segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

E se os homens fossem tratados como são tratadas as mulheres no dia-a-dia? :Filme mostra mundo em que homens são assediados por mulheres

Pierre vive na França. Em um dia de calor, andando de bicicleta, decide desabotoar o topo da camisa. Ao parar no semáforo, uma mulher o provoca. Ele não dá atenção: “Pensa que eu não te vi rebolando pra mim”, diz a garota, irritada. Pierre foge correndo.


O simpático e gordinho Pierre é o personagem principal do curta-metragem francês Maioria Oprimida. Com dez minutos de duração, o filme propõe um exercício de imaginação para discutir um problema sério. Em um mundo fictício, as mulheres assumiram hábitos e discursos masculinos. Pierre e seus amigos, por sua vez, são alvo de cantadas, ofensas e outras violências, como as mulheres nas ruas do nosso mundo real.  Os amigos de Pierre são obrigados a se depilar – porque as esposas preferem o rosto liso - cuidam das crianças enquanto elas trabalham e são desrespeitados pelas vizinhas de apartamento. Há menos de uma semana no ar, a versão com legendas em inglês já foi vista mais de dois milhões de vezes.
O curta é obra da diretora francesa Eléonore Pourriat. Atriz, diretora e roteirista, Pourriat produz trabalhos sobretudo para a TV francesa. Lançou o curta há cinco anos, sem grande sucesso. O filme ganhou um prêmio em um festival em Kieve, sem provocar  alarde. Começou a chamar real atenção agora: “Meu filme faz sucesso agora por que certos direitos estão ameaçados. É como uma maré negra”, disse a diretora ao jornal britânico The Guardian. “As mulheres na França, e não só na França, sentem que o sexismo já durou tempo de mais”, afirmou em entrevista ao jornal The Independent.

As cantadas ofendem
O vídeo de Pourriat começa irônico, e até bem-humorado. Mas não foi feito para provocar riso. Poucos quarteirões depois da provocação no semáforo, Pierre é acuado em um beco deserto.  É violentado por um grupo de garotas. Na delegacia, as policiais põem em dúvida seu depoimento: “Em plena luz do dia, e sem nenhuma testemunha...”. Quando se queixa da sociedade matriarcal em que vive, acaba brigando com a esposa, que já não suporta suas “bobagens masculinistas”: “Olha só para a maneira como você se veste”, ela responde.

Encadeados em uma sequência de poucos minutos, esses acontecimentos podem fazer a história soar exagerada. Não é. Violência, física ou verbal, é algo que faz parte do cotidiano de milhões de mulheres, no Brasil e no resto do mundo.  Aqui, segundo dados do Fórum de Segurança Pública, o número de estupros ultrapassa o de homicídios. Em uma pesquisa realizada pelo site Think Olga e publicada por Época em 2013, 99% das mais de 8 mil mulheres que responderam disseram já ter sofrido algum tipo de constrangimento – como uma cantada – ao andar nas ruas. Aquilo que pode soar como um elogio para alguns homens, tem efeito inverso. Constrange, causa raiva e medo.

O sucesso do filme chamou atenção para a diretora, entrevistada por importantes jornais. Mas desagradou muita gente: ao The Guardian, Pourriat contou que, desde que o vídeo viralizou, passou a receber mensagens ofensivas e ameaçadoras. Um blogueiro francês riu do filme e disse que adoraria viver em uma realidade como aquela, sendo constantemente assediado por mulheres. Pourriat não se importou e continua a trabalhar. Prepara um novo filme, dessa vez sobre depilação íntima feminina. Por meio da ficção, tenta demonstrar o absurdo da violência cotidiana contra mulheres. Tão corriqueira que parece mentira.

Fonte: Revista Epoca

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