Tráfico de nigerianas, denunciado
há ao menos três décadas na Europa, dobrou de 2015 para 2016
A nigeriana Isoke Aikpitanyi, de
38 anos, chegou à Itália com a perspectiva de trabalhar. Acabou numa rede de
prostituição, explorada pelas máfias italiana e nigeriana. Foi humilhada,
violentada por traficantes e obrigada a trabalhar nas ruas de Turim por 10
euros o programa.
O tráfico de nigerianas para
exploração sexual na Itália tem sido denunciado há pelo menos três décadas, mas
atraiu novamente a atenção da comunidade internacional quando as autoridades
perceberam que os contrabandistas estavam usando a rota do Mediterrâneo para
infiltrar vítimas.
No primeiro semestre deste ano,
ao menos 3,6 mil nigerianas chegaram de barco, pela travessia entre a costa
líbia e a Sicília. O número representa o dobro do ano passado, o maior salto da
década. Mais de 80%, segundo a Organização Internacional para Migração, foram
traficadas para exploração em bordéis da Itália e outros destinos europeus. As
autoridades estimam que 120 mil mulheres sejam exploradas para prostituição na
Itália, um terço nigerianas.
Muitas vêm acompanhadas do “marido”,
mas, como não têm documentos, é difícil saber se falam a verdade. As
autoridades creem que muitos acompanhantes façam parte da rede de tráfico e
sejam também explorados para trabalho escravo ou para pedir dinheiro nas ruas.
Essas pessoas são trazidas de
seus países com esse objetivo, pelas mãos da mesma rede que lucra com
refugiados. “Eles não sabem que serão explorados. Ninguém acredita que esse
tipo de coisa ainda exista, mas a escravidão moderna é uma realidade perversa”,
diz Isoke. Ela conseguiu escapar pelas mãos de um cliente, com quem fugiu, e
hoje ajuda outras mulheres.
“Temos percebido também um
aumento no número de menores desacompanhadas”, diz Lucia Borgh, da ONG
Borderline. Ao chegar à Itália, elas são obrigadas a assumir dívida pela viagem
que chega a 40 mil euros, segundo Isoke, a serem pagos com “trabalho”. Muitas
são exploradas ao longo do caminho, principalmente na Líbia.
De um lado, a possibilidade de
obter asilo garante a permanência das mulheres no país, evitando o risco de
deportação, o que seria prejuízo para os criminosos. De outro, quando têm o
pedido negado, elas se tornam presas fáceis dos traficantes.
“Essas mulheres escapam de
miséria, conflitos, da violência de grupos como Boko Haram para serem
exploradas na Europa”, diz o tradutor eritreu Abraha Tewolde, na Itália há 40
anos. Segundo ele, os criminosos se beneficiam de falhas no sistema italiano.
Após desembarcarem, os que chegam pelo Mediterrâneo são encaminhados para
abrigos em cidades, onde vivem à espera de decisão sobre o asilo. As mulheres
têm desaparecido desses centros.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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