"A nossa mensagem é de que acreditamos que o sensus
fidelium é de que a exclusão das mulheres do sacerdócio não tem nenhuma base
forte na Escritura nem qualquer outra justificativa convincente", escreve,
em editorial, o jornal National Catholic Reporter, 03-12-2012.
A tradução é de
Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O chamado ao sacerdócio é um dom de Deus. Ele está enraizado
no batismo e é convocado e afirmado pela comunidade por ser autêntico e
evidente na pessoa como um carisma. As mulheres católicas que discerniram um
chamado ao sacerdócio e tiveram esse chamado afirmado pela comunidade devem ser
ordenadas na Igreja Católica Romana. Barrar as mulheres da ordenação ao
sacerdócio é uma injustiça que não pode ser autorizada a permanecer.
Bourgeois traz essa questão ao verdadeiro coração da
questão. Ele disse que ninguém pode dizer que Deus pode e não pode chamar ao
sacerdócio; e dizer que essa anatomia é de certa forma uma barreira à
capacidade de Deus de chamar um dos próprios filhos de Deus coloca limites
absurdos ao poder de Deus. A maioria dos fiéis acredita nisso.
Revejamos a história
da resposta de Roma ao chamado dos fiéis a ordenar mulheres:
Em abril de 1976, a Pontifícia Comissão Bíblica concluiu
unanimemente: "Não parece que o Novo Testamento por si só irá nos permitir
resolver de uma forma clara e de uma vez por todas o problema do possível
acesso das mulheres ao presbiterado". Em uma nova deliberação, a comissão
votou 12 votos a favor e 5 contra a visão de que a Escritura sozinha não exclui
a ordenação de mulheres, e 12 votos a favor e 5 contra a visão de que a Igreja
poderia ordenar mulheres ao sacerdócio sem ir contra as intenções originais de
Cristo.
Na declaração Inter Insigniores (datada de 15 de outubro de
1976, mas publicada no mês de janeiro seguinte), a Congregação para a Doutrina
da Fé disse: "A Igreja, por um motivo de fidelidade ao exemplo do seu
Senhor, não se considera autorizada a admitir as mulheres à Ordenação
sacerdotal". Essa declaração, publicada com a aprovação do Papa Paulo VI,
foi uma afirmação relativamente modesta como esta: "A Igreja não se
considera autorizada".
O Papa João Paulo II elevou a aposta consideravelmente na
carta Ordinatio Sacerdotalis (22 de maio de 1994): "Declaro que a Igreja
não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às
mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os
fiéis da Igreja". João Paulo II queria descrever a proibição como
"irreformável", uma postura muito mais forte do que
"definitiva". Isso encontrou uma substancial resistência dos bispos
de alto escalão que se reuniram em um encontro especial no Vaticano em março de
1995 para discutir o documento, informou o NCR na época. Mesmo assim, os
bispos, em sintonia com as necessidades pastorais da Igreja, ganharam uma
concessão para a possibilidade de mudar o ensinamento.
Mas essa minúscula vitória era passageira.
Em outubro de 1995, a congregação doutrinal fez novas ações,
publicando um responsum ad propositum dubium referente à natureza do ensino da
Ordinatio Sacerdotalis: "Esse ensinamento requer aprovação definitiva, uma
vez que, fundado na Palavra de Deus escrita, e desde o início constantemente
preservada e aplicada na Tradição da Igreja, foi definida infalivelmente pelo
Magistério ordinário e universal". A proibição à ordenação de mulheres
pertence "ao depósito da fé", disse o responsum.
Apesar da certeza com que a Ordinatio Sacerdotalis e o
responsum foram emitidos, eles não responderam a todas as perguntas sobre o
assunto.
Muitos apontaram que o fato de dizer que o ensinamento é
"fundado sobre a Palavra de Deus escrita" ignorava completamente as
descobertas de 1976 da Pontifícia Comissão Bíblica.
Escrevendo na revista The Tablet em dezembro de 1995, o
padre jesuíta Francis A. Sullivan, uma autoridade teológica sobre o magistério,
citou o Cânone 749, que diz que nenhuma doutrina é compreendida como definida
infalivelmente, a menos que isso seja claramente estabelecido. "A questão
que permanece na minha mente é se o fato de os bispos da Igreja Católica
estarem tão convencidos pelo ensinamento quanto evidentemente o Papa João Paulo
II é um fato claramente estabelecido", escreveu Sullivan.
O responsum pegou quase todos os bispos de surpresa. Embora
datado de outubro, ele não foi tornado público até o dia 18 de novembro. Dom
William Keeler, arcebispo de Baltimore, então presidente cessante da
Conferência dos Bispos dos EUA, recebeu o documento sem nenhum aviso três horas
depois que os bispos haviam adiado o seu encontro anual de outono. Um bispo
disse ao NCR que ficara sabendo do documento ao ler o New York Times. Ele disse
que muitos bispos ficaram profundamente perturbados com a declaração. Ele,
assim como outros bispos, falou de forma anônima.
O Vaticano já começou a ajeitar as coisas contra o
questionamento. Como o padre jesuíta Thomas Reese relatou em seu livro de 1989,
Archbishop: Inside the Power Structure of the American Catholic Church, com
João Paulo II, o ponto de vista de um candidato episcopal em potencial sobre o
ensino contra a ordenação de mulheres se tornou um teste decisivo para saber se
um padre poderia ser promovido a bispo.
Menos de um ano depois que a Ordinatio Sacerdotalis foi
publicada, a Ir. Carmelo McEnroy, das Irmãs da Misericórdia, foi removida do
seu cargo titular de professora de teologia do Seminário St. Meinrad, em
Indiana, por sua dissidência pública ao ensino da Igreja. Ela havia assinado
uma carta aberta ao papa pedindo a ordenação de mulheres. McEnroy muito
provavelmente foi a primeira vítima da Ordinatio Sacerdotalis, mas houve muitos
mais, como Roy Bourgeois mais recentemente.
O Beato John Henry Newman dizia que há três magistérios na
Igreja: os bispos, os teólogos e o povo. Sobre a questão da ordenação de
mulheres, duas dessas três vozes foram silenciadas, razão pela qual a terceira
voz agora deve se fazer ouvir. Devemos nos pronunciar em todos os fóruns
disponíveis para nós: nos encontros do conselho paroquial, nos grupos de
partilha da fé, nas convocações diocesanos e nos seminários acadêmicos. Devemos
escrever cartas para os nossos bispos, aos editores dos nossos jornais locais e
canais de televisão.
A nossa mensagem é de que acreditamos que o sensus fidelium
é de que a exclusão das mulheres do sacerdócio não tem nenhuma base forte na
Escritura nem qualquer outra justificativa convincente. Por isso, as mulheres
devem ser ordenadas. Ouvimos o assentimento dos fiéis a isso em inúmeras
conversas em salões paroquiais, auditórios e reuniões de família. Isso foi
estudado e rezado individualmente e em grupos. O bravo testemunho da Women's
Ordination Conference, como um exemplo, nos dá a garantia de que os fiéis
chegaram a essa conclusão após uma análise e um estudo orantes – sim, até mesmo
um estudo da Ordinatio Sacerdotalis.
O NCR une a sua voz a Roy Bourgeois e pede que a Igreja
Católica corrija esse injusto ensinamento.
Fonte: Ihu
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