sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Teresa de Ávila e a dimensão humanizadora da espiritualidade cristã

Como mulher, Teresa testemunha um exemplo “para buscar relações mais recíprocas entre homens e mulheres, baseadas no reconhecimento mútuo e na valorização das diferenças; para buscar maior integração das potencialidades femininas, especialmente as de organização e governo; e para deslocar os limites do possível na construção de um ‘outro mundo’”.

No dia 4 de outubro, durante o XIII Simpósio Internacional IHU: Igreja, cultura e sociedade. A semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica, a professora Dra. Lúcia Pedrosa de Pádua, PUC-Rio, ministrará o minicurso O Mistério da Igreja, hoje. Uma leitura a partir de Teresa de Ávila.
Lúcia Pedrosa doutorou-se em Teologia Sistemático-Pastoral, pela Universidade Católica do Rio De Janeiro (PUC-Rio), e realizou pós-doutorado em Teologia da Espiritualidade, pela Pontificia Università Greogoriana de Roma (Itália). É docente na PUC-Rio, atuando nas áreas de Antropologia Teológica, Cristologia, Mística e Espiritualidade. Em 2012, assumiu a função de editora da Revista Atualidade Teológica, do departamento de Teologia da PUC-Rio. Também coordena o Ataendi, Centro de Espiritualidade da Instituição Teresiana no Brasil.
Para Lúcia Pedrosa, conforme entrevista publicada pela IHU On-Line, a principal luz da espiritualidade de Santa Teresa de Ávila é mostrar a dimensão humanizadora da espiritualidade cristã. Trata-se de uma “mulher plenamente humana e toda de Deus”. Lúcia considera que Santa Teresa é um bom testemunho que anima uma maior audácia evangelizadora, com criatividade, justiça, amor e muita humildade.
Teresa de Ávila nasceu em 1515, em Ávila, Castela, e faleceu em 1582. Foi uma freira carmelita espanhola famosa reformadora da ordem das Carmelitas. Canonizada por Gregório XV (1622), é festejada na Espanha em 27 de agosto, e no resto do mundo em 15 de outubro. Foi a primeira mulher a receber o título de Doutora da Igreja, por decreto de Paulo VI (1970).
Sobre a vida e a obra de Teresa e que marcam sua espiritualidade, Lúcia pedrosa destaca quatro fatos importantes: O primeiro, a sua forte experiência de amizade com Jesus Cristo, descrito por ela como Humanidade sagrada. O encontro decisivo com esta realidade do Cristo interpelador e amigo se deu quando Teresa tinha 39 anos e significou para ela uma verdadeira conversão. Mas a experiência se desenvolve, trazendo um progressivo amadurecimento na sua imagem de Deus, que, através da proximidade de Cristo, vai se revelando como amor comprometido com a humanidade. Nessa relação, Teresa passa por uma progressiva transformação de sua vida, opções e afetos. Transformação que faz dela uma mulher muito humana e capaz de amar com coragem e audácia, em meio a conflitos. Outro fato, anterior, é a fuga de casa, aos 19 anos. Teresa vai ao encontro da sua intuição profunda, do que considera o seu chamado, mesmo contra a vontade do pai. O terceiro fato é o início de sua vida como escritora, por volta de 50 anos de idade. Embora já tivesse realizado outros registros escritos, nesta época ela escreve a nova e definitiva redação do Livro da vida e assumirá sua condição de escritora com responsabilidade profética, até o fim de sua vida, aos 67 anos. Por fim, o início das fundações, aos 47 anos (até o fim da sua vida). Nelas, a sua experiência interior se explicita e adquire maior alcance eclesial.
Em 1970, o Papa Paulo VI conferiu a Teresa de Ávila o título de Doutora da Igreja. Mas ela não é reconhecida apenas pela Igreja. A pessoa e o pensamento de Teresa têm reconhecimento também entre ateus e livres pensadores. Segundo Lúcia, “seu êxito junto a ateus e livres-pensadores pode ser buscado na empatia que Teresa estabelece com o leitor de todos os tempos, na relevância e verdade de seus escritos, na sua inquestionável qualidade literária, no interesse histórico de suas valiosas descrições, em sua estatura humana e por apresentar um testemunho impressionante do mistério de Deus atuante na vida humana”.
Como mulher, Teresa testemunha um exemplo “para buscar relações mais recíprocas entre homens e mulheres, baseadas no reconhecimento mútuo e na valorização das diferenças; para buscar maior integração das potencialidades femininas, especialmente as de organização e governo; e para deslocar os limites do possível na construção de um ‘outro mundo’”.
A partir de Teresa de Ávila, uma mulher que viveu no século XVI, implica-se num itinerário espiritual que continua relevante e atual para a espiritualidade contemporânea. Pois, na vida e na obra de Teresa, realça-se a dimensão humanizadora que perpassa a espiritualidade cristã, em que “a busca de Deus significa ao mesmo tempo um encontro com uma forma de ser humano e conformar a vida de maneira cada vez mais livre, autêntica, amorosa, operativa e ética”.

Fonte: Ihu

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