Neste ano meu Natal vai ser diferente. Meu menino Jesus fugiu do presépio e ganhou
as ruas. Dizem que estava cansado de ser
adorado estaticamente – pior ainda – por
amor velho e sem vida. Dizem que antes
de sair falou a todos que não vê razão
para que a cada ano os homens aproximem
mais a manjedoura da cruz.
Antes de sair, teve o cuidado de colocar no lixo todas as
grandes caixas muito bem embrulhadas que havia perto de minha arvore de natal.
Talvez tenha o feito para que entendesse que o verdadeiro presente é a vida.
Sem que ninguém entendesse muito bem - também desligou
aquela musiquinha enfadonha natalina e deixou tocando a musica do Gonzaguinha
que diz assim...eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é
bonita, e é bonita.
Sai então a sua procura. Foi de grande proveito para meu
Natal esta caminhada. Não me parecia tarefa difícil encontra-lo – ao final de
contas tinha todas as pistas do mundo – tudo bem que meio esquecidas pela mesa
farta e esta coisa de festa meio carnavalesca.
Guiei-me por algo que dizia assim: Tive sede, me deste água:
Tive doente, me cuidastes, tive preso e foste me visitar. E ai sai pelo mundo –
vendo que na verdade a festa do Natal não estava na minha casa.
Que Natal minha gente!
Ao invés daquele Jesus branquinho de presépio – fui
encontrando tantas outros meninos de tantas cores nascendo sem ter lugar para
nascer. Um show de milagres por todos os lados – alegria e vida onde nem de
longe as coisas do Natal dos homens passa por perto.
Olha a vida gente !
Por toda parte gente que morre de sede das coisas desta
terra – bebe muito mais da água da vida do que eu – estes vivem o Natal e eu
apenas o comemoro.
Por entre os doentes – encontrei a fé verdadeira e a crença
de que a vida vai mais longe – mesmo com tantos problemas.
E muitas horas se passaram e eu não sabia onde encontrar meu
Menino Jesus – apenas notava que estas horas na verdade significavam os anos da
minha vida – anos de aceitação de uma fé fácil e sem consistência – uma fé
comercial – com mês, dia e hora.
Por conta disso sei apenas que andei pelas muitas Nazarés de
nosso tempo – e tive vergonha do meu pequeno – em todos sentidos – presépio.
Era tarde quando voltei para casa. Não achei o Jesus do meu
presépio – mas com certeza encontrei o Deus do meu coração.
Ah Meu Deus! O Jesus do meu presépio mal nasceu e já
ressuscitou!
(Cosmo Palasio de Moraes Jr.)
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