sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

"Recebia bilhetes dos professores me chamando para sair"

Juliana de Faria, criadora do grupo que lançou a campanha #primeiroassedio, relata o assédio que sofria dentro da escola (Foto: Edu Lopes/Click de Gente/ÉPOCA, Produção Daniele Verillo, Makeup Adilson Vital)
Juliana de Faria, criadora do grupo que lançou a campanha #primeiroassedio, relata o assédio que sofria dentro da escola.

 “Eu nunca me senti muito feliz em ser mulher porque claramente eu não tinha a mesma liberdade que os homens”, diz Juliana de Faria, de 30 anos, fundadora do coletivo feminista Think Olga.  Juliana cria campanhas e conteúdos como o Chega de Fiu Fiu e a hashtag #primeiroassedio.

 “Meu irmão e os meninos ao meu redor tinham a liberdade de serem imperfeitos. Eu não”, diz Juliana, que relembra as inúmeras vezes em que foi repreendida por não fechar as pernas ao sentar –“isso não é coisa de mocinha”, ouvia—ou que foi vítima de “slut-shame” (ato de estigmatizar uma mulher por um comportamento considerado promíscuo ou sexualmente provocativo). Juliana conta que isso acontecia quando tinha 11 anos e as recriminações partiam das inspetoras escolares. “Elas se importavam mais com os estudos dos meninos do que com o meu. Diziam que eu atrapalhava os meninos com meus shorts curtos, mas me fazer ficar envergonhada não importava tanto”, afirma. Foi nessa época que foi assediada pela primeira vez. “Estava voltando da padaria, um carro passou perto de mim e gritou palavrões. Não entendi aquilo e comecei a chorar. Uma senhora me parou na rua e me disse ‘não seja boba, aceite isso como um elogio’”, diz.

Na escola, onde uma criança ou adolescente deveria se sentir segura, a agressão se repetia. “Aos 16 anos sofria assédio dos meus professores. Recebia bilhetes e emails deles me chamando para sair. Podia perceber os olhares deles pelo colégio. Na época eu fiquei muito acuada. Era muito fácil me culpar. Não contei para ninguém por medo e até hoje eu tenho medo de falar”, diz. Ao longo dos anos, Juliana criou uma espécie de couraça para se proteger: preferia roupas largas, não usava decote, e tentava esconder qualquer traço de sensualidade que pudesse ter. Deu um basta ao acúmulo de sentimentos ruins em 2013, ao criar o Think Olga. A partir daí ela já criou as campanhas Chega de Fiu Fiu e da hashtag #primeiroassedio, que ajudaram mulheres a lutar contra o assédio.

Fonte: Revista Época

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