Símbolo brasileiro da luta contra
a violência doméstica e familiar contra as mulheres, a biofarmacêutica e
ativista Maria da Penha afirmou em entrevista.com que ainda há muito o que
fazer para alterar o desafio da cultura da violência no Brasil.
“É difícil mudar a cultura
machista do Brasil. A Lei Maria da Penha tem como objetivo reverter a
mentalidade violenta que conduz a relação entre homens e mulheres no Brasil”,
explicou.
A ativista foi agredida pelo
marido, que tentou assassiná-la duas vezes, e ficou paraplégica na década de
1980. Ele só foi condenado pelos crimes quase 20 anos depois e, embora a pena
tenha sido de oito anos de prisão, ele ficou apenas dois anos preso.
Sua história inspirou a criação
da principal lei de proteção às mulheres contra a violência praticada por pais,
irmãos e companheiros. Além das medidas protetivas, a lei aumentou a punição
dos agressores.
Mesmo com os avanços conquistados
com a lei – que foi implementada em agosto de 2006 -, Maria da Penha afirmou
que ainda há muita resistência em relação a implementação de políticas públicas
voltadas ao tema.
“Após a implementação de medidas,
é preciso ficar de olho para que elas atinjam as mulheres com eficácia”,
afirmou Maria da Penha.
Números alarmantes
Os números relacionados a
violência doméstica ainda preocupam muito. De acordo com a Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres, dos 67.962 relatos de violências registrados na
Central de Atendimento à Mulher no primeiro semestre de 2016, 51,06%
corresponderam à violência física; enquanto 31,10% representaram casos de
violência psicológica. A lista é preenchida com casos de violência moral (6,51%),
cárcere privado (4,86%), violência sexual (4,30%), violência patrimonial
(1,93%) e tráfico de pessoas (0,24%).
Na comparação com os seis
primeiros meses de 2015, os casos de estupro registraram um aumento de 147%
entre janeiro e junho de 2016. Os relatos relacionados à violência doméstica e
familiar subiram 133% na mesma base de comparação.
“O aumento das denúncias, porém,
refletem que as pessoas estão mais conscientes sobre a lei e estão recorrendo à
Justiça”, disse a biofarmacêutica.
Por que é importante a participação feminina na política?
A ativista destacou ainda que o
nível de violência contra a mulher é proporcional à falta de participação
política do sexo feminino. Segundo o ranking elaborado pelo IPU
(Inter-Parliamentary Union), o país ocupa a 154ª posição no ranking de
participação feminina na política. De acordo com o Mapa da Violência, o Brasil
é o quinto país com maior índice de violência doméstica.
O Brasil ainda é o país
sul-americano com menor número de mulheres no Congresso Nacional. De acordo com
o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são 11 senadoras (13,6%) de 81
parlamentares e 51 deputadas (9,9%) de 513 congressistas.
No Espírito Santo, onde há uma
taxa de representação feminina em cargos eletivos reduzida (8%), existe um persistente
quadro de violência contra a mulher.
Para Maria da Penha, a presença
de mulheres na política é essencial para que políticas públicas voltadas ao
sexo feminino sejam levadas adiante.
Olhar no horizonte
Realizada com a possibilidade de
ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz, Maria da Penha promete “que continuará
lutando para que mais políticas sejam estabelecidas para combater a violência
doméstica”.
Após as eleições, a ativista
pretende viajar em cidades que ficam no entorno de Fortaleza para poder cobrar
os gestores que se comprometeram com a implementação de políticas públicas de
combate a violência doméstica.
Se a experiência for positiva,
ela pretende criar um acompanhamento em todo o Brasil por meio da equipe do
instituto que leva o seu nome.
“Para conseguir concretizar esse
projeto, preciso da ajuda do empresariado. Para realizar essas viagens, preciso
do mínimo conforto. Entre as necessidades, um carro acessível para a
instituição seria muito bem-vindo”, afirmou Maria da Penha, emocionada pela
possibilidade de conseguir algo que amplie o alcance de seu trabalho.
Fonte: EXAME
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