terça-feira, 15 de março de 2016

Feminismo e a violência contra a mulher


A história da mulher é constante luta contra a opressão. As mulheres sempre sofreram todo tipo de constrangimento familiar e social. Foram humilhadas, menosprezadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.

Por Regina Navarro


A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana não acredita que o feminismo deva continuar sua luta. Talvez isso se deva ao fato de muitos imaginarem que feminismo é o machismo na mulher.

De qualquer forma, é impossível não lembrar de vários relatos que ouvi de mulheres a respeito da violência sofrida. Um deles foi o de Márcia.

Ela chegou ansiosa ao meu consultório. Rapidamente fez uma síntese do que está vivendo: “Casei com um sujeito caladão, mas legal. Um dia pedi uma explicação sobre as contas de casa e ele me derrubou com um tapa. Comecei a chorar no chão e ele me estendeu a mão. Quando levantei, me deu outro tapa e falou: deixe as coisas comigo! Daí em diante vivo com medo de que ele me mate. Já levei outros empurrões e puxões de cabelo dele. Eu o odeio, mas não sei o que fazer…”

Esse não é um exemplo pouco habitual. A história da mulher é constante luta contra a opressão. As mulheres sempre sofreram todo tipo de constrangimento familiar e social. Foram humilhadas, menosprezadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.

Após a instalação do patriarcado – sistema de dominação do homem – há cinco mil anos – a mulher adquiriu o status de mercadoria, podendo ser comprada, vendida ou trocada.

Nesse sistema as mulheres são consideradas inferiores aos homens e, por conseguinte, subordinadas à sua dominação. Superior/inferior, dominador/dominado. A ideologia patriarcal dividiu a humanidade em duas metades, acarretando desastrosas consequências.

É evidente que a maneira como as relações entre homens e mulheres se estruturam — dominação ou parceria — tem implicações decisivas para nossas vidas pessoais e para nossos papéis cotidianos.

Durante muito tempo afirmaram que as mulheres têm cérebro úmido, responsável por suas deficiências. O cérebro seco do homem explicaria seu juízo superior. A mulher era obrigada a obedecer ao marido em tudo, contanto que ele não ordenasse algo que pudesse violar as Leis Divinas.

Na Idade Média, o marido tinha o direito e o dever de punir a esposa e de espancá-la para impedir “mau comportamento” ou para mostrar-lhe que era superior a ela. Até o tamanho do bastão usado para surrá-la tinha uma medida estabelecida. Se não fossem quebrados ossos ou a fisionomia da esposa não ficasse seriamente prejudicada, estava tudo certo.

O espancamento legal das esposas não desapareceu com a Idade Média. Foi praticado em muitos lugares no século 19 e, mesmo depois, quando passou a ser proibido por lei, continuou a existir entre todas as classes sociais.

No final da Idade Média, o estupro coletivo de mulheres era aceito. Havia muitos jovens solteiros nas cidades, que se reuniam numa associação da juventude, com um chefe à sua frente. Era um bando, institucionalizado. Existia apenas uma dessas em cada cidade, e ela tinha alguns privilégios. Assim, esses jovens podiam liberar sua libido na cidade mesmo. Eles eram autorizados a isso. As mulheres em situação marginal, mal integradas à família, eram as principais vítimas.

Os progressivos direitos adquiridos pelas mulheres são resultado de muitos anos de luta. O século 20 é marco do início da participação efetiva das mulheres na sociedade.

Simone De Beauvoir publica, em 1949, O Segundo Sexo, obra seminal do movimento feminista, que começa efetivamente, em 1966, nos EUA, com a Organização Nacional das Mulheres. Em 1963, Betty Friedan lança The feminine mystique (A mística feminina), estudo em que analisa o vazio na mulher “dona-de-casa”.

O movimento feminista foi fundamental para a liberação da mulher e suas conquistas na sociedade. Os acontecimentos de 1968 lhe deram um inegável impulso e essa luta deve continuar.

“Num nível mais profundo, o êxito do feminismo está relacionado com a reivindicação de igualdade total entre as mulheres e os homens. Trata-se de uma luta contra as discriminações sexistas, que encontra grande repercussão, entre as quais se impõe como uma evidência: não é pelo fato de ser mulher que se deve fazer isso e evitar aquilo; o sexo, por si só, não impõe nenhum comportamento específico. Os papéis sexuais devem deixar de existir: eles impedem que a pessoa se afirme e se expresse.”, diz o historiador francês Antoine Prost.

Contudo, hoje, as mulheres ainda são vítimas de agressões físicas. Estima-se que nos Estados Unidos a violência ocorra em mais de três milhões de lares! A mulher americana é mais vítima de agressões físicas em casa do que de acidentes de carro, assaltos e câncer somados.

No Brasil os índices de violência contra a mulher também são assustadores.

— A cada quatro horas uma mulher é assassinada antes de completar 30 anos.

— Dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo a maioria desses crimes (33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Isso significa que a cada sete feminicídios, quatro foram praticados por pessoas que tiveram ou tinham relações íntimas de afeto com a mulher.

— Segundo a última pesquisa DataSenado sobre violência doméstica e familiar (2015), uma em cada cinco mulheres já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex.

— Um estupro acontece a cada 10 minutos, aponta Anuário Brasileiro de Segurança Pública

— Estudo com mais de 2.300 mulheres de 14 a 24 anos, das classes C, D e E, mostra como a violência contra as mulheres e o machismo atingem as jovens de periferia. Os números levantados pelo estudo mostram que 74% das entrevistadas afirmam ter recebido um tratamento diferente em sua criação, por serem mulheres; 90% dizem que deixaram de fazer alguma coisa por medo da violência, como usar determinadas roupas e frequentar espaços públicos; e 77% acham que o machismo afetou seu desenvolvimento.

— Dados do Ligue 180 revelam que a violência contra mulheres acontece com frequência e na frente dos filhos
A questão é que quase todos os homens que agridem suas mulheres acreditam ter esse direito. E o incrível é que parece existir mesmo uma permissão da sociedade para isso, o que fica claro com o resultado da enquete.

Mas nem tudo está perdido. Apesar de os conservadores tentarem limitar os avanços do Movimento Feminista, ele se consolida cada vez mais nos países ocidentais. O caminho para uma igualdade entre homens e mulheres ainda é longo, mas as mudanças são irreversíveis.

Em várias partes do mundo os homens já demonstram insatisfação em ter que corresponder ao que deles se espera – força, sucesso, poder – e discutem cada vez mais a desconstrução do masculino, fazendo a mesma pergunta feita por John Lennon: “Não está na hora de destruirmos a ética do macho?… A que nos levaram todos esses milhares de anos?”

Fonte: http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/

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