quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Copa do Mundo, turismo sexual e a conivência da Adidas com o problema


O que o país menos precisa é que seja incentivada a exploração sexual de suas mulheres. A diferença de renda ainda é imensa e a prostituição, por mais que desejamos que seja regulamentada para que suas regras acabem com tráfico de pessoas e exploração de crianças e adolescentes, ainda é a única saída para mulheres que não têm escolha.

Por Carol Patrocínio

A Copa nem começou e já não está fácil falar sobre ela. Quando não é a polícia agredindo manifestantes pacíficos com a desculpa de que eles poderiam se tornar vândalos – seguindo esse raciocínio, qualquer pessoa andando na rua, perto de um banco, pode virar assaltante -, se machucando – houve relatados vários casos de policiais da chamada tropa do braço, que teve três meses de treino de jiu jitsu, quebrando o próprio braço ao aplicar golpes de maneira errada – são marcas passando dos limites para lucrar com o evento. A Adidas foi uma delas.
No site da marca há uma linha de roupas especial para a Copa. O problema é que duas camisetas tinham um recado bastante estranho... Em uma delas, a frase “Eu amo o Brasil”, em inglês, era acompanhada por um coração amarelo, em que também pode ser enxergado no formato de nádegas com um fio dental verde. A outra, com a frase "Lookin’ to score", que pode ser traduzida como "em busca dos gols" ou "pegar garotas", de uma maneira sexual, é acompanhada de uma linda mulher de biquíni. Como se o país precisasse de mais gente incentivando o turismo sexual...
Em 2001, o Brasil ocupava o primeiro lugar em Exploração Sexual Infanto-Juvenil na América Latina e o segundo no mundo, segundo relatório sobre Exploração Infantil produzido pela ONU. De lá para cá as coisas não mudaram tanto assim, infelizmente. Em 2007, o documento Informe sobre o Tráfico de Pessoas, divulgado pelo Departamento de Estado Americano, informou que no Brasil havia 500 mil crianças em estado de exploração sexual comercial.
O que o país menos precisa é que seja incentivada a exploração sexual de suas mulheres. A diferença de renda ainda é imensa e a prostituição, por mais que desejamos que seja regulamentada para que suas regras acabem com tráfico de pessoas e exploração de crianças e adolescentes, ainda é a única saída para mulheres que não têm escolha.
É claro que vemos muitas mulheres, nas grandes capitais, que optam pela prostituição, mas nos lugares mais pobres do Brasil, em que o trabalho é braçal e disputado com unhas e dentes por homens, as mulheres não podem escolher e só as resta usar o corpo para garantir sua sobrevivência.
A prostituição não é errada, cada pessoa adulta decide o que fazer com seu corpo, mas impor essa escolha a mulheres e crianças que não tem para onde ir, é. Isso é exploração e incentivar o turismo sexual é ser conivente com esse problema. Não adianta tapar os olhos, a única maneira de mudar esse panorama é levantar-se contra ele em alto e bom som. Coisa que a Adidas não fez nem em sua nota à imprensa.
Resposta rápida
A Adidas, que é patrocinadora da Copa do Mundo, informou em nota que suspenderá a venda das camisetas. “A Adidas sempre acompanha de perto a opinião de seus consumidores e parceiros, e por isso anuncia que os produtos em questão não serão mais comercializados pela marca. É importante frisar que trata-se de uma edição limitada que estaria disponível apenas para os Estados Unidos.”
É ótimo saber que os produtos estarão fora do mercado, mas é triste ver que uma marca não consegue pedir desculpas e enxergar erros. Eles dizem, com todas as letras, que retiraram do mercado porque viram que não agradou, mas tentam se justificar dizendo que a camiseta só seria vendida no Estados Unidos.
De acordo com o diretor do departamento de estudos e pesquisas do Ministério do Turismo,
José Francisco Lopes, 41% dos turistas que vem ao Brasil durante a Copa são dos Estados Unidos. Imagina só se “apenas” eles entrassem de cabeça na ideia proposta pela Adidas?
O lado bom da moeda
Em contrapartida, as ONGs End Child Prostitution, Child Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purposes (Ecpat France) e Fondation Selles, com fundos da União Europeia, trabalham desde 2013 a campanha "Não desvie o olhar", divulgada em dez países da Europa e em quatro da África, em parceria com redes de hotéis e companhias aéreas.

A ideia é trabalhar contra o turismo sexual e a exploração de crianças e adolescentes e minimizar os efeitos negativos da invasão estrangeira ao País durante três eventos: a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016.

Fonte: Yahoo

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