quarta-feira, 2 de março de 2016

Crise atinge até mercado do sexo no Distrito Federal; garotas de programa dão descontos.

É quase fim de tarde, e Sandra ainda não atendeu um cliente. Sentada na escada, ela mexe no celular para passar o tempo. Espera a chuva, o frio e a crise irem embora. Há tempos, a garota de programa não vê o antigo hotel, no centro de Taguatinga, tão vazio. “Está muito difícil. O mercado está parado. Não é mais como antigamente. Estamos até fazendo desconto para ver se o cliente fica”, conta a mulher de 31 anos. Para ela, 2015 foi o ano menos lucrativo desde que entrou para o mercado do sexo, há nove anos. “A crise atingiu a todos”, salienta.


Sandra lembra que, há dois anos, conseguia lucrar, no mínimo, R$ 6 mil por mês. Agora, lamenta: “Se eu faço R$ 3,5 mil é muito”. Segundo a garota de programa, os clientes estão sem dinheiro e pedem descontos. E, para não perder freguês, ela negocia: “Se for cliente antigo, faço mais barato. Por exemplo, normalmente, são R$ 65, com quarto no hotel, por uma hora. Se for uma pessoa antiga, amiga, digamos assim, tenho feito por até R$ 50. O que não dá é para perder os clientes”.

Site de acompanhantes

E na tentativa de não ficar para trás no mercado, Sandra apelou para sites que oferecem acompanhantes. Mas, para ela, não deu certo. “Eu estava em um que nos oferecia só R$ 50. Só que, em site, acaba saindo mais caro, porque tem o táxi, o motel. Mas eles insistiam em dar só R$ 50 . Então, saí de lá, tirei meu perfil”, fala. O jeito foi voltar para as ruas, onde, segundo ela, perde-se menos dinheiro. “Aqui não tem no que gastar. O que vem é só para mim”, diz.

Apesar de não haver dados oficiais revelando o quanto as profissionais desse mercado foram afetadas pela crise econômica, fato é que Sandra não é a única a reclamar. Quem está começando assegura que o mau momento econômico do País está, sim, afetando a libido dos brasileiros. “Os clientes preferem ‘carne nova’ e, mesmo assim, está bem complicado. Faz uns dois meses que comecei e, sinceramente, não sei se vou conseguir juntar dinheiro como queria”, desabafa Letícia, 29 anos.

Natural de Goiás, a garota de programa conta que “Brasília tinha fama de ser um bom lugar para esse serviço”. Mas, por enquanto, a capital não a impressionou. “Esperava mais. Vim para cá achando que tiraria, pelo menos, R$ 5 mil. Meu máximo foram R$ 4 mil”, revela. Diferente de Sandra, ela não faz descontos. “A gente deve ser mais exigente. Ou tem ou não tem”, opina a acompanhante, que oferece seus serviços por meio de sites.

Anúncios em sites e jornais e cartão de crédito

Outra garota de programa, que também trabalha por meio da internet, conta que “a clientela está mais reservada”. Segundo Mariana, de 38 anos, “as pessoas não estão mais querendo gastar com sexo. Querem pechinchar”, conta. Com os descontos, revela, o maior problema é que elas perdem valor de mercado. “Se a gente não ceder, acaba ficando sem. Mas tem cliente que quer descer tão baixo que, se cedermos, fazemos de graça. A crise realmente nos afetou”, completa.

Para competir e não perder clientes, conta Mariana, o jeito foi colocar anúncios em sites e jornais. “Ou passar no cartão de crédito. Isso foi uma opção boa para mim”, revela. Os preços variam de R$ 150 até R$ 1 mil. “ A gente tem que se virar. Antes, eram R$ 2 mil determinado programa. Hoje, é mais barato. Tenho um agente que faz divulgação em sites, pelo Whatsapp. A gente procura diversificar”, ressalta.

Segundo a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), Cida Vieira, apesar de 2015 ter sido um ano de conquistas para a categoria, a crise atingiu bastante o mercado do sexo. “Enfrentamos desafios e, para superar, investimos em parcerias como o uso da máquina de cartão de crédito. Hoje, um programa pode ser parcelado também, já facilita”, aponta.  Em Minas, ela conta que há semanas promocionais. “A gente orienta as meninas a negociarem. Os dias de desconto atraem mais clientes”, explica. Mas, para ela, não dá para acompanhar a inflação e o aumento de gastos.

Sex shops lançam novos produtos
Uma outra área dentro do mercado do sexo também teve que se reinventar para enfrentar a crise sem perder a margem de lucro: os sex shops. De acordo com a presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), Paula Aguiar, em 2015, o ramo conseguiu ultrapassar, pelo menos, 3% de crescimento, o que é positivo diante do cenário do País.
 “Nós usamos a criatividade em 2015. Foram criados muitos produtos novos, inspirados no filme Cinquenta tons de cinza. Teve ainda a linha evangélica. Essa nova categoria de produtos comestíveis eróticos, com pó, bebidas e gotas, também deu uma reacendida”, conta.
Para ela, justamente por conta da crise, muitos casais precisaram “fazer as pazes” durante o ano. Por isso, o setor investiu na reconciliação dessas pessoas. “Quando tem crise, há muito divórcio. Nós investimos para apoiar os casais nesse momento, preservando a intimidade e os ajudando a esquecer os problemas”, salienta a presidente da associação, Paula Aguiar.
Vendas online
 Para ela, o trabalho na internet também ajudou a salvar o ramo. “As revendedoras dos produtos focaram em vendas online. Isso foi relevante. Tivemos também um importante lançamento do energético erótico. Ele está fazendo muito sucesso e aumentou bastante as vendas do ano passado”, diz.
A linha comestível erótica, destaca, foi a que mais vendeu em 2015. “Tivemos crescimento de 120% entre 2013 e 2015 nessa categoria de produto”, aponta.
Lojistas usam criatividade para crescer
Mesmo com os números oficiais apontando um crescimento na área dos sex shops no Distrito Federal, quem está dentro das lojas assegura que o ano não foi tão fácil assim e que perdeu, em termos de lucro, para 2014.
“Eu esperava mais. No Natal, por exemplo, tinha uma expectativa maior de vendas. Continuamos vendendo, sim, especialmente esses produtos menores, como géis, óleos, entre outros”, afirma Grazi Freire, de 30 anos, proprietária de uma boutique sensual no Sudoeste.
Alternativas
 Segundo a empresária, o jeito foi investir também na criatividade. Aí, começaram as vendas online.
 “Comecei a oferecer os produtos em um site e isso ajudou bastante. Além disso, faço chá de lingerie na própria loja. Comecei a focar mesmo em eventos. E, graças a Deus, deu certo”, comemora.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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