domingo, 29 de novembro de 2015

INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA

Jesus foi um criador incansável de esperança. Toda a sua existência consistiu em contagiar os outros com a esperança que ele mesmo vivia a partir do mais profundo de seu ser. Hoje escutamos o seu grito de alerta: "Reanimai-vos, levantai vossa cabeça; aproxima-se vossa libertação".

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas Lucas 21,25-28. 34-36 que corresponde ao Primeiro Domingo do Advento, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.  Eis o texto.


Uma convicção indestrutível sustenta, desde o início, a fé dos seguidores de Jesus: animada por Deus, a história humana encaminha-se para a sua libertação definitiva. As contradições insuportáveis do ser humano e os horrores que se cometem em todas as épocas não devem destruir a nossa esperança.

Este mundo que nos sustenta não é definitivo. Um dia a criação inteira dará "sinais" de que chegou ao seu fim para dar lugar a uma vida nova e liberta que nenhum de nós pode imaginar nem compreender.

Os evangelhos recolhem a recordação de uma reflexão de Jesus sobre este final dos tempos. Paradoxalmente, a sua atenção não se concentra nos “acontecimentos cósmicos” que se possam produzir naquele momento. O seu principal objetivo é propor aos seus seguidores um estilo de viver com lucidez diante desse horizonte.

O final da história não é o caos, a destruição da vida, a morte total. Lentamente, no meio de luzes e trevas, escutando as chamadas do nosso coração ou deixando o melhor que há em nós, vamos caminhando em direção ao mistério último da realidade que aqueles que creem  chamam “Deus”.

Não temos que viver dominados pelo medo ou a ansiedade. O “último dia” não é um dia de ira e de vingança, mas de libertação. Lucas resume o pensamento de Jesus com estas palavras admiráveis: “Levantai-vos, erguei a cabeça; aproxima-se a vossa libertação”. Só então conheceremos com profundidade como Deus ama ao mundo.

Temos de reavivar a nossa confiança, levantar o ânimo e despertar a esperança. Um dia os poderes financeiros se afundarão. A insensatez dos poderosos acabará. As vítimas de tantas guerras, crimes e genocídios conhecerão a vida. Os nossos esforços por um mundo mais humano não se perderão para sempre.

Jesus esforça-se por sacudir as consciências dos seus seguidores. “Tende cuidado: que a vossa mente não fique insensível”. Não vivais como imbecis. Não vos deixeis arrastrar pela frivolidade e os excessos. Mantei viva a indignação. “Estai sempre despertos”. Não vos relaxeis. Vivei com lucidez e responsabilidade. Não vos canseis. Mantei sempre a tensão.

Como vivemos este tempo difícil para quase todos, angustiante para muitos, e cruel para quem se afunda na impotência? Estamos despertos? Vivemos dormindo? A partir das comunidades cristãs, temos de alentar a indignação e a esperança. E só há um caminho: estar junto aos que estão ficando sem nada, mergulhados no desespero, na raiva e na humilhação.


NÃO MATAR A ESPERANÇA


Jesus foi um criador incansável de esperança. Toda a sua existência consistiu em contagiar os outros com a esperança que ele mesmo vivia a partir do mais profundo de seu ser. Hoje escutamos o seu grito de alerta: "Reanimai-vos, levantai vossa cabeça; aproxima-se vossa libertação. Porém, tendes cuidado: que a vossa mente não se enfraqueça com o vício, a bebida e a preocupação com o dinheiro".

As palavras de Jesus não perderam a atualidade, pois também hoje continuamos matando a esperança e estragando a vida de muitas maneiras. Não pensemos naqueles que, à margem de toda fé, vivem segundo aquele princípio: "comamos e bebamos, pois amanhã morreremos", mas naqueles, chamados cristãos, que podem cair numa atitude não muito diferente: "Comamos e bebamos, pois amanhã virá o Messias".

Quando uma sociedade tem por objetivo, quase único da vida, a satisfação cega dos apetites e se fecha cada um em seu próprio prazer, ali morre a esperança.

Aqueles que estão satisfeitos não buscam nada, realmente, novo! Não trabalhar em profundidade vai muito bem. A partir desta perspectiva, ouvir falar que um dia tudo pode desaparecer "soa" a "visões apocalípticas" nascidas do desvario de mentes tenebrosas.

Tudo muda quando, o mesmo Evangelho, é lido a partir do sofrimento do Terceiro Mundo. Quando a miséria é insuportável e o momento presente é vivido somente como sofrimento destruidor, é fácil sentir, exatamente, o contrário. "Graças a Deus isto não durará para sempre".

Os últimos da Terra são quem melhor podem compreender a mensagem de Jesus: "Felizes os que choram, porque deles é o reino de Deus". Estes homens e mulheres, cuja existência é de fome e miséria, estão esperando algo novo e diferente que responda aos seus anseios mais profundos de vida e de paz.

Um dia "o sol, a lua e as estrelas tremerão", isto é, tudo aquilo que cremos poder confiar para sempre se afundará. Nossas ideias de poder, segurança e progresso se abalarão. Tudo aquilo que não conduz o ser humano à verdade, à justiça e à fraternidade entrará em colapso, e "na terra haverá angústia das pessoas".

Porém, a mensagem de Jesus não é de desesperança para ninguém: Assim então, no momento da verdade última, não vos desespereis, ficai despertos, "mantende-vos de pé", colocai vossa confiança em Deus. Vendo de perto o sofrimento cruel daqueles povos da África, me surpreendi, a mim mesmo, sentindo algo que pode parecer estranho num cristão. Não é, propriamente, uma oração a Deus. É um desejo ardente e uma invocação diante do mistério da dor humana. É isto que me saía de dentro: "Por favor, que haja Deus!".


Fonte: Ihu

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