terça-feira, 19 de novembro de 2013

Prostituição na adolescência

Face a este problema, de imediato se coloca uma questão: o que leva as adolescentes a sentirem-se atraídas por uma atividade como esta? Será por gostarem de sexo? Ou será com o objetivo de obter dinheiro de uma forma 'fácil'?
'Quando solicitadas a explicar o que o amor significava para elas, as jovens prostitutas utilizavam expressões do gênero 'sentir segurança; sentir proteção; receber atenção'. O que subentendemos destas respostas é que para algumas raparigas a 'prostituição' não é uma realidade. Para elas, o que é real é que são a 'senhora' ou a 'mulher' do proxeneta; é este o significado do amor.'

Por Adriana Campos

A prostituição na adolescência é um problema ao qual ninguém fica indiferente. Algumas vezes, no contexto escolar é expresso o receio, sobretudo por professores e auxiliares de ação educativa, de que esta ou aquela jovem enveredem por esta atividade, uma vez que facilmente se envolvem fisicamente com um número significativo de colegas do sexo oposto.

Face a este problema, de imediato se coloca uma questão: o que leva as adolescentes a sentirem-se atraídas por uma atividade como esta? Será por gostarem de sexo? Ou será com o objetivo de obter dinheiro de uma forma 'fácil'? Os estudos realizados por vários investigadores, envolvendo um elevado número de jovens prostitutas, demonstraram que a prostituição nesta faixa etária não tem como font_tage de motivação os aspetos mencionados, nem se trata de uma decisão cuidadosamente tomada. Na maior parte dos casos, as jovens são arrastadas para a prostituição por um adulto, o proxeneta, que conhece bem as suas necessidades psicológicas. Estas geralmente são provenientes de famílias marcadas pela brutalidade e instabilidade, que apresentam relações débeis e um padrão de desmembramento muito elevado. A integração destas jovens em contextos familiares muito fragilizados contribui fortemente para que as suas necessidades de carinho e afeto não sejam devidamente satisfeitas, sentindo estas uma necessidade muito forte de dependerem de alguém. Estas jovens têm geralmente uma autoestima pobre, falta de autoconfiança e frequentemente estão num processo de fuga de casa.

A forma como o proxeneta atua é muito curiosa e permite compreender o seu poder junto das adolescentes. Ele funciona como um 'psicólogo' astuto, que com uma habilidade extrema manipula a necessidade básica de amor e de ligação afetiva destas adolescentes. Na maior parte das vezes, mediante uma abordagem romântica e a oferta de presentes vistosos, o proxeneta convence a adolescente de que lhe pode dar a proteção, a segurança e o amor de que ela necessita. Na sequência da relação estabelecida, este ensina-lhe a executar atos de sexo e esta rapidamente se disponibiliza a trabalhar para ele. Para estas adolescentes, socialmente imaturas e de certa forma ingénuas, a atenção, os presentes e o amor ilusório oferecidos por estes homens tornam-se verdadeiramente irresistíveis. Pelo menos, a presença do proxeneta leva-as a sentirem-se amadas, sentimento que não vivenciaram no seu contexto familiar de origem.

Face ao que foi exposto, não é difícil de compreender o quanto pode ser difícil a intervenção junto de adolescentes envolvidas neste tipo de atividade, uma vez que, para todos os efeitos, a maioria delas sentem que finalmente apareceu alguém empenhado em pôr fim à aridez de uma vida sem amor.

Bibliografia:
Psicologia do adolescente. Uma abordagem desenvolvimentista. Norman A. Sprinthall e W. Andrew Collins. Fundação Calouste Gulbenkian.
ADRIANA CAMPOS Licenciada em Psicologia, pela Universidade do Porto, na área de Consulta Psicológica de Jovens e Adultos, e mestre em Psicologia Escolar. Concluiu vários cursos de especialização na área da Psicologia, entre os quais um curso de pós-graduação em Psicopatologia do Desenvolvimento, na UCAE. Atualmente, é psicóloga no agrupamento de Escolas Eng. Fernando Pinto de Oliveira, para além de dinamizar ações de formação em diversas áreas.

Fonte: http://www.educare.pt/

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