quarta-feira, 12 de março de 2014

Tráfico humano: um desafio para toda sociedade, igrejas e religiões

Precisamos vencer o medo e denunciar práticas que desrespeitam e maltratam a vida. Anunciar a sacralidade da vida é uma tarefa teológica, pois a vida é presente, é graça de Deus. Ela é também tarefa pedagógica, precisamos dialogar em nossas escolas, centros de formação sobre as formas de tráfico humano em nosso contexto local, mas também de alcance global. 


Por Claudete Beise Ulrich, Doris Kieslich e Silvia Cunto Barbosa

Há poucos dias, Adidas retirou do mercado camisetas da Copa com forte apelo sexual. As camisetas uma de cor verde mostrava a frase "Eu amo o Brasil", cujo coração tinha o formato de um bumbum de biquíni. A outra camiseta, amarela, trazia o slogan: "lookin' to score", que pode ser traduzido como "buscando gols", mas que também pode fazer uma alusão a "pegar garotas".

A retirada das camisetas do mercado só foi possível, pois um grande grupo de pessoas se manifestou publicamente via diferentes meios da mídia contra a venda das camisetas. Além disso, a ação imediata da presidente da República, Dilma Roussef, que usou a sua conta no Twitter para expressar o seu descontentamento com a mensagem de cunho sexual feita pela Adidas foi de fundamental importância.
Também a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência publicou nota de repúdio à "confecção de camisetas com ilustrações de cunho sexual associado às cores e aos símbolos do Brasil, deixando claro que qualquer estímulo nesse sentido significa associar-se a criminosa prática do turismo sexual, que se constitui em uma grave violação de Direitos Humanos combatida permanentemente pelo país". (Veja: Do UOL, em São Paulo, 25/02/2014)
Somente ações conjuntas, como o exemplo citado, podem combater de forma definitiva o turismo sexual e o tráfico humano, que inclui mulheres, crianças, jovens, trabalhadores no Brasil e no mundo todo. As maiores vitimas do tráfico humano são as pessoas pobres. É muito triste constatar que o tráfico humano, atualmente, é uma atividade ilegal muito rentável em nosso mundo, perdendo somente para o tráfico de drogas.
Uma notícia, por exemplo, relatada na Deutsche Welle em 2013 por Mariana Santos relata que cresceu o número vitimas de tráfico humano na União Europeia . Que são as vítimas do tráfico?
São as pessoas submetidas à prostituição, trabalho forçado, mendicância, retirada de órgãos, adoção ilegal. É um crime muito bem organizado que lucra muito dinheiro. "É difícil de imaginar que, em nossos livres e democráticos países da União Europeia, dezenas de milhares de pessoas tenham sua liberdade roubada, que sejam negociadas como mercadorias", criticou a Comissária para os Assuntos Internos na Comissão Europa, Cecilia Malmström ao jornal alemão. "Mas essa é a triste verdade: o tráfico humano está por toda parte, à nossa volta, e mais perto do que pensamos."

Somos gratas que este ano a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica tem como tema "Fraternidade e Tráfico Humano", com o lema "É para a liberdade que Cristo nos Libertou.” Que este chamado ético profético possa ser um desafio para toda sociedade, igrejas e religiões. A vida de qualquer ser humano é sagrada. Ela não é mercadoria. Não pode ser vendida e nem comprada.O nosso corpo é templo e morada do Espírito Santo (1 Co 6.19). Portanto, qualquer ato contra a vida humana deve ser denunciado. A verdadeira liberdade necessita ser vivida com responsabilidade e com respeito a vida. A vivência da liberdade com responsabilidade nos torna pessoas livres, sensíveis e felizes.

Quando se aproxima o Dia Internacional da Mulher, bem como a realização da COPA do Mundo no Brasil, necessitamos refletir sobre esta triste realidade do tráfico humano em nosso país. Precisamos vencer o medo e denunciar práticas que desrespeitam e maltratam a vida. Anunciar a sacralidade da vida é uma tarefa teológica, pois a vida é presente, é graça de Deus. Ela é também tarefa pedagógica, precisamos dialogar em nossas escolas, centros de formação sobre as formas de tráfico humano em nosso contexto local, mas também de alcance global. Sem dúvida, é um tema complexo, e muitas vezes, invisibilizado, que necessita ser trazido para a discussão nos diferentes processos educativos.
Nós cremos no Deus da vida, que não compactua com a escravidão, com o tráfico, assim como nos conta o livro do Êxodo, especialmente os primeiros capítulos. As parteiras foram fieis e defenderam a vida de meninos e meninas. Deus viu, escutou o clamor, desceu e se colocou a caminho com o seu povo, afirmando que não queria o seu povo escravo. Os profetas também são bem claros, Deus ama a justiça, não compactua com a corrupção, nem com a venda dos pobres por um par de sandálias, conforme o Profeta Amós. A pergunta ética sobre o que significa liberdade é tarefa constante de todas as pessoas cristãs, que estão em busca de um mundo com paz e justiça. A vivência da liberdade liberta e não escraviza, o apostolo Paulo deixa isto bem claro na carta aos Gálatas. Nosso compromisso é viver com responsabilidade a liberdade, denunciando todo tipo de escravidão. Jesus afirma: "Eu vim para que todas as pessoas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Nós cremos que um outro mundo é possível. Sejamos profetas éticas/os, denunciando o pecado do tráfico humano em todas as suas formas, vivendo e anunciando a liberdade com responsabilidade e compromisso com a Vida de todos os seres humanos. Para continuar a reflexão uma poesia escrita pela Silvia e Doris de Fortaleza:

CLAMOR POR DIGNIDADE

Que violência é essa,
Que rouba dignidade,
Quando se trafica pessoas,
E mulheres violentadas?
São tantas marcas no corpo,
mas o pior é o da alma,
subtraindo cidadania,
de pessoas fragilizadas.
Há muito interesse implícito,
Rentável para os opressores,
Muita desigualdade,
pobreza e vulnerabilidade.
Crianças,jovens e mulheres,
São vítimas de organizações,
Vão-se fechando as portas,
Na mais pura escuridão.
Há muita brutalidade,
Exploração sexual,
Há remoção de órgãos,
Por uma máfia internacional.

Clamamos por vida e liberdade!

Claudete Beise Ulrich . Coordenadora de estudos – Academia de Missão junto a Universidade de Hamburgo, teóloga e pedagoga.
Doris Kieslich Cavalcante professora catequista voluntária na Ceclfor (Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Fortaleza),socióloga .
Silvia Cunto Barbosa,professora licenciada em língua portuguesa.

Fonte: adital

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