O mercado de prostituição cresce em Manaus agora por novos
caminhos: em vez das esquinas de ruas escuras, agora uma parte dessas
profissionais opta por sites na Internet.
Com fotos nuas, informações sobre
características físicas e comportamentais, as ‘acompanhantes de luxo’
(tratamento mais comum utilizado nos sites para se referir às garotas)
aproveitam o meio digital para se expor e chegam a faturar, em média, R$ 400
por hora. Para especialistas que atuam no combate a crimes, como a coordenadora
do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria de Estado de
Justiça e Direitos Humanos (Sejus), Michele Custódio, o negócio expõe a essas
garotas riscos de saúde e segurança.
Em três sites pesquisados pela reportagem, cerca de 40
garotas divulgam fotos reais e formas de contato (comunicadores instantâneos,
e-mail e número telefônico) para quem quer contratar os serviços sexuais. Nas
páginas, é possível encontrar garotas de diferentes partes do país: Acre,
Amapá, Tocantins, Distrito Federal, Ceará, São Paulo, Minas Gerais, Paraná,
Santa Catarina. Natural de Porto Alegre, uma jovem, de 23 anos, conversou com a
reportagem do G1.
Há dois anos na profissão, ela afirma que o lucro do setor
de acompanhantes foi o que chamou a atenção dela ao optar pela atividade. No
entanto, ela diz que a concorrência diminuiu a lucratividade na capital,
afirmando cobrar até R$ 400 por programa.
A vida da jovem, porém, não é apenas em Manaus. Segundo ela,
as temporadas em diversas cidades do Brasil são fatos comuns. Nos sites das
‘acompanhantes de luxo’, é possível ver anúncios de garotas previstas para
chegar à capital amazonense em diferentes meses.
Precauções e
‘controle de qualidade’
Nos três sites consultados pela reportagem, antes de entrar
na página, o internauta é informado que o conteúdo é impróprio para menores de
18 anos. Segundo os gestores dos sites, as visualizações possuem média de 4 mil
visitas mensais. Para garantir a qualidade do conteúdo publicado, uma das
páginas chega a oferecer uma espécie de Serviço de Atendimento ao Consumidor
(SAC), divulgando e-mail para sugestões, reclamações e denúncias de atendimento
de garotas que não correspondem às fotos expostas no site.
Perigo
Para a coordenadora da Sejus Michele Custódio, o risco dos
anúncios das garotas nos sites de prostituição online é preocupante. "A
partir do momento em que uma profissional do setor disponibiliza seus contatos
na Internet, ela corre vários riscos, como por exemplo ser aliciada, receber
propostas ou falsas promessas de trabalho e renda melhor no exterior ou em
outro estado do Brasil", disse.
Garotas ainda na adolescência e com baixa escolaridade e
renda, de acordo com Custódio, são as preferências de agenciadores das
profissionais do sexo. De acordo com ela, essas mulheres, muitas vezes, não
possuem uma base familiar estruturada, sonhando em conseguir uma vida melhor e
uma oportunidade de melhoria para os parentes mais próximos.
Diferentes realidades
As ‘acompanhantes de luxo’ ainda são realidade distante para
a Associação das Prostitutas e Ex-prostitutas do Amazonas (As Amazonas).
Conforme a presidente do grupo Ana Barata, mais de 1.100 mulheres são
cadastradas na entidade, porém, a maioria cobra valores bem abaixo dos
praticados pelas garotas de temporada. “Por programa, tem algumas que cobram R$
5, mas uma trabalhadora mesmo do ramo cobra R$ 40”, disse Ana que atua no
segmento há 40 anos.
As profissionais que mais se aproximam dos valores cobrados pelas acompanhantes de luxo são as que
trabalham diretamente em boates. “Tem uns locais no bairro Parque 10 (Zona
Centro-Sul de Manaus) em que as garotas chegam a cobrar até R$ 500 por hora. Dá
para ver que são meninas de fora. Meninas de barão e empresários mesmo”,
ressaltou Ana.
Denúncias
Procurados pela reportagem do G1, o Ministério Público
Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) informaram que quaisquer investigações
em relação à possível crimes sexuais só são realizadas pelos órgãos se
atingirem o âmbito internacional.
O departamento de Direitos Humanos da Secretaria de Justiça
do Amazonas (Sejus) explicou que só atua diante de denúncias e que desconhece
alguma proveniente dos sites citados na reportagem.
Fonte: Globo
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