quinta-feira, 23 de maio de 2013

Polícia Federal desarticula suposta rede de exploração sexual de indígenas no interior do AM


Após investigação iniciada no ano passado, a Polícia Federal no Amazonas prendeu nove pessoas suspeitas de abusar sexualmente de meninas indígenas em São Gabriel da Cachoeira, no município amazonense situado a 852 km de Manaus e na faixa de fronteira com a Colômbia. Políticos, empresários e comerciantes estão entre os suspeitos detidos na Operação Cunhantã, realizada na manhã desta quarta-feira (21). 

A ação contou com a participação da Força Áerea e do Exército Brasileiro.
Segundo Fábio Pessoa, delegado da Polícia Federal que comandou a operação, duas mulheres e sete homens foram presos, sendo que, entre os detidos, três são comerciantes de uma mesma família. As duas mulheres, de acordo com a PF, seriam as supostas aliciadoras das meninas indígenas.
Participaram da operação 45 pessoas, que saíram na manhã desta quarta de Manaus em um avião da Força Aérea Brasileira para São Gabriel da Cachoeira. O Exército ajudou no deslocamento das equipes até os locais de cumprimento de mandados de prisão. Ao todo, foram expedidos 11 mandados, sendo quatro de prisão preventiva, seis de prisão temporária e ainda um de prisão coercitiva.
Os sete homens e duas mulheres presos estão sendo trazidos de São Gabriel da Cachoeira para Manaus em uma aeronave da Força Aérea e devem desembarcar ainda na tarde desta quarta na capital. “Eles serão ouvidos e depois serão encaminhados para presídios em Manaus”, informou o delegado da Polícia Federal.
A operação Cunhantã surgiu a partir de denúncias sobre a exploração sexual de menores indígenas na cidade. Inicialmente, havia uma suspeita da existência de uma rede de pedofilia, mas de acordo com as investigações da polícia, não há rede organizada.
Exploração Sexual
No segundo semestre do ano passado, atendendo solicitação do Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM), a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar casos de exploração sexual de adolescentes indígenas em São Gabriel da Cachoeira. A investigação era realizada sob sigilo.
O município, localizado na faixa de fronteira com a Colômbia, tem população de maioria indígena, composta por 23 etnias. As denúncias apontavam que os casos mais frequentes eram de exploração sexual de garotas indígenas na faixa etária entre 13 e 16 anos. Havia suspeita de que a virgindade das meninas era negociada em troca de bebidas alcoólicas ou pequenas quantias de dinheiro. 

Meninas indígenas foram vítimas de abuso sexual em São Gabriel da Cachoeira, no interior de Amazonas (Foto: Adneison Severiano/G1 AM)
Ameaças
Por segurança, durante as investigações três irmãs vítimas dos abusos sexuais foram encaminhadas para o Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte.
Ainda durante a investigação em dezembro de 2012, o G1 falou com uma representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), que atua na coordenação regional Rio Negro – departamento responsável pelas ações voltadas às populações indígenas na região de São Gabriel da Cachoeira.
Temendo retaliações dos supostos autores dos abusos, a representante pediu para não ser identificada, mas revelou que as vítimas e suas respectivas estavam sendo ameaçadas de morte. As ameaças objetivavam evitar a colaboração com as investigações.
“Alguns órgãos não governamentais tomarão a frente para cobrar a investigação desses casos de exploração sexual de meninas indígenas, que ocorrem há muitos anos. É uma situação muito delicada porque envolve um compactuação de órgãos públicos e pessoas influentes no município. De fato as ameaças acontecem, nós sabemos. A Funai não tem missão de investigar, somente acompanhar. De maneira informal, tomamos conhecimento que os envolvidos ofereceram dinheiro as famílias das vítimas para retirarem as queixas registradas na polícia”, revelou a servidora da Funai ao G1.
Para a representante, as dificuldades logísticas e o isolamento da região colaboram para ocorrência desse tipo de abuso sexual envolvendo populações indígenas. De Manaus para são Gabriel da Cachoeira de transporte aquaviário são necessários três dias navegando de barco. “Moradores indígenas ou não do município ficam à mercê desse ciclo de poder”, enfatizou.
Fonte: Globo

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