segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Jovem troca camisinha pela ‘pílula do dia seguinte’ do HIV

Principal aliada na prevenção contra o avanço do vírus HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a camisinha vem sendo deixada de lado por uma parcela da população da capital. Esquecimento e uso de álcool estão entre as desculpas dadas por pacientes. No entanto, alguns pacientes tem abusado da medicação.


A conclusão é de médicos e especialistas que acompanham o dia a dia de pessoas que buscam a chamada PEP (profilaxia pós-exposição), a medicação gratuita usada no combate ao HIV.

Desde 2013 o SUS disponibiliza a medicação a qualquer pessoa que tenha se exposto ao risco de ser contaminada. O tratamento chega a diminuir a chance de infecção em até 90%, e por isso felizmente a procura pelos remédios aumenta a cada ano, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde.

No entanto, alguns pacientes tem abusado da medicação. As equipes médicas relatam casos de pessoas que vão repetidas vezes em busca da medicação, que deveria ser utilizada em casos de exceção. Na confiança de que a medicação vai inibir o contágio, há casos de pessoas que saem diretamente da balada e procuram unidades de emergência para tomar a medicação após uma noite de sexo sem proteção. “Percebemos todo tipo de comportamento, inclusive pessoas que nos procuram repetidas vezes. São pessoas que acabam não adquirindo hábitos de prevenção”, diz Lucinéia Carvalhais, coordenadora municipal de Saúde Sexual e Atenção às DST’s.

Segundo ela, a demanda aumenta sutilmente às segundas-feiras, quando um maior número de pacientes chega às unidades especializadas da rede pública querendo o medicamento que pode salvar a vida delas, caso tenham contraído o vírus.

A velha desculpa de que o preservativo estourou ainda é das mais relatadas aos membros das equipes médicas, mas o rol de justificativas é elástico. “Tem gente que diz que estava na balada e esqueceu de usar a camisinha, outros relatam uso de álcool e outras drogas (como justificativa) e tem até quem diz que achava que não tinha risco (fazer sexo sem prevenção) e acordou preocupado no dia seguinte”, revela a médica.

Na iminência de algum desses usuários serem acusados de relapsos, os especialistas apontam que esse tipo de julgamento é retrógrado. “O conceito de promiscuidade é uma estupidez”, ressalta o infectologista e professor da UFMG Dirceu Bartolomeu Greco.

Para Lucinéia, condutas de exceção não podem condenar nem ofuscar os benefícios da medicação ser disponibilizada desta forma. “Tem gente que não aceita o uso da camisinha, mas classificar a oferta do medicamento como fator de relaxamento não é uma posição adequada”, avalia Lucinéia.

O que esses profissionais de saúde tem percebido é que a epidemia da Aids já não causa mais o mesmo impacto nas gerações atuais em comparação a décadas passadas. Os motivos, segundo eles, são vários. “O sexo está mais fácil, sem sentido pejorativo, e além disso quem bebe é atraído para a vida social. O álcool dilui nossa capacidade de discernimento”, avalia Greco. “Num país extremamente machista, negociar o preservativo (nas relações) é uma dificuldade”, completa o especialista.

Fonte: O Tempo

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