Mafalda é crítica e questionadora, mas cheia de compaixão e ternura pelos outros e pelo mundo onde vive, que considera extremamente doente.
Joaquin Salvador Lavado Tejón nasceu em Guaymallén, na
Província de Mendoza, Argentina, em 17 de julho de 1932. Está fazendo,
portanto, 80 anos este que é mais conhecido como Quino. Pensador, historiador
gráfico e cartunista genial, Quino é o criador da imortal menina Mafalda, que
pensa e questiona todo mundo à sua volta, desde os pais até os amiguinhos da
escola e da rua, sem excluir outros adultos menos íntimos.
Mafalda, a imortal criaturinha de Quino foi publicada pela
primeira vez como história em quadrinhos no periódico Leoplán, nos anos 1960, e
depois passou a ser publicada regularmente no semanário Front Page, cujo editor
era amigo de Quino. Posteriormente, foi publicado no jornal O Mundo. Logo após,
Mafalda ganhou mundo. A reviravolta cultural que marcou o ano de 1968 sem
dúvida contribuiu para isso.
Livros com as tirinhas de Quino foram publicadas na Espanha,
Itália e Portugal, embora vigiadas de perto pela censura, que se empenhava em
rotulá-las como próprias apenas para adultos. Até que, em 1973, o mundo leva um
susto quando Quino anuncia que decidira terminar com Mafalda. Considerava que
suas ideias já se esgotavam, que não produzia nada novo. Mudou-se para Milão e
continuou fazendo cartuns de humor da melhor qualidade.
Mafalda marcou as gerações daqueles anos e até hoje continua
fazendo sucesso entre as novas gerações. Por quê? Qual seu segredo? Talvez o
fato de ser uma menina de seu tempo e ao mesmo tempo ter um perfil de abertura
universal que lhe dá amplidão de raio de influência. Mafalda é uma menina de
seis anos de idade que odeia sopa, dizendo representar para a infância o mesmo
que o comunismo para a democracia. Adora os Beatles e o desenho do Pica-Pau.
Comporta-se como uma típica menina de sua idade, mas ao mesmo tempo tem uma
visão aguda e crítica da vida.
O que mais impressiona e fascina em Mafalda é seu espírito
crítico, que vive questionando o mundo à sua volta e principalmente o contexto
da década de 1960 na qual vive. Aos pais, faz perguntas que os deixam acordados
à noite, dando voltas ao cérebro para tentar responder à questionadora filha.
Porém, não encontramos em Mafalda certa perversidade e desejo de fazer os
outros chorar, presente lamentavelmente em muitas crianças.
Mafalda é crítica e questionadora, mas cheia de compaixão e
ternura pelos outros e pelo mundo onde vive, que considera extremamente doente.
Por isso põe esparadrapos para curar as feridas do globo terrestre onde estuda
geografia em casa. Antes de tomar medidas curativas para a doença do planeta,
Mafalda se preocupa com ele. Dialoga muito com o rádio que veicula notícias as
mais preocupantes: guerras, conflitos de todos os tipos, desgraças etc. E
responde às notícias que ouve. Por exemplo, ao ouvir que o Papa fez um chamado
para a paz, pergunta ao rádio: "E deu ocupado como sempre, não é?".
Uma das críticas pioneiras de Mafalda, que certamente
influenciou a sociedade argentina de seu tempo, além da de outros países, é sua
visão do papel da mulher na sociedade, que não poupa sequer sua mãe, Raquel,
mostrada pela tirinha como uma típica dona de casa, sem haver completado os
estudos e que entra em constantes conflitos com a filha, sobretudo ao preparar
sopa para ela. Outro objeto da crítica de Mafalda é sua amiga Susanita, uma
menina fútil. Seu único objetivo na vida é encontrar um marido rico e de boa
aparência e ter uma quantidade de filhos acima da média. É uma grande
fofoqueira e egoísta, e sempre encontra um jeito de falar sobre o vizinho do
irmão da cunhada de alguém. Mafalda muitas vezes discute com ela e perde a
paciência com a amiguinha que apresenta horizontes tão curtos.
Por outro lado, relaciona-se muito bem com o sonhador menino
Felipe, que odeia a escola, mas frequentemente tem dramas de consciência a
partir de seu sentido congênito de responsabilidade, que o instiga sem cessar.
O resto do grupo de amigos é composto pelo capitalista Manolito, obcecado com
os negócios do armazém do pai e com dinheiro, péssimo estudante, representante
egrégio do capitalismo que adora quando a inflação assola seu país, já que
assim lhe parece estar lucrando mais. Tem também Miguelito, amigo de Mafalda,
um pouco mais jovem do que os outros. Filho único, com uma personalidade igualmente
única, Miguelito é dono de um enorme coração. Tem dificuldade de compreender o
que pensa sua inteligente amiga, sempre entendendo seus conselhos de maneira
literal. Além disso, é um personagem egocêntrico, que parece achar que o mundo
gira à sua volta. Em casa, Mafalda tem como companheiro o irmãozinho Guille,
que começa a despertar para o mundo, e a tartaruguinha Burocracia, lenta como
costumam ser esses animais e que faz jus ao nome.
Nesta celebração de seus 80 anos, cabe agradecer de coração
o traço e sobretudo a imaginação e sensibilidade de Quino, que nos deu uma
personagem tão encantadora e consciente, que nos faz rir, certamente, mas
sobretudo pensar. Tomara que Mafalda continue sendo uma influencia para
crianças e jovens, é o que desejamos de coração.
Fonte: Jornal do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário