Gangues locais e internacionais têm crescentemente se envolvido em esquemas de tráfico de pessoas por causa do baixo risco e dos altos ganhos, conforme confirma o relatório. Trafficantes têm alcançado mais vítimas e clientes por meio de recrutamentos e de anuncios online.
Entre meados de 2010 a meados de 2012, forças tarefas de
combate ao tráfico de pessoas de nove regiões da Califórnia, nos Estados
Unidos, identificaram 1.277 vítimas, iniciaram 2.522 investigações e prenderam
um total de 1.798 envolvidos. Os dados fazem parte do relatório relativo ao
tema lançado semana passada pela Procuradoria-Geral do Estado norte-americano.
Segundo o mesmo documento, a Califórnia é um dos quatro Estados que recebem
maior quantidade de vítimas de tráfico de pessoas.
No relatório, a procuradora-geral Kamala Harris destaca que
o tráfico de seres humanos é um dos empreendimentos criminosos que mais crescem
no mundo, com movimento estimado de US$ 32 bilhões por ano. "Depois do
tráfico de drogas, o tráfico de pessoas é a segunda atividade criminosa mais
lucrativa do mundo, uma condição que divide com o tráfico ilegal de armas.
Assim como o tráfico de drogas e de armas, os Estados Unidos são um dos
destinos mais frequentes de tráfico de seres humanos", realça a
procuradora-geral. "Os perpetradores do tráfico de pessoas têm se tornado
cada vez mais sofisticados e organizados, o que requer uma igualmente
sofisticada e organizada resposta de todos os parceiros sociais para garantir
que a lei seja cumprida com vistas a romper e a desmantelar as redes
criminosas".
Gangues locais e internacionais têm crescentemente se
envolvido em esquemas de tráfico de pessoas por causa do baixo risco e dos
altos ganhos, conforme confirma o relatório. Trafficantes têm alcançado mais
vítimas e clientes por meio de recrutamentos e de anuncios online. "A
tecnologia está disponível também para melhor identificar, alcançar e servir as
vítimas", pontua o documento. "Instrumentos como mensagens
desencadeadas por termos de procura, widgets [componentes de interface gráfica
com o usuário] em websites e códigos de textos curtos permitem que grupos
encontrem vítimas pela internet, que estas últimas sejam conectadas a serviços
de assistência, e que possam encorajar o público geral a denunciar o tráfico de
pessoas".
Um dos dados mais surpreendentes do relatório californiano
diz respeito à origem das vítimas identificadas entre meados de 2010 a meados
de 2012: 72%, ou seja, praticamente três a cada quatro vítimas eram
norte-americanas, contrariando a percepção de que a maioria vêm do estrangeiro.
Ainda segundo o documento, o tráfico para fins de trabalho
escravo é subnotificado e ainda tende a ser menos investigado se comparado ao
tráfico para fins de exploração sexual. Cerca de 56% das vítimas assistidas
pelas forças-tarefa da Califórnia estavam vinculadas a casos de tráfico para
fins de exploração sexual. No entanto, datos de fontes apontam uma proporção de
que a ocorrência de tráfico para fins de trabalho escravo contemporâneo seja
3,5 vezes maior que casos referentes à exploração sexual, em nível mundial.
Para além da necessidade de reforçar as estratégias para o
cumprimento da lei, o professor de Direito da Universidade de Califórnia
(Davis), Kevin R. Johnson, reforçou, em comentário publicado em seu blog, a
necessidade de reformar as leis de imigração para trabalhadores de baixa ou
média formação, de forma significativa, coerente e compreensível. Tal medida,
segundo ele, poderia ajudar a reduzir o mercado dos traficantes.
Ao longo dos dois últimos anos, cerca de 26 mil pessoas (dos
mais diversos setores, como servidores públicos, asistentes sociais e
procuradores) receberam treinamento na Califórnia para enfrentar o tráfico de
pessoas.
A Califórnia também aprovou uma lei que obriga empresas de
grande porte que atuam no Estado a disponibilizar publicamente as políticas que
vêm (ou não) adotando para combater trabalho escravo e tráfico de pessoas em
suas cadeias produtivas. A medida é aplicada a companhias com faturamento bruto
de mais de US$ 100 milhões e abrange cerca de 3 mil companhias.
Fonte: Reporter Brasil
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