segunda-feira, 20 de maio de 2013

Ruas viram motéis em Belo Horizonte


Sexta-feira. Faltam poucos minutos para a meia-noite. Uma Doblò estaciona na Rua Aldo Casillo, no Bairro Mangabeiras, Centro-Sul de BH. O carro para sob a copa de uma árvore, em ponto pouco iluminado pelos postes. Não é possível discernir a cor do veículo, mas dá para ver o motorista sair sem camisa e ficar em pé de frente para a porta aberta do passageiro e fazer sexo com uma mulher.


No bairro predominam residências luxuosas e as ruas são pouco movimentadas na maior parte da noite, muita gente não teme “praticar ato obsceno em lugar público”, crime que pode ser punido com multa ou detenção de três meses a um ano, segundo o artigo 233 do Código Penal. O problema é antigo, mas moradores relatam que a situação piorou. “As queixas se tornaram mais frequentes há dois anos”, informou o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras, Marcelo Marinho Franco.

A maioria dos motoristas indiscretos, segundo ele, é cliente de garotas de programa e travestis que trabalham nas calçadas da Avenida Afonso Pena, tradicional ponto de prostituição. “Esses indivíduos passam de carro, pegam aquelas pessoas em exposição ali e levam para o Mangabeiras. Fazem ruas de motel”, constata. Uma das ruas mais problemáticas é a Aldo Casillo. “É a que tem mais reclamações. De tempos em tempos, solicitamos à Polícia Militar que dê prioridade a esse local. Pedimos que uma viatura passe toda noite, com giroflex ligado e tocando a sirene. E a PM tem nos atendido, na medida das suas limitações”, disse Franco.

Em uma residência da Aldo Casillo, uma administradora de empresas de 38 anos mora com o pai, de 73, e a mãe, de 72. “Sempre houve movimentação grande aqui, mas piorou muito de dois, três anos pra cá. Qualquer dia tem, mas sexta e sábado é pior. Eles costumam chegar depois das 22h e ficam na madrugada. Sai um carro, chega outro. No domingo, a gente encontra essa sujeira”, diz. São preservativos e papel higiênico  na calçada. A mãe critica a PM. “Tinha um casal fazendo sexo aqui em frente. Chamei a polícia, que só conversou com o pessoal, que se mandou e ficou por isso mesmo”, disse.

Na Comendador Viana, por volta das 23h30 de um sábado, um Siena estava estacionado atrás de uma caçamba. O “esconderijo” não era suficiente para omitir o casal que namorava no banco de trás. As ruas Engenheiro Bady Salum e Paschoal Riccio, no limite com o Parque das Mangabeiras, estão entre as mais procuradas, segundo o presidente da associação de moradores. “Sexta, sábado e domingo são os piores dias. Várias ruas sofrem com esse problema”, diz uma psicóloga de 50 anos. Pouco depois das 23h de uma sexta, havia um Palio estacionado na Paschoal Riccio, ao lado da Praça Luiz Otávio Fraga. Apesar de o veículo estar em um ponto escuro, sob uma árvore, a janela entreaberta deixava perceber o banco reclinado para trás, onde um casal fazia sexo.

Ao longo da Avenida Afonso Pena, principalmente entre as avenidas Brasil e Bandeirantes, prostitutas se exibem nas calçadas durante a noite. Elas ficam em pé, encostadas em postes e placas, sentadas em pontos de ônibus. Usam roupas diminutas, mas poucas chegam à ousadia de travestis que mostram os seios, ficam apenas de calcinha. Por volta das 21h30, uma garota trabalhava no quarteirão entre a Rua Maranhão e a Avenida do Contorno. Segurava uma bolsa, vestia uma blusa rosa decotada, saia preta justa e curta. Como a maioria das colegas, encarava com insistência, e às vezes com sorriso insinuante, os homens que passavam de carro. Sem revelar nome nem idade, contou que trabalha no local há cinco anos e que é comum fazer sexo no carro do freguês. “A gente vai mais a motel, mas às vezes é na rua mesmo, depende da vontade do cliente”, explicou. Ela confirma que o Mangabeiras é um dos endereços preferidos e que já foi abordada duas vezes pela polícia dentro de carros de clientes. “O policial só disse que rua não é lugar de fazer isso e a gente foi embora”, relatou.

A presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais, Cida Vieira, admite que algumas se relacionam com cliente dentro dos veículos: “O carro é propriedade do condutor, cabe a ele dizer o que pode fazer no carro. Se é uma coisa rápida, pode ser feita no carro. Quando é mais demorada, elas pedem para ser em motel”, acrescenta.
Fonte: Estado de Minas

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