Perfil. Com faturamento menor,
prostitutas ocupam trecho maior da avenida Afonso Pena em busca de clientes
Mulheres e donos de
estabelecimentos especializados reclamam que crise derrubou demanda de clientes.
No sobe e desce de um hotel da
rua Guaicurus, no centro de Belo Horizonte, a movimentação é grande. Mas já
eram quase 19h de uma quinta-feira, e, a duas horas do fechamento da casa, Fran
(nome fictício), 23, ainda tentava arranjar o seu primeiro programa do dia.
Solteira e mãe de um menino de 3 anos, a loira entrou para o mundo da
prostituição após perder o emprego em uma loja de roupas no início deste ano.
Mesmo depois da mudança radical de vida, no entanto, ela continua enfrentando
dificuldades financeiras.
Assim como a jovem, outras
novatas e até mesmo as veteranas do mercado do sexo estão passando por essa
situação. A crise econômica e o desemprego, segundo as profissionais, vêm
afetando a prostituição na capital: cresce o número de garotas em busca de dinheiro
e diminui a quantidade de clientes dispostos a pagar pelo serviço.
“Eles passam aos montes aqui. Me
chamam de ‘delícia’, mas a maioria só fica nisso. Tem dia que é um pouco
melhor, mas a rotina é essa. Muito papo e pouca grana”, contou Fran.
Em muitos dias, ela nem sequer
consegue dinheiro para pagar a diária de R$ 120 do hotel onde faz os programas,
que variam de R$ 50 a R$ 100. “O valor depende do que vai ser feito e da
duração. Menos do que isso eu recuso”, acrescentou.
De acordo com o gerente de um dos
hotéis visitados pela reportagem, o caso de Fran não é exceção. E, sem o
dinheiro, muitas das garotas não conseguem pagar as diárias dos
estabelecimentos. “No ano passado, tínhamos frequentemente 100% dos quartos
alugados, e agora essa ocupação não chega a 60%. A crise está forte”, afirmou.
Boates. O reflexo disso não é
diferente nas boates onde trabalham acompanhantes de luxo. Quatro
estabelecimentos nos bairros Sion, Savassi e Funcionários, todos na região
Centro-Sul da cidade, informaram que tiveram de 40% a 50% de queda no número de
visitantes dispostos a pagar uma entrada, que varia de R$ 60 a R$ 120. O
programa é pago à parte, junto com uma taxa de saída da garota da boate, que
vai de R$ 20 a R$ 50. “A gente está tendo que recusar meninas, porque não tem
clientes. A queda começou em fevereiro. Naquele mês, a gente achou que era
normal por conta do Carnaval, mas depois não voltou a ser como era antes”,
disse o gerente de um desses comércios.
Segundo uma garota que trabalha
em uma das boates, a casa só fica mais cheia quando recebe despedidas de
solteiro. “Mesmo assim, não são todos (os clientes) que vão fazer um programa.
Muitos só vêm pela diversão, para ver um striptease. Mas tirar uma nós daqui e
pagar mais ou menos R$ 250 por uma hora não é para qualquer um, baby”, contou.
Afonso Pena. Com boates vazias e falta de dinheiro para pagar
hotéis, as garotas estão se aventurando cada vez mais nas ruas da capital. O
reflexo dessa situação, por exemplo, é perceptível na avenida Afonso Pena, tradicional
ponto de prostituição da região Centro-Sul. A concentração de mulheres, que
antes ocorria no alto da via, entre as praças Milton Campos e da Bandeira,
agora se estende até o Palácio das Artes, no centro.
As prostitutas fazem ponto em
esquinas e paradas de ônibus e conversam com motoristas que passam pelo local
em baixa velocidade. “Cada uma já tem um ponto específico”, explicou uma das
profissionais.
Ganho mensal
Valor. As profissionais do sexo ouvidas pela reportagem preferiram
não revelar o valor ganho por mês com os programas. No entanto, elas destacaram
que a quantia vem caindo nos últimos meses.
Cachês. Pelas ruas de Belo
Horizonte, mulheres cobram de R$ 50 a R$ 200 por um programa sexual
Alternativa é baixar o preço
O preço dos programas sexuais em
Belo Horizonte segue o fluxo contrário da inflação registrada no Brasil e
encara uma fase de baixas. De acordo com profissionais do sexo ouvidas pela
reportagem, desde janeiro deste ano elas vem reduzindo o valor do serviço para
tentar angariar mais clientes.
“Toda menina que você perguntar
não gosta de dar descontos nem gosta daqueles que pechincham. Mas, em época de
crise, acaba não tendo muito jeito”, contou uma mulher, de 28 anos, que oferece
programas por meio de um site.
Ela cobrava R$ 300 por uma hora
de sexo e, agora, estipula o preço em R$ 250. “Dependendo do que vai ser feito,
posso diminuir para R$ 230, mas também não dá para fazer caridade”, ironizou.
Fidelidade. Além dos descontos,
as garotas vêm aderindo a promoções. Uma das prostitutas explicou que, após o
primeiro encontro, tem o costume de propor um “pacote de programas” para os
clientes. “Normalmente cobro R$ 200 por uma hora. Mas duas horas consecutivas
faço por R$ 320”, disse.
Se forem marcados mais de quatro
programas consecutivos, e se parte do pagamento for feita de maneira adiantada,
a oferta é estender em uma hora a duração desses encontros. “A proposta vem
agradando”, garantiu a profissional, de 24 anos.
Fonte: O Tempo
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