanecer como são?
Ainda há muito trabalho a se
fazer, muito a se refletir, sem se deixar encantar pelas ideologias do passado,
que já tiveram o seu tempo e, substancialmente, fracassaram na sua promessa
utópica de felicidade.
Fonte: Ihu
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